29 Agosto 2017
Depois de morrer, que tal voltar à vida na forma de um avatar?
Seu fantasma digital poderia logar no Facebook e entrar em uma discussão animada sobre o seriado Friends, ou fazer postagens no Instagram lembrando daquela viagem de carro pela Itália que você fez com um(a) ex.
A reportagem é de Suzanne Bearne, publicada por BBC Brasil, 27-08-2017.
Ter uma sobrevida digital pode parecer estranho - tema de um possível episódio da série Black Mirror, talvez - mas algumas startups estão investindo tempo e dinheiro nesse conceito. E apostam que a indústria da morte deve ser sacudida por essa tendência em breve.
A empresa Eternime, por exemplo, planeja combinar suas pegadas online - tudo que você já postou nas redes sociais, seus pensamentos, fotos do seu smartphone e todo o resto - com inteligência artificial para criar uma versão digital de você mesmo.
Esse representante digital poderia interagir com seus entes queridos - e seus descendentes - muito depois da sua morte.
"Dependendo dos fatos coletados, o avatar poderá oferecer qualquer coisa, desde dados biográficos básicos até ter um papo envolvente", diz Marius Ursache, fundador da Eternime.
O produto deve ser lançado no próximo ano e, de acordo com a Eternime, mais de 37 mil pessoas já se cadastraram no serviço.
Se você acha que ter essa versão digital pode ser um pouco demais - senão assustador -, pode optar por criar algumas mensagens para que sejam publicadas nas redes sociais depois da sua morte por meio do DeadSocial.org.
Mas, para evitar sustos, pode ser melhor contar suas intenções às pessoas mais próximas.
Falando de uma forma pragmática, a tecnologia já está ajudando as pessoas a organizar seus funerais antes mesmo de morrer.
Moradora de Los Angeles, a consultora de viagens Rebekah Doran tem apenas 28 anos, mas já planejou o seu com uma empresa chamada Cake.
Na ocasião, serão servidos frango e waffles acompanhados de vinho francês aos convidados - como trilha sonora, será tocado música folk.
"Ter um plano para o fim da vida é ainda mais importante para os jovens porque, caso o impensável aconteça, somos o grupo com menor probabilidade de estar preparado", diz ela.
A companhia Cake, com base em Boston, permite que seus clientes programem suas preferências para o fim da vida, desde o funeral até o que acontece com sua página no Facebook. Toda informação é guardada na nuvem ou compartilhada com família e amigos.
"Como parte das gerações de nativos digitais, é inevitável que as pessoas busquem uma solução para o planejamento do fim de suas vidas", diz a cofundadora da Cake, Suelin Chen.
"Os planos para o fim da vida são exatamente o tipo de informação que você quer manter com segurança na nuvem, onde eles podem ser acessados e atualizados de qualquer lugar, e não apenas pedaços de papel guardados em uma gaveta em algum lugar", acrescenta.
Os negócios em torno da morte de modo geral não eram conhecidos pela sua inovação tecnológica.
Sim, temos a possibilidade de jogar nossas cinzas no espaço e de usar caixões e urnas biodegradáveis (algumas contendo sementes), mas um número crescente de startups por todo o mundo acredita que essa indústria precisa ser sacudida.
No Brasil, o mercado funerário fatura R$ 7 bilhões por ano com aproximadamente 5,5 mil funerárias, de acordo com o Sindicato dos Cemitérios Particulares do Brasil (Sincep).
No Reino Unido, duas empresas - Cooperativa Funeralcare e Dignity - dominam o mercado de funerais de 1,7 bilhão de libras (R$ 6,8 bilhões) com fatias de 25,2% e 18,4%, respectivamente.
Isso é ruim para a competição no mercado, pensou a Funeralbooker, empresa que então desenvolveu um serviço para comparar os preços dos funerais por todo o Reino Unido.
"Até lançarmos o serviço, havia zero transparência dos preços online", diz o executivo-chefe da Funeralbooker, Ian Strang.
"A única maneira de você comparar os preços era virar a cidade e barganhar com vários agentes funerários, cada um com um esquema diferente de valores."
A Funeralbooker não apenas permite que os seus clientes paguem pelo serviço no conforto do lar, diz ele, mas também dá a oportunidade a agentes funerários independentes de ter "uma presença coletiva online para contrabalancear o poder aquisitivo das grandes cadeias".
Desde que a empresa foi lançada, em novembro, "vários milhares" de pessoas usaram o serviço, diz Strang.
Nos Estados Unidos, o site Parting oferece uma busca de funerárias por código postal, enquanto em Estocolmo a planejadora online de funerais Fenix organiza cerimônias em toda a Suécia pela internet ou por telefone.
Um serviço de testamento online pode ser uma 'ferramenta pragmática de organização', diz Alice Walsh.
Fazer um testamento também é uma dessas tarefas que muitos de nós adiamos.
Mas Alice Walsh, de 37 anos, usou o Farewill, um site que oferece a preparação de um testamento e serviços para planejar um funeral por apenas 50 libras (R$ 200).
"Meu marido e eu planejamos fazer um testamento há cinco anos, mas nunca conseguimos", diz ela, que administra sua marca de acessórios e joias.
"Se eu estou satisfeita administrando minha conta bancária na internet, fazendo compras na internet e tocando meu negócio na internet, então ter meu testamento online é algo óbvio", explica.
Claro, esses serviços de preparação simples e online de testamentos pode não ser apropriada para pessoas em estados complexos de saúde e crianças de múltiplos casamentos, mas, como diz Walsh, no seu caso isso ajudou a riscar uma tarefa desagradável de sua lista de maneira rápida e fácil.
Dan Garrett, fundador e executivo-chefe da Farewill, diz que um de seus clientes "insistiu que sua mulher usasse crocs verdes em seu funeral, já que ela os odeia tanto".
"Para mim, isso é amor de verdade, o tipo de desejo após a morte que faz você rir e chorar ao mesmo tempo quando você lida com ele na vida real", diz ele.
De funerais ao vivo até avatares digitais pós-vida, está claro que a tecnologia está se infiltrando até mesmo nos setores considerados mais sem graça.
"A tecnologia está chegando e tornando a indústria mais transparente em vários sentidos, desde encontrar um agente funerário até a reflexão sobre o fim da vida", diz Louise Winter, agente funerária da empresa de funerais Poetic Endings, em Londres, e ex-editora do Good Funeral Guide ("Guia do Bom Funeral").
Mas ela acredita que é preciso inovar ainda mais. Strang concorda. "Outros setores, como saúde e inteligência artificial, são mais interessantes para investidores no momento", diz.
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Velório online e avatar pós-vida: as startups que querem revolucionar a indústria da morte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU