19 Outubro 2021
"O discurso de ódio de Frederico D’Ávila e de todos os que se posicionam com ele - incluindo grupos que, infelizmente, se dizem católicos - fere todo nosso povo. Sua aporofobia não é só vergonhosa; é criminosa: jamais um representante eleito pelo povo pode usar a tribuna de uma casa legislativa para ameaçar de morte grupos comprometidos com os menos favorecidos. É um crime contra a nação", afirmam os Padres da Caminhada & Padres Contra o Fascismo.
“Se falei mal, mostra em que; se falei bem, por que me bates?” (Jo 18,23)
Nota de solidariedade à Via Campesina e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ameaçados de morte e a Dom Orlando Brandes, à CNBB e ao Papa Francisco, covardemente ofendidos.
Assim como boa parte da população brasileira, independente de sua fé, estamos estarrecidos diante das palavras violentas e ofensivas do Deputado Estadual Frederico D’Ávila - PSL/SP proferidas no último dia 14 de outubro contra a Via Campesina e o MST, contra Dom Orlando Brandes, arcebispo metropolitano de Aparecida, a CNBB e o Papa Francisco.
Suas palavras não feriram somente aquelas e aqueles que professam a fé católica, nem somente as cidadãs e cidadãos paulistas - a quem o Sr. Deputado deveria representar melhor. Suas palavras, pela agressividade, ferem todas brasileiras e todos os brasileiros.
Ele ameaçou com “cacete e bala” a Via Campesina e o MST, movimentos populares que lutam pelo direito à terra e a defesa da produção de alimentos para a população. Ele ofendeu falsa e injustamente Dom Orlando Brandes, arcebispo metropolitano de Aparecida, a CNBB e o Papa Francisco porque erguem sua voz a favor dos pobres. Trata-se de um ataque de grandes proporções e, por isso, expressamos veementemente nosso repúdio às suas palavras de ódio e de descaso.
O Sr. Deputado representa o que há de pior na política brasileira atual - no lugar de buscar o consenso para a proteção e o progresso do povo, sobretudo depois da tragédia da pandemia, ele defende interesses escusos de grupos econômicos de seu interesse mediante o ataque àquelas e àqueles que se posicionam em divergência. Política se faz com diálogo e respeito - o Sr. Deputado Estadual Frederico D’Ávila é um facínora como o Sr. Presidente da República, a quem ele constantemente faz apologia.
O armamento da população sustentado por ele - e também pelo Sr. Jair Messias Bolsonaro - é uma afronta ao povo brasileiro, especialmente as e os mais vulneráveis. As armas só servirão para uma coisa: continuar o genocídio de pobres, dos povos originários, de afrodescendentes, de mulheres, de LGTBQIA+’s, entre outros. A frase profética de Dom Orlando Brandes, dita apenas dois dias da infeliz fala do Sr. Deputado, expressa muito bem isso: “Para ser pátria amada, não pode ser pátria armada (…)”.
O discurso de ódio de Frederico D’Ávila e de todos os que se posicionam com ele - incluindo grupos que, infelizmente, se dizem católicos - fere todo nosso povo. Sua aporofobia não é só vergonhosa; é criminosa: jamais um representante eleito pelo povo pode usar a tribuna de uma casa legislativa para ameaçar de morte grupos comprometidos com os menos favorecidos. É um crime contra a nação!
Contudo, não podemos nos esquecer de que ele também infringiu o artigo 05, VI da Constituição Federal de 1988 que assegura a liberdade religiosa à população brasileira. Portanto, deve ser responsabilizado por tal. Em nossa nota de solidariedade, a esses movimentos sociais, a Dom Orlando Brandes, à CNBB e ao Papa Francisco, vilmente atacados por Frederico D’Ávila, também pedimos ao Presidente da ALESP, o Sr. Deputado Estadual Carlão Pignatari - PSDB/SP, que tome as devidas providências para que ele seja exemplarmente punido.
Concluímos este texto citando a mesma passagem bíblica usada por Dom Pedro Luiz Stringhini, bispo diocesano de Mogi das Cruzes e presidente do Regional Sul 1 da CNBB, ao se referir ao vil ataque: “se falei mal, mostra em que; se falei bem, por que me bates?” (Jo 18,23). Em suas justas reivindicações por terra a Via Campesina e o MST falam bem exigindo o direito humano fundamental à terra. Dom Orlando falou bem na Solenidade de Nossa Senhora Aparecida; a CNBB tem falado bem sempre insistindo no respeito à democracia; o Papa Francisco, desde sua eleição em 2013, fala muito bem ao chamar a atenção de todas e todos para os pobres.
Por que, então, Sr. Deputado, bater neles?
Padres da Caminhada & Padres Contra o Fascismo [1]
[1] Padres da Caminhada & Padres contra o Fascismo – São coletivos de padres de todo o Brasil que se articulam informalmente, constituídos por mais de quatrocentos (400) padres e alguns bispos.
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Padres da Caminhada & Padres contra o Fascismo emitem nota de solidariedade à Via Campesina, MST, Dom Orlando Brandes, CNBB e Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU