06 Dezembro 2022
“Pastora”, “discípula”, “padre queer”, “gaiola do gênero”: as palavras importantes e ao mesmo tempo reveladoras de um futuro que se aproxima. É bom ouvi-las de Lidia Maggi, pastora batista, convidada no fim de novembro a um encontro muito importante, intitulado “As mulheres nos Evangelhos: reflexões sobre a promoção da mulher operada por Jesus”. Como é importante que uma igreja católica a tenha acolhido, a Paróquia da Imaculada, na Via Abbrescia, em Bbari, na Itália, a convite de um frei capuchinho, Pe. Mariano.
A reportagem é de Antonella W. Gaeta, publicada em La Repubblica, 26-11-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“As mulheres que ele escolhe como discípulas, ou que escolhem se tornar suas discípulas, são libertadas por ele. Desde o início, há os Doze e depois há algumas mulheres como Maria, a grande (Magdala significa justamente isso, e não um lugar), libertas das correntes do patriarcado, das doenças, dos estereótipos sexuais, mulheres que Jesus também liberta da ignorância. Temos Maria de Betânia, que se arroga o direito de aprender, em uma sociedade no qual isso era apanágio apenas dos homens, que escolhe ser discípula. As mulheres estão presentes desde a primeira hora com os Doze, razão pela qual um discipulado que menciona apenas os Doze está amputado dessa presença muito forte: as discípulas que o serviam e o seguiam desde a Galileia, diz-nos Marcos. Mulheres com as quais Jesus aprende, como a cananeia, que lhe mostra o quanto a misericórdia de Deus é muito maior do que ele acreditava, fazendo-o ver as coisas do ponto de vista da misericórdia feminina. São várias as mulheres que interpelam Jesus e o solicitam.”
A começar por sua mãe durante as Bodas de Caná.
Segundo João, é uma mãe que força o filho a fazer um gesto. Jesus pensa que ainda não chegou sua hora, mas ela não concorda. O que quero deixar claro é que uma Igreja que não diz a Deus também com voz feminina está amputada. Jesus fala de Deus com imagem masculina e feminina, sem problemas. A grande parábola do Pai Misericordioso é composta por um pastor, por uma administradora e por um pai. Para dizer Deus, é preciso pelo menos esses três olhares: um externo, um interno e depois esse pai que chamaríamos um pouco de queer, com atributos masculinos e femininos.
A gaiola do gênero corre o risco de ser apenas social. Quem disse que só as mulheres são misericordiosas ou acolhedoras, e os homens não? E quem disse que só os homens devem administrar os bens e manter a família, e as mulheres não? Então, eis que Deus é um administrador. Entrar nas mulheres dos Evangelhos não significa apenas refletir sobre cotas rosas. O que está em jogo é muito mais importante. Trata-se de qual Deus e de qual Igreja anunciamos. Uma Igreja que não permite que as mulheres glorifiquem a Deus e preguem está perdendo alguma coisa. Uma Igreja não é um clube, mas uma comunidade que reúne pessoas diferentes em relação à origem social, cultural e sexual.
Você fala de discípulas, mas o relato evangélico depois de Jesus foi feito por homens, e a subordinação foi uma consequência disso: a mulher, salvo exceções, desapareceu. Seguimos assim durante séculos, e, na Igreja Católica, ainda não se fala em mulheres padres, e certamente não com convicção.
Na minha tradição e na tradição valdense, desde os anos 1920, o tema era posto em pauta, até chegarmos a 1964, quando ocorreu o reconhecimento da primeira pastora. Isso ocorreu graças à tenacidade das mulheres que estudaram e à cumplicidade de homens inteligentes com papéis importantes, que intercederam por elas. Lamento o tom queixoso que muitas vezes eu ouço nas mulheres nas nossas igrejas. É verdade que às vezes não nos é dada a oportunidade, em algumas Igrejas, de pregar no ambão, mas podemos fazer isso nas ruas, nas praças, Jesus pregava por toda a parte. Devemos sair de uma cultura da delegação. Sentir-se vítima é perigoso, tornamo-nos quase um estado ontológico, e isso não é saudável, porque nós somos muito mais do que vítimas de uma Igreja que não reconhece as mulheres. Fazemos parte da Igreja, razão pela qual fazemos parte do problema.
O que fazer?
No mundo católico, por exemplo, algumas mulheres reuniram-se em uma coordenação de teólogas, estudaram teologia, mas depois começaram a lecionar nas universidades, nos seminários, a escrever nas revistas. Portanto, revelou-se que foi uma escolha criativa, astuta, para não ficar no impasse da expectativa de que algo mude. Puseram a mudança em movimento, pensando que a hora chegou.
Uma pastora batista falando em uma igreja católica: o que isso significou?
Para mim é sempre uma experiência espiritual. Recorda-me que a Igreja é muito maior do que a minha confissão, e que essa unidade que se invoca já existe, eu a reconheço, sinto que pertencemos ao mesmo Senhor. Cada coisa boa que acontece na Igreja Católica também acontece na minha Igreja. Essa diversidade que levo adiante com o fato de eu ser mulher na Igreja se estende também às outras diversidades necessárias para que a Igreja seja essa sinfonia de diferenças.
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“As mulheres devem assumir seu papel na Igreja”. Entrevista com Lidia Maggi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU