O papel dos excluídos no mundo do capital, da pandemia e das guerras. Evento do IHU debate as crises do mundo à luz do pensamento decolonial

Foto: Paulo Slachevsky | Flickr CC

18 Abril 2022

 

Enquanto o contágio e as mortes causadas pela pandemia de covid-19 começam a arrefecer, o mundo entrou em nova tensão com a Guerra da Ucrânia. O confronto entre a Rússia, uma superpotência nuclear, e a Ucrânia, um país desigual e explorado por impérios passados, tem no plano de fundo uma nova organização do sistema internacional. O rastro das mortes por vírus ou por bombas reconfigura o papel dos Estados e instituições internacionais, são feitas novas políticas e novas armas de guerra, desde um polo sobre outro que é arrasado. 

 

A exaustão dos pobres contra a tirania soberanista, neoliberal e colonial pode ser a esperança de um mundo construído desde baixo. Os teóricos pós-coloniais e decoloniais há muito percebem a necessidade de pensar e fazer o mundo desde os seres e territórios colonizados, tornados clandestinos em uma ordem que os destrói e chega no momento de autodestruição. As revoluções pós-coloniais da Ásia e África no século XX vieram na esteira das Grandes Guerras, no rearranjo de um novo sistema internacional bipolar. Novamente, terão os condenados da terra a oportunidade de se desvincular do projeto totalizante do capitalismo neoliberal e das suas ramificações populistas e autoritárias? Para Miguel Mellino, no continente europeu as contradições já não suportam mais a univocidade de um projeto que excluem as minorias. "O problema da esquerda europeia é que não sabe o que fazer com a União Europeia. Não tem uma resposta para este problema, nem um projeto alternativo poderoso que corresponda ao que realmente transmite em público. Está presa na ordem binária do discurso neoliberal. O da União Europeia, que se apresenta como um neoliberalismo progressista, e o de uma direita radical que perdeu a inocência e se mostra aos cidadãos como uma opção regressivapatriarcalracistareacionária e anti-imigração".

 


Prof. Dr. Miguel Mellino, da Università di Napoli L'Orientale. Foto: Gorka Castillo | Ctxt.es

 

Não obstante, existem alternativas sendo construídas, do Chile, do México, do Oriente Médio até mesmo aos filhos da diáspora nos EUA e Europa. Para Mellino: "Não há necessidade de ser pessimista porque o que está por vir não é irremediável. O problema seria se não existisse nada para deter esse desenvolvimento. Temos a certeza de que a solução não virá do campo institucional. E acredito que isso ficou demonstrado durante a crise da pandemia, que funcionou como trampolim para o avanço de muitas tendências neoliberais que já estavam em curso. Existem muitas lutas fragmentadas por todo o continente europeu – o feminismo, a saúde e educação públicas, a dos migrantes, dos que defendem o direito à moradia etc. – que, caso confluam, podem se tornar uma alternativa real única na Europa".

 

 

Pensar e fazer o novo mundo desde as suas vítimas segue sendo a solução para romper com um mundo que alterna entre projetos ultraliberal e autoritário.

 

Prof. Dr. Miguel Mellino, da Università di Napoli L'Orientale, é o convidado desta semana para o IHU Ideias, em horário especial, terça-feira, 19-04, às 10h30min.

 

A conferência intitulada Pulsão decolonizadora e desafios. Pós-colonial e decolonial na contramão da pandemia e da guerra será transmitida na homepage do IHU, canal do Youtube e página do Facebook. A participação é aberta e gratuita.

 

 

 

Miguel Mellino dedicou grande parte de sua carreira a transferir o pensamento decolonial e pós-colonial para a esfera italiana, traduzindo e editando autores como Frantz Fanon ou Aime Césaire. Possui licenciatura em Literatura pela Facoltà di Lettere e Filosofia della Università di Roma La Sapienza e doutorado em Ciências Antropológicas e Análise de Mudanças Culturais, obtido no Università degli Studi di Napoli L'Orientale com a tese: Da minoria à diáspora. Discurso étnico e percepção dos fenômenos migratórios na sociedade global.

 

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