18 Agosto 2021
Na Amazônia Legal, a agropecuária demite trabalhadores ao mesmo tempo em que aumenta a área destinada a pastagens e cultivos. É o que revela um novo estudo, conduzido por pesquisadores do projeto Amazônia 2030. O trabalho mostra que entre 2012 e 2019, a agropecuária na região perdeu cerca de 322 mil postos de trabalho: uma queda de 16%. O desempenho contrasta com o cenário geral da região onde, no mesmo período, foram criados mais de 500 mil empregos (um crescimento de 5% em sete anos.)
A reportagem é publicada por EcoDebate, 17-08-2021.
As conclusões foram sintetizadas no relatório “Dinamismo Recente do Emprego na Amazônia Legal – Agropecuária“. O documento é o primeiro de uma série, ainda em preparação, destinada a examinar como se comportaram os empregos e os salários na Amazônia – quais ocupações empregaram mais, e quais mais demitiram – durante o período analisado. A pesquisa é liderada pelo economista Gustavo Gonzaga, da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio)
Para avaliar o dinamismo do mercado de trabalho na Amazônia, os pesquisadores analisaram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD contínua). Os números se referem a um cenário econômico que precede a crise deflagrada pelo novo coronavírus.
Nos sete anos examinados pela equipe, enquanto os postos de trabalho na agropecuária minguavam, a área ocupada pela atividade cresceu: um aumento de 8,4%, de acordo com dados do MapBiomas. No mesmo período, a região registrou recordes de desmatamento: nos anos analisados, a área desmatada aumentou significativamente de 4.571 km2 para 10.129 km2.
Menos empregos e alta informalidade
A agropecuária envolve um conjunto de atividades que incluem agricultores com diferentes níveis de qualificação, pecuaristas e extrativistas florestais.
Hoje, o setor está entre os que mais ocupam pessoas na Amazônia: 1,7 milhão de trabalhadores, ou 15,9% das pessoas ocupadas. Mas faz uma curva descendente.
Segundo o relatório, a maioria dos ocupados – 81% – é de trabalhadores informais. Além disso, os salários são baixos. Em 2019, o trabalhador do setor recebeu, em média, R?829,00 mensais. Menos da metade da média para a Amazônia Legal, de R$1692,00.
Os números mostram ainda que, nos sete anos analisados:
– Caiu o número de agricultores não qualificados ocupados na região. Agricultores não qualificados são aqueles cujas atividades não exigem qualificações específicas. Essa foi a categoria que mais perdeu postos de trabalho: uma perda de 59%. Sua diminuição é reflexo da crescente mecanização das lavouras.
– Agricultores qualificados também perderam espaço: uma queda de 6,7% no número de trabalhadores ocupados.
– O número de extrativistas florestais em atividade seguiu trajetória semelhante: decréscimo de 28%.
– O contraste fica à cargo da pecuária. Aumentou o número de pessoas ocupadas pela atividade: um acréscimo de 2%. Tímido, comparado à queda geral no número de pessoas ocupadas.
– Para entender a dinâmica da ocupação da agropecuária na região, é importante olhar para dois estados em especial: Mato Grosso e Pará. Juntos, eles reúnem 48% do número total de pessoas ocupadas na Amazônia Legal. Têm realidades muito díspares: em 2019, no Mato Grosso, o rendimento médio do trabalhador da agropecuária era de R?1.790, 142% maior do que o rendimento médio no Pará (R? 739), o que provavelmente reflete um grau de mecanização e de qualificação da mão-de-obra superior neste setor no Mato Grosso.
Sobre o Amazônia 2030
O projeto Amazônia 2030 é uma iniciativa conduzida por pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de ações para a Amazônia. Seu objetivo é apontar caminhos para que a região dê um salto de desenvolvimento econômico e humano, mantendo a floresta em pé, nos próximos dez anos.
O projeto é uma iniciativa do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, ambos situados em Belém, com a Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio, localizados no Rio de Janeiro.
Leia o estudo completo aqui.
Leia mais
- As big techs e a plataformização da agricultura: o objetivo é controlar economicamente as relações no campo. Entrevista especial com Sérgio Amadeu
- Desigualdade no acesso à informação e tecnologias é o desafio à imersão profunda do Brasil na agricultura 4.0. Entrevista especial com Silvia Maria Massruhá
- Enquanto Estado aposta no agronegócio, agricultura familiar sertaneja luta pela existência. Entrevista especial com Klenio Costa
- O agro é tech, e os trabalhadores não são pop
- O agronegócio e o governo Bolsonaro
- Preço da comida: Brasil perdeu 30% de área de cultivo de alimentos para o agronegócio
- A Amazônia nas mãos do agronegócio e do garimpo
- Águas cercadas: como o agronegócio e a mineração secam rios no Brasil
- Agronegócio pode ter infectado 400 mil trabalhadores no Brasil por Covid-19
- Apib repudia projeto do governo Bolsonaro que libera mineração, hidrelétricas e agronegócio nas terras indígenas
- Conluio entre Governo brasileiro e o agronegócio intensifica desmatamento e incêndios, afirma Cimi na ONU
- Agronegócio trava guerra contra orgânicos e alimentação saudável
- Atlas do Agronegócio apresenta lado B da cadeia agroalimentar no Brasil e no mundo
- O agro é voraz: novo vídeo da campanha ‘Riquezas são diferentes’ evidencia conflitos gerados pelo agronegócio
- O perdão bilionário que Bolsonaro quer dar ao agronegócio
- Os donos do agronegócio e a alimentação
- Dono de empresas agropecuárias, senador banca projeto que extingue Reserva Legal
- Amazônia: é possível crescer acima da média com desmatamento zero
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Amazônia: Agropecuária demite trabalhadores enquanto aumenta a área de pastagens e cultivos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU