03 Agosto 2021
O Brasil assiste, manso e calado, a um escândalo “judiciário” com cada vez mais precedentes. Um motoboy está preso acusado de tocar fogo numa estátua simbólica da opressão a negros e indígenas, escreve Ricardo Melo, jornalista, em artigo publicado por Jornalistas Livres, 31-07-2021.
Paulo Roberto da Silva Lima, mais conhecido como Paulo Galo, apresentou-se espontaneamente às instâncias policiais. Tem residência fixa e pode ser encontrado a qualquer hora para depoimentos. A resposta obtida por Galo foi a ordem de prisão temporária, decretada pela juíza Gabriela Marques da Silva Bertoli. A mulher de Galo, a costureira Géssica Silva Barbosa, que nem sequer estava presente ao momento do fogaréu, também foi para a cadeia – absurdo tão evidente que ela já está solta.
Onde estão as instituições “que funcionam”? A tentativa de incineração de uma imagem do que há de pior na história da vida civilizada –aliás, intenção mal-sucedida porque a estátua horrorosa continua de pé— é transformada em crime passível de encarceramento.
Enquanto isso, ladrões de papel passado, um presidente ostensivamente genocida ao vivo e em cores, e centenas de outros delitos de gente graúda permanecem impunes. Pior: gente que ganha cargos de alto escalão, como Ciro Nogueira, para citar o mais recente.
Advogados e juristas renomados reprovam a decisão da “juíza” de primeira instância.
O advogado de Paulo Galo, André Lozano Andrade, já entrou com um pedido de habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo, mas até agora não obteve resposta.
É um ultraje! Para ficar num só exemplo: o megabanqueiro Daniel Dantas, preso sob acusação de todo o tipo de falcatruas bilionárias, teve seu passe livre decretado por Gilmar Mendes em pouco mais de 24 horas. Até hoje, aqueles que tocaram fogo no Itamaraty em Brasília em 2013 estão livres, leves e soltos. Fabrício Queiroz e seus parças da família Bolsonaro também.
Com um humilde motoboy, como Paulo Galo, isso não acontece.
Para quem jamais foi preso, parece pouco passar alguns dias que sejam na cadeia. Quem vai restituir a vida perdida nesse período? Quem vai ressarcir os trocados que Galo suava para ganhar em jornadas de trabalho infinitas, a fim de sustentar sua família?
Galo é alguém do povo pobre que apenas fez o que nossa elite apodrecida tenta evitar a todo custo: chamar a atenção para os séculos de opressão, dos quais Bolsonaro e sua gangue são herdeiros diretos.
A prisão de Paulo Galo envergonha os verdadeiros democratas. Assim como o homicídio de Marielle Franco, de seu motorista Anderson e de tantos outros que vêm sendo assassinados física e/ou moralmente, com o beneplácito de uma Justiça ditatorial.
Liberdade já para Paulo Galo!
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Caso Borba Gato: pela libertação imediata de Paulo Galo! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU