15 Julho 2023
Assim que a ordem de exílio foi ouvida, todos foram feitos prisioneiros. Eles não podiam fazer mais do que obedecer docilmente às indicações.
A reportagem é de Andrés Martínez Esteban, publicada por El Debate, 13-07-2023.
No próximo dia 31 de julho, completam-se 250 anos da supressão da Companhia de Jesus. Foi o fim de um processo que havia começado anos antes, primeiro com a expulsão dos jesuítas de Portugal, depois da França e, por último, da Espanha.
O mais transcendente foi, sem dúvida, que uma das ordens religiosas mais importantes e com maior força evangelizadora desaparecia da Igreja. No entanto, passou quase despercebido o exílio que os jesuítas tiveram que enfrentar ao abandonar suas casas.
Conhecemos várias narrativas sobre a expulsão dos jesuítas. Uma delas é o relato manuscrito do jesuíta Blas Larraz. Trata-se de um relato extremamente realista que permite descobrir o drama vivido por aqueles homens. Larraz narra como, assim que ouviram a ordem de exílio, todos foram feitos prisioneiros. Eles não podiam fazer mais do que obedecer docilmente às indicações recebidas.
Os jesuítas da Província de Aragão tiveram de se reunir no porto de Tarragona. Depois de recolherem seus pertences pessoais, partiram em vários carros escoltados por soldados. Quando passavam por uma cidade, as pessoas se aglomeravam para ver os religiosos passarem. As pessoas perguntavam: "Qual crime eles cometeram? Eram culpados?" Houve algumas cenas dramáticas: mulheres chorando, mostrando compaixão por aqueles homens que partiam para o exílio. Alguns dos jesuítas abençoavam a população ali concentrada.
Em 27-04-1767, pouco mais de quinhentos religiosos embarcaram em Salou, em uma frota composta por treze navios. Eles seguiram direto para Mallorca, onde se uniram a outro grupo das Ilhas Baleares, e partiram daqui para Civitavecchia, local indicado por Carlos III para os exilados.
Em poucos dias, avistaram o porto. Larraz conta como nos rostos dos jesuítas houve um gesto de esperança. Eles desejavam desembarcar e ir o mais rápido possível a Roma, a cidade que idealizavam como centro da cristandade, para prestar homenagem ao papa. A surpresa chegou quando os canhões do porto, por meio de disparos direcionados aos navios, avisaram que eles não poderiam desembarcar ali. Clemente XIII, para manifestar sua oposição à decisão de Carlos III, estava disposto a não admitir os jesuítas. O almirante da frota enviou uma mensagem urgente a Madri para saber o que deveria fazer com os jesuítas, onde deveria deixá-los. Enquanto esperavam por uma resposta, conseguiram desembarcar na Córsega, que então pertencia ao reino de Gênova.
A partir dessa ilha, eles iniciaram uma jornada por diversos portos do Mediterrâneo. O calor, a escassez de alimentos e o mau cheiro dentro do navio se tornaram cada vez mais insuportáveis. Após muitas e variadas peripécias, o almirante decidiu abandonar os jesuítas em um pequeno porto chamado Bonifácio, também na ilha da Córsega. Era 04-09-1767, quatro meses após partirem da Espanha.
Bonifácio era uma cidade muito pequena, inóspita e sem recursos para a sobrevivência. No entanto, os jesuítas se organizaram. Com o lema "virtude e letras", eles se dedicaram à vida de piedade, aos exercícios espirituais e aos estudos. Foram iniciados cursos de humanidades, filosofia e teologia, frequentados pelos mais jovens. Os adultos organizaram uma espécie de academia que tornava o exílio menos penoso, apesar da falta de livros. Enquanto isso, uma intensa negociação diplomática estava em andamento entre Espanha, Gênova e o Vaticano, para encontrar uma solução para a situação. Finalmente, em 18-10-1768, Clemente XIII os admitiu nos Estados Vaticanos.
Meses depois, o geral da Companhia, Lorenzo Ricci, escreveu uma nova carta de tribulação para todos os membros da ordem. A primeira carta foi escrita em 26-09-1758. Desde então, ele fez apelos para pedir ao Senhor o fim das calamidades que assolavam a Companhia. Nessa ocasião, após o exílio espanhol, ele escreveu: "Ainda não agradou a Deus nos tirar de nossas tribulações, seja porque ainda não estamos totalmente livres dos pecados que, com coração sincero, deveríamos chamar de causa de nossos males, seja porque, satisfeito com nossa virtude, adiou nossa consolação para tempos mais oportunos". Ele também pediu que suportassem tudo o que estava acontecendo com equanimidade, paciência e esperança.
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250 anos da supressão dos jesuítas na Espanha: o doloroso exílio da Companhia de Jesus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU