04 Dezembro 2025
O Instagram e o TikTok estão dando destaque às três "Avós Goldstein" austríacas que alcançaram 150 mil seguidores: elas foram aposentadas e transferidas para um lar de idosos.
A informação é de Federica Angeli, publicada por La Repubblica, 03-12-2025.
Elas não eram ativistas, não eram influenciadoras, nunca tinham usado redes sociais na vida. No entanto, em poucas semanas, três freiras austríacas octogenárias conseguiram transformar uma disputa interna da Igreja em uma questão diplomática que acabou na mesa da Santa Sé.
As protagonistas
Aconteceu em Elsbethen, perto de Salzburgo. As protagonistas: Irmã Bernadette (88 anos), Irmã Regina (86 anos) e Irmã Rita (82 anos). Depois de serem transferidas para um lar de idosos sem o seu consentimento, as três freiras decidiram voltar ao convento onde viveram durante décadas. E a partir desse momento, nada foi como antes.
A decisão e a fuga
O Mosteiro de Goldenstein, um convento do século XIX que fora lar e local de trabalho das três freiras, estava agora vazio. As freiras, as últimas representantes das Cônegas Hospitalárias Regulares da Misericórdia de Jesus na Áustria, ficaram sozinhas.
Em 2024, seu superior, o reitor Markus Grasl, declarou o local inadequado para pessoas da idade delas e decidiu transferi-las para um lar de idosos. Uma decisão que as freiras chamaram de "exílio forçado", aceita sem questionamentos. "Antes de morrer naquele lar de idosos, prefiro ir para um prado e entrar na eternidade", disse a Irmã Bernadette à BBC. Em setembro de 2025, o ponto de virada: com a ajuda de ex-alunos, moradores locais e até mesmo um chaveiro, as freiras retornaram ao convento arrombando a porta.
Emprego e o efeito social
Uma vez lá dentro, elas restabeleceram o fornecimento de água e eletricidade com geradores, estocaram alimentos e medicamentos e reorganizaram o espaço. Então, decidiram compartilhar tudo no Instagram. Seus vídeos, inicialmente em alemão e depois em inglês, mostram orações, refeições compartilhadas e a subida de escadas sem ajuda. Mas, acima de tudo, transmitiram uma mensagem clara: elas não queriam ir embora. Em poucos dias, seu perfil ultrapassou 170 mil seguidores (hoje, são 239 mil). Jornalistas, curiosos e ex-alunos apareceram em massa. E, principalmente, chegou ajuda concreta: comida, remédios, atendimento médico e assistência jurídica gratuita. As freiras escreveram: "As redes sociais são nossa única proteção".
A mediação falhou
O reitor Grasl, inicialmente muito crítico, falou em uma "violação do voto de obediência". Ele então propôs um acordo: as freiras poderiam permanecer no convento "até segunda ordem", com assistência médica e reformas, desde que fechassem seus perfis nas redes sociais e renunciassem a qualquer ação judicial. As freiras recusaram. Elas chamaram a proposta de "contrato restritivo" e contestaram a cláusula de silêncio digital, acreditando que era uma forma de privá-las de toda proteção. O caso foi, portanto, encaminhado diretamente ao Vaticano.
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Religião e algoritmo
A questão não é mais simplesmente onde três freiras idosas devem morar. A questão é como a Igreja pode gerenciar uma disputa na qual o algoritmo se torna um fator de poder. O caso Goldenstein demonstra uma transformação: figuras inseridas em uma hierarquia rígida — obediência, silêncio, comunicação filtrada — repentinamente adquirem visibilidade autônoma e incontrolável nas redes sociais. Padres e freiras influenciadores com canais no YouTube não são novidade. Mas nunca antes a viralização se tornou uma ferramenta de pressão institucional.
Um precedente que permanecerá
Independentemente da decisão do Vaticano, a história da Irmã Bernadette, da Irmã Regina e da Irmã Rita marca um ponto sem retorno. É o primeiro caso em que um conflito dentro da Igreja é amplificado, noticiado e até negociado através das redes sociais. É a primeira crise eclesiástica da era das redes sociais, e provavelmente não será a última.
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