01 Dezembro 2022
"É singular a convergência na avaliação da linguagem litúrgica. 'Todo o povo de Deus pede uma profunda renovação da Igreja', disse recentemente o cardeal Grech, e muito leva a pensar que a profunda renovação da Igreja passa necessariamente também pela renovação da linguagem litúrgica", escreve Goffredo Boselli, liturgista italiano, monge da Comunidade de Bose, na Itália, e colaborador da Comissão Episcopal para a Liturgia da Conferência Episcopal Italiana, em artigo publicado por Vita Pastorale, dezembro de 2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A linguagem litúrgica é uma linguagem "difícil de entender". Essa é a avaliação que emerge da síntese da fase diocesana do caminho sinodal das principais Igrejas europeias. No final de uma avaliação geral pouco lisonjeira da vida litúrgica, as igrejas que estão na Itália qualificam como "urgente" a atualização das linguagens da liturgia: “Diante de liturgias apagadas ou reduzidas a espetáculo, percebe-se a necessidade de restituir à liturgia sobriedade e decoro para redescobrir toda a sua beleza e vivê-la como mistagogia, educação ao encontro com o mistério da salvação que toca profundamente as nossas vidas, e como ação de todo o povo de Deus. Nesse sentido resulta urgente uma atualização do registo linguístico e gestual".
A França constata "o apreço pela riqueza dos símbolos litúrgicos", mas também os "questionamentos diante de uma linguagem que se tornou ininteligível para muitos". E indica algumas aspirações que apareceram: “Uma formação litúrgica renovada para enfrentar o que muitas sínteses indicam como caráter ininteligível da linguagem comum na Igreja”.
As Igrejas que estão na Bélgica constatam a necessidade generalizada de honrar "a necessidade de ritos em momentos importantes da vida", mas ao mesmo tempo observam que "a linguagem é percebida como defasada em relação ao que as pessoas vivem". A síntese da Alemanha relata o pedido explícito dos crentes: “É necessária uma interpretação dos ritos, uma linguagem concreta e compreensível, uma implementação que esteja em relação com a realidade da vida das pessoas, para combater o generalizado ‘analfabetismo litúrgico’".
A liturgia como lugar de experiência da Igreja sinodal para a Espanha "pressupõe a superação de sua distância cultural", pois "as modalidades de expressão da liturgia, sua linguagem e suas formas, são vividas como incompreensíveis, não condizentes com a experiência e a atualidade atuais e pouco acolhedoras. Muitas vezes a liturgia reúne apenas um núcleo interior de fiéis; para muitos outros, mesmo para muitas pessoas empenhadas na Igreja, continua sendo incompreensível e inacessível".
A avaliação das Igrejas irlandesas é muito clara: “A linguagem eclesiástica da Igreja na liturgia é vista como arcaica, não inclusiva e de difícil compreensão, especialmente a linguagem das leituras do Antigo Testamento e das orações litúrgicas. Surgiu uma clara demanda por um vocabulário mais simples, fácil de usar e inclusivo." Por fim, a Espanha declara que "é forte também a necessidade de refletir seriamente sobre a adaptação da linguagem, dos ornamentos e de alguns ritos mais distantes do tempo presente".
É singular a convergência na avaliação da linguagem litúrgica. “Todo o povo de Deus pede uma profunda renovação da Igreja”, disse recentemente o cardeal Grech, e muito leva a pensar que a profunda renovação da Igreja passa necessariamente também pela renovação da linguagem litúrgica.
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Linguagem difícil. Artigo de Goffredo Boselli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU