30 Junho 2021
Reunir em um site de internet conhecimentos e propostas sobre as questões ecológicas, econômicas e sociais, com ênfase nas relações que mantêm entre si, tudo de forma pedagógica e comprometida: esta é a ambição de The Other Economy, plataforma lançada por Alain Grandjean, economista, cofundador da Carbone 4 e presidente desde 2019 da Fundação Nicolas Hulot, e Marion Cohen, consultora especializada em transição ecológica após ter passado dez anos como diretora científica e técnica da Fundação Nicolas Hulot. Eles nos explicam suas motivações e a ambição desse projeto.
A entrevista é de Antoine de Ravignan, publicada por Alternatives Économiques, 29-06-2021. A tradução é de André Langer.
Vocês apresentam “The Other Economy” como uma plataforma de conhecimentos e propostas para quem pretende tornar a economia socialmente mais justa e ecologicamente sustentável. Mas já não dispomos de todas as ferramentas?
A informação é realmente abundante e acessível. Mas ela está, por um lado, bastante dispersa, e, por outro, organizada por especialidades, dividida em caixinhas. Se pensamos no emprego, procuramos recursos no site da agência de estatísticas Dares. Se alguém quer saber mais sobre o clima, pode consultar os relatórios do IPCC. Clima, biodiversidade, finanças, emprego e trabalho, desigualdades sociais...: uma primeira originalidade do nosso trabalho de relacionar todos esses temas, porque todos esses temas estão obviamente ligados entre si.
Uma segunda característica da nossa proposta é considerar a ecologia como uma questão econômica central. A ecologia costuma ser tratada pelos economistas como uma “externalidade”. Para nós, deve ser colocada no centro do pensamento econômico. Colocar a ecologia no centro não significa decretar a primazia da natureza sobre o homem. Significa apenas que a economia, a atividade humana, não pode existir em um planeta devastado por nossa atividade.
A economia, diz-se, é uma ciência da escassez. Mas de qual escassez estamos falando? Hoje, não há realmente escassez de trabalho, nem de capital. Por outro lado, existe uma escassez real de recursos naturais e uma escassez real no que diz respeito à regulação destes recursos – solos de qualidade, água acessível em quantidade e qualidade, clima estável, recursos energéticos, minerais, animais e vegetais não superexplorados. E o grande risco para a economia é a escassez de recursos naturais e grandes desequilíbrios ecológicos que podem tornar o planeta inabitável para bilhões de pessoas.
Uma terceira especificidade dos nossos conteúdos é articular a questão ecológica e a questão social. Não podemos simplesmente dizer que o crescimento verde criará empregos. Há um verdadeiro debate sobre a natureza de um mundo de baixo carbono. Se este é um mundo que libera tempo de trabalho, talvez tenhamos que redistribuir a riqueza e o trabalho.
Finalmente, nós fizemos um grande esforço pedagógico para permitir que todos entrem em questões econômicas que às vezes são consideradas difíceis ou mesmo desanimadoras, mas nos mantendo no plano intelectual. Temos procurado também referências de apoio, para desconstruir muitas das ideias recebidas na economia, e fazê-lo numa linguagem simples e compreensível por todos.
Este trabalho sobre as ideias recebidas em economia não é um jogo teórico. Por exemplo, ao refutar a ideia bem estabelecida de que criar dinheiro é necessariamente inflacionário, ampliamos o leque de meios que poderiam ser mobilizados para implementar a transição ecológica e social.
O que estamos oferecendo, portanto, não é um manual acadêmico. Nós partimos explicitamente de um ponto de vista. Os conhecimentos econômicos que disponibilizamos são conhecimentos para a ação, uma ferramenta do pensamento para a construção de um mundo mais justo e ecologicamente sustentável.
A interface é muito simples. Nele se pode encontrar, em primeiro lugar, o que chamamos de módulos. Eles expõem a situação atual, as teses e as antíteses, sobre toda uma série de assuntos que nos esforçamos para articular entre si: trabalho e desemprego, dinheiro, receitas e despesas públicas, economia de recursos naturais, desigualdades sociais…
Em seguida, oferecemos fichas temáticas para explicar pontos específicos. Essas fichas podem tratar de assuntos de história econômica (por exemplo, a falsa ideia de que a crise vivida pela República de Weimar em 1923 (as carretilhas de ingressos...) esteve na origem da explosão política dos anos 1930, quando se deve, na verdade, à crise de 1929 e à política deflacionária do chanceler Brüning), de conceitos (securitização, produtos derivados...) e apresentar políticas públicas (a política agrícola comum...).
Uma terceira seção fornece recursos-chave sobre todos os assuntos tratados: bancos de dados, livros, relatórios essenciais. Este bloco de “recursos” também tem recebido muita atenção. Para lançar luz sobre o debate, com efeito, é importante ter boas referências, ter dados que permitam contextualizar e fazer recuos.
Por exemplo, se olhamos para um indicador como o PIB, precisamos de profundidade histórica. Percebemos então que o que caracteriza a história da humanidade é antes um crescimento muito lento do PIB e que a situação atual é uma espécie de retorno a essa situação.
Por fim, um quarto bloco apresenta propostas. Na verdade, a economia não é apenas uma disciplina descritiva. Tem também uma perspectiva prescritiva. A economia é ao mesmo tempo positiva e normativa. Ao mesmo tempo que analisa, faz recomendações. Mas esse caráter normativo da economia nem sempre é assumido e explicitado pelos economistas ditos neoclássicos ou liberais. Eles têm a tendência a não dizer explicitamente o que pensam, a saber: que o mercado livre e perfeito é o modelo para o qual devemos convergir.
Quanto a nós, assumimos esta dimensão normativa da economia e, por isso, transmitimos propostas que nos parecem ir na direção certa. Acreditamos, por exemplo, que os bancos têm um grande papel a desempenhar na transição ecológica e que, ao contrário, podem ter um papel desestabilizador se não forem regulamentados. Também divulgamos as propostas dos agentes financeiros que visam elevar as razões entre seus níveis de capital próprio e seus níveis de crédito.
E se nos debruçamos sobre esses tópicos aparentemente distantes da ecologia, é porque existem ligações realmente fortes. A questão do financiamento da transição ecológica é indissociável, por exemplo, da regulamentação das finanças. A economia da ecologia não é apenas uma questão de impostos, de normas e regulamentos sobre CO2 e outros poluentes. A luta contra as mudanças climáticas passa pelo questionamento a priori das políticas públicas “não climáticas”.
Se estou convencido, como seus cursos podem me ajudar?
Convencido de quê? Digamos que você esteja convencido sobre questões de ecologia. A menos que você permaneça em sua bolha verde, pode se perguntar se a mordomia pode continuar? E então você se interessará pela economia. Quando se olha para a oferta nesta área, não existem tantas publicações que construam pontes entre os temas. Alternatives Économiques talvez seja uma exceção deste ponto de vista!
Por outro lado, entre aqueles que se interessam pela economia ou pelas finanças e que têm uma cultura econômica, poucos são bem formados em ecologia e menos ainda durante seus estudos. Se eles estiverem interessados nesses temas, é importante que tenham as ferramentas disponíveis.
A maioria de nós tem interesses específicos, seja na ecologia, seja na economia, seja em questões sociais. Só podemos nos enriquecer e ser mais relevantes se conectarmos os temas.
Enriquecer sua reflexão pode parecer fútil para aqueles que acham que nada está mudando, apesar dos conhecimentos cada vez mais precisos que temos sobre a situação, em particular o anunciado desastre climático. O que você diria àqueles que estão exasperados, desesperados, até desmobilizados por essa defasagem?
Primeiro, a história nunca é escrita com antecedência.
Podemos pensar: já que nada se move hoje, nada jamais se moverá. Não é nisso que acreditamos. Há momentos em que a história se acelera, quando o impensável acontece. Pensemos no grande momento keynesiano que se seguiu à crise de 1929.
É a Covid um daqueles momentos fortes da história, onde as representações evoluem? Veremos. Mas pelo menos podemos ver que entre antes e depois da Covid, o lugar do Estado não é mais visto da mesma forma por muitos cidadãos.
Em segundo lugar, nunca devemos desistir da batalha das ideias e, portanto, apropriar-se da compreensão dos assuntos. Uma das razões pelas quais “nada se move” é, por exemplo, que a competição internacional continua a ser considerada um “bem comum”. Muitos políticos não entendem ou não querem entender que essa competição é um fator da crise ecológica.
O retorno dos inseticidas neonicotinoides para o cultivo da beterraba é uma ilustração disso. Desde o fim das cotas europeias de açúcar, a luta internacional neste setor tem sido tamanha que os produtores de beterraba não podem se dar ao luxo de perder safras e obtiveram a isenção da proibição desses produtos, que são devastadores para a biodiversidade.
Portanto, os avanços também se produzem no campo das ideias, neste caso questionando o dogma segundo o qual o livre comércio é um bem comum e propondo alternativas que não sejam um retorno puro e simples ao protecionismo nacionalista.
Da mesma forma, a ideia de que a política monetária é neutra ou de que a política fiscal deve ser enquadrada por razões intangíveis de déficit e de dívida públicos são obstáculos para uma ação resoluta diante das mudanças climáticas. São dogmas seguidos pelos líderes e que nos subjugam como se fossem verdades absolutas. Mas não, essas não são universais, leis eternas da economia.
Essa é, aliás, uma das intenções deste site: equipar os cidadãos, ONGs, sindicatos, think tanks, professores e estudantes para decodificar e desmontar todas essas ideias recebidas erigidas em dogmas e que funcionam como poderosos obstáculos à mudança.
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The Other Economy, uma plataforma para construir uma economia ecológica e solidária - Instituto Humanitas Unisinos - IHU