17 Julho 2009
"Não acredito mais na generosidade e nos bilhões do G8. Nesta fase em que os próprios países ricos estão em plena tempestade, seria mais útil admitir os erros passados na cooperação com a África e tentar uma mudança de rota nas relações recíprocas". Essa é dura a opinião de Aminata Traoré, ex-ministra da Cultura de Mali e há muito tempo entre as vozes emblemáticas da África em busca de resgate.
Diante do G8, tenho uma impressão de "déjà vu". No entanto, muitos países africanos atravessam uma fase extremamente grave. Ainda mais do que o dinheiro, é preciso uma outra forma de cooperação. Diante da crise econômica em curso, muitos africanos não compreendem por que os países mais industrializados continuam se recusando a corrigir o seu modelo econômico. Porém, já está claro que a política de cooperação do passado provocou muitas vezes mais problemas do que os que deveria resolver.
O problema não é tanto acumular ajudas velhas e novas, mas o paradigma que eles ofereceram. Como contrapartida das ajudas e em nome de uma concepção absoluta ou extremamente rígida do mercado, foi pedido que muitos Estados desmantelassem os serviços públicos e privatizassem diversos setores, favorecendo assim as multinacionais. Mas as chamadas reformas acabaram, em muitos casos, com a extensão ainda maior da miséria das pessoas.
O dinheiro prometido nessas cúpulas tem o sabor amargo de uma esmola que não resolve as distorções de fundo das relações entre o Norte e a África. Posso dizer que cresce na África um certo cansaço também com relação aos apelos de estrelas como Bono [Vox] ou [Bob] Geldof. Não basta choramingar sobre as vítimas, se depois não se fala das causas reais dos males, dentre os quais a renúncia dos Estados africanos à sua soberania em muitos setores. Aquilo que muitos africanos pedem hoje aos seus dirigentes é que tomem nas mãos as suas responsabilidades e que não liquidem com as riquezas nacionais em troca de um prato de lentilhas.
(cfr. noticia do dia 17-07-09, desta página).
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"Chega de esmola. É preciso mudar o modelo de desenvolvimento" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU