30 Mai 2022
Muitas vezes na história a separação radical ou, melhor, o desprezo por uma visão moral ao governar gerou corrupção, arrogância, hipocrisia. Certamente é bem sabido como é perigoso um Estado ético instrumentalizado pelo poder ou usado como a sua justificativa pantanosa, muitas vezes destinado a pisotear as liberdades civis.
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado em Il Sole 24 Ore, 29-05-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“A política não dará um passo adiante se antes não tiver dado precedência à ética. Todos sabemos como é complexa a relação entre direito e moral, ou entre política e religião.”
A afirmação lapidar de Cristo: “Deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” traça uma linha clara de demarcação entre os dois âmbitos.
A distinção, porém, não significa separação total, até porque o sujeito envolvido é comum, ou seja, a sociedade. Nessa linha também se coloca a afirmação do filósofo Kant, que citamos acima, uma espécie de aforismo replicado por um escritor que também foi um estadista, André Malraux: “Não se faz política com a moral, mas nem sem ela” (e o mesmo vale para a economia).
Infelizmente, muitas vezes na história a separação radical ou, melhor, o desprezo por uma visão moral ao governar gerou corrupção, arrogância, hipocrisia. Certamente é bem sabido como é perigoso um Estado ético instrumentalizado pelo poder ou usado como a sua justificativa pantanosa, muitas vezes destinado a pisotear as liberdades civis.
Mas é igualmente prejudicial toda ausência de referência a valores morais autênticos, como Luciano Bianciardi já registrava amargamente em 1962 na sua “Vita agra”: “A política deixou há muito tempo de ser a ciência do bom governo e se tornou, em vez disso, a arte da conquista e da conservação do poder”.
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Política, ética e moral. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU