21 Mai 2022
“Espero que o Papa Francisco um dia reconheça publicamente e proclame o valor da vida e da fé de Teilhard, seus escritos profético e a ponte que ele construiu entre a ciência e fé”, escreve Chris McDonnell, teólogo inglês, em artigo publicado por La Croix, 14-05-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A vida de Pierre Teilhard de Chardin reluz com a mistura do acadêmico com a fé.
Ordenado em 1930 como um padre da Companhia de Jesus, sua vida se estendeu pelo mundo científico e sua crença cristã.
Ele foi nomeado à Academia Francesa de Ciências em 1950 por seu trabalho disruptivo em paleontologia enquanto ao mesmo tempo sua pesquisa incorria no desgosto do Vaticano.
Por muitos anos, até a sua morte em 1955, Teilhard foi proibido de publicar suas pesquisas ou palestras nos institutos católicos. Ele foi de fato silenciado. Mas ele continuou a escrever.
Durante uma de suas expedições no deserto de Ordos, na China, ele se viu sem meios para celebrar a missa. Em vez disso, escreveu a famosa meditação “La Messe sur le Monde” (“A Missa sobre o Mundo”), uma declaração cheia de fé de sua crença cristã. Isso foi em 1923.
O parágrafo de abertura dá o tom de todo o ensaio.
“Já que mais uma vez, Senhor – embora desta vez não nas florestas do Aisne, mas nas estepes da Ásia – não tenho pão, nem vinho, nem altar, me elevarei além desses símbolos, até a pura majestade do real em si;
Eu, vosso sacerdote, farei de toda a terra o meu altar e sobre ela vos oferecerei todos os trabalhos e sofrimentos do mundo”.
O livro em que foi incluído, a “Sinfonia do Universo”, teve a impressão recusada por Roma. Essa restrição à sua publicação durou até sua morte em Nova York no domingo de Páscoa em 1955.
Sua grande obra, “O Fenômeno Humano”, foi submetida a Roma em 1941. Essa também foi recusada e, nos anos seguintes, as restrições a ele foram aumentadas.
No entanto, apesar de tudo, Teilhard permaneceu fiel a Deus, seu sacerdócio e à Companhia de Jesus.
Nos anos mais recentes, tem havido sinais de uma lenta acomodação ao seu pensamento, começando nos anos do Concílio Vaticano II (1962-65), onde se diz que seus pensamentos de circulação privada tiveram uma influência considerável.
Na década de 1980, eu estava visitando Lindisfarne, muitas vezes conhecida como Holy Island, na costa nordeste da Inglaterra. Séculos atrás, havia sido a casa monástica de São Cuteberto, o grande santo celta. É um local remoto ligado ao continente por um molhe, transitável apenas na maré baixa.
Depois de passear pelas poucas ruas estreitas, bati na porta do capelão anglicano local que generosamente me convidou a entrar. Juntos, tomando chá e bolo, conversamos por mais de uma hora, em grande parte sobre Pierre Teilhard de Chardin.
Ele nunca tinha lido “A Missa sobre o Mundo”. Então, quando cheguei em casa, digitei uma cópia e mandei para ele. Isso foi num tempo pré-computadores e minha digitação estava longe de ser perfeita.
Sempre me lembrarei da carta que ele me enviou ao receber o texto: “Podemos nunca mais nos encontrar, mas obrigado por uma carona no caminho”. De fato, nos encontramos alguns anos depois, quando, ao retornar a Lindisfarne, bati novamente à sua porta e recebi a mesma hospitalidade.
Muitos teólogos do século XX receberam tratamento semelhante ao que Teilhard recebeu de Roma, assim como outros – padres, irmãs e leigos – em nosso tempo presente. De alguma forma, devemos entender que restrições como as experimentadas por homens pensativos como ele não resistirão ao teste do tempo.
Agora temos o Papa Francisco, Bispo de Roma, ele próprio membro da Companhia de Jesus.
Seria bom se, em algum momento antes de ser chamado ao Senhor, pudesse reconhecer e proclamar publicamente o valor da vida de fé de Teilhard, seus escritos proféticos e a ponte que construiu entre ciência e fé.
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Teilhard de Chardin: um profeta do nosso tempo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU