09 Julho 2021
O geneticista Axel Kahn morreu de câncer na terça-feira, 6 de julho. Médico e apaixonado por caminhadas, fez da luta contra o câncer, e também contra o seu câncer, o último grande empenho de sua vida. "Em breve não estarei mais aqui". Axel Kahn havia anunciado isso no dia 17 de junho no último post publicado em seu blog onde escrevia “a crônica pacificada do fim de um itinerário de vida”.
A reportagem é de Alice Le Dréauin, publicada por La Croix, 07-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Geneticista, ensaísta, morreu de câncer na terça-feira, 6 de julho, anunciou a Ligue contre le cancer. Sua doença foi diagnosticada em agosto de 2020. Após uma primeira remissão, o câncer voltou com maior agressividade em abril passado. Axel Kahn, presidente voluntário da Ligue contre le cancer desde 2019, tinha feito do combate e da prevenção à doença que o levou "ao último grande empenho de sua vida", como confidenciou ao La Croix em maio: "A morte é uma velha amiga. Mas lidar com a morte não significa necessariamente que se sinta serenidade, disse ele. O problema é não estragar este último período de existência, porque o que é preciso fazer é de particular intensidade”.
Nascido em 1944, Axel Kahn escolheu orientar sua vida com base em duas regras: primeiro, fazer o seu dever, e depois ser razoável e humano, de acordo com o que seu pai deixou por escrito no dia de seu suicídio. Seu dever, Axel Kahn o cumpria como médico e como pesquisador. Especializado em genética e hematologia, ingressou no Inserm em meados da década de 1970. Por sua pesquisa em genética molecular, ele se tornou uma figura importante na comunidade científica e na vida pública, presidindo o Instituto Cochin por vários anos, na linha de frente da pesquisa biomédica. “Ele adorava repassar, compartilhar o conhecimento, passar o bastão, lembra o médico Jean-Daniel Falysakier. Foi um interlocutor que se colocou ao alcance das pessoas”. Sua exposição na mídia e seu lado um tanto “exibido” lhe causaram alguns mal-entendidos por parte dos colegas. Apaixonado pelo problema do bem e do mal, Axel Kahn colocava a ética no centro do trabalho científico.
Membro do Comitê Consultivo de Ética Nacional (CCNE) de 1992 a 2004, ele se opôs à clonagem, à edição do genoma e a qualquer tentativa de "aumentar" o ser humano. “Ele tinha uma consciência aguda da ética e uma capacidade de fazer as pessoas entenderem o que estava em jogo”, lembra Didier Sicard, presidente do comitê na época. Contrário à eutanásia, “falsa liberdade”, Axel Kahn repetia com ênfase que todo paciente deveria exigir que “sua dor recebesse alívio”. “Nem sempre é assim, vivo isso pessoalmente”, constatava ele nestes últimos tempos.
Durante a crise de Covid, ele continuou a expressar alarme com a perda de possibilidade de tratamento para pacientes com câncer, cujas operações estavam sendo adiadas. A morte era uma companheira familiar para ele. “Ele a viu se aproximar de olhos abertos, conta sua amiga psicóloga, Marie de Hennezel. Axel nos ofereceu uma meditação sobre a finitude e mostrou que os dias que antecedem o fim podem ser belos”. Para Axel Kahn, “não somos ninguém sem o outro”. Por isso, “adorava compartilhar suas experiências de vida”, explica Jean-Daniel Flaysakier. Muito antes dos coletes amarelos, esse apaixonado por caminhadas havia feito um "giro pela França", a pé, para sentir o pulso do país. Nascido em uma família católica, Axel Kahn perdeu a fé aos 15 anos: “Quis criar um humanismo sem Deus, uma noção de bem sem transcendência”. Sua esperança? “Ter proporcionado material sobre o qual pensar” aos que ficam. “Logo eu não estarei mais aqui, eles ainda estarão”, escreveu ele falando de seus entes queridos. “Vou acompanhá-los. A eles e os outros cuja confiança procurei honrar”.
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Axel Kahn, “razoável e humano” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU