17 Dezembro 2022
"O fato é que as emissões de carbono continuam aumentando, a dependência dos combustíveis fósseis permanece, o que torna cada vez mais difícil deter o aquecimento global e colocar em prática os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris, de 2015", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador de meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 12-12-2022.
A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera aumentou de aproximadamente 280 partes por milhão (ppm) no início da era industrial, para cerca de 421 ppm em maio de 2022. As emissões globais de CO2 estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 36 bilhões de toneladas entre 2019 e 2021. Em consequência do efeito estufa, as temperaturas do Planeta estão subindo e acelerando as mudanças climáticas e seus efeitos danosos sobre a vida na Terra.
Os países ricos e desenvolvidos foram os principais responsáveis pelas emissões de CO2 nos séculos XIX e XX e, sem dúvida, responderam pelas maiores emissões históricas de gases de efeito estufa (GEE). Contudo, o crescimento demoeconômico dos países de renda média e baixa fez com que as nações do “Terceiro Mundo” passassem a liderar as emissões no século XXI.
O gráfico abaixo mostra as emissões de carbono de 1880 a 2021 da OCDE (36 países ricos) e dos 7 países em desenvolvimento mais populosos do mundo, com dados do The Global Carbon Project. Em 1880, a OCDE emitia mais de 400 vezes além da emissão dos 7 países em desenvolvimento mais populosos. Em 1900 passou para 141 vezes. Em 1950 passou para 26 vezes. No ano 2000 passou para 2,5 vezes e em 2012 houve empate. Em 2021, os países em desenvolvimento já emitiam 25% mais do que os países ricos da OCDE.
Os 36 países ricos da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) são Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, Coreia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Islândia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, México, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Checa, Suécia, Suíça e Turquia. No conjunto, possuem, atualmente, uma população de 1,38 bilhão de habitantes. Já os 7 países em desenvolvimento (China, Índia, Indonésia, Paquistão, Nigéria, Brasil e Bangladesh) possuem uma população conjunta de 3,96 bilhões de habitantes.
Evidentemente, os países em desenvolvimento possuem emissões per capita bem abaixo das emissões per capita dos países ricos da OCDE. Mas no cômputo total, os 7 países em desenvolvimento mais populosos emitem mais do que os 36 países ricos da OCDE.
Esta realidade tem provocado divergências sobre as “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. Na COP27 foi aprovado um fundo de “Perdas e Danos”, visando garantir dinheiro a ser utilizado para remediar os danos e as perdas causados pelo clima nos países em desenvolvimento mais vulneráveis. Contudo, não há consenso quais são os países que devem receber os recursos e quais os países que devem pagar pelos prejuízos e pelas mudanças no padrão de produção e consumo.
O fato é que as emissões de carbono continuam aumentando, a dependência dos combustíveis fósseis permanece, o que torna cada vez mais difícil deter o aquecimento global e colocar em prática os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris, de 2015.
Os países ricos da OCDE, embora sejam responsáveis pelas maiores emissões históricas, já estão diminuindo as emissões correntes, embora precisem acelerar a meta de carbono zero. Já os países em desenvolvimento (fora da OCDE) enfrentam o desafio de reduzir a pobreza, mas sem agravar a crise climática e ambiental. No longo prazo, o planejamento do decrescimento demográfico e econômico poderá garantir o bem-estar humano e ambiental.
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022. Disponível aqui.
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Os 7 países em desenvolvimento mais populosos emitem mais CO2 do que a OCDE. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU