11 Março 2021
Contingente desses trabalhadores auxiliares, geralmente terceirizados, tem baixos salários e grandes riscos de contaminação e morte.
A reportagem é de Cida de Oliveira, publicada por Rede Brasil Atual – RBA, 10-03-2021
Em um ano de pandemia, esses profissionais estão cada vez mais estafados, desanimados, expostos aos vírus e com medo. (Foto: Pedro Guerreiro | Ag. Pará)
Pelo menos 1,5 milhão de profissionais da saúde “invisíveis” atuam na linha de frente de combate à covid-19 nos hospitais brasileiros. São técnicos e auxiliares de enfermagem, motoristas de ambulância, maqueiros, agentes de manutenção, limpeza e segurança das unidades de saúde.
Outros operam equipamentos de raios-X, cozinham para pacientes internados e funcionários, fazem análise laboratorial, trabalham na farmácia, são recepcionistas e pessoal administrativo e agentes comunitários de saúde. Todos são fundamentais no atendimento à população que necessita de cuidados. No entanto, não são lembrados como tais pela população – daí o termo “invisíveis”.
A maior parte é terceirizada, recebe baixo salário e não conta com equipamentos de proteção individual adequados. Em comum, todos têm uma jornada cansativa, em ambiente estressante. E ainda estão expostos à contaminação pelo coronavírus e suas variantes, à doença e óbito.
Passado um ano das primeiras mortes pela covid-19 no Brasil – já são mais de 266 mil mortos e mais de 11 milhões de contaminados pelo coronavírus e suas variantes –, esses profissionais “invisíveis” estão cada vez mais cansados, estafados, angustiados, tristes pelo adoecimento e morte de colegas e, sobretudo, com medo.
Alto risco de contaminação
“Em um ano de regime pandêmico, com grande número de contaminados e óbitos, esses profissionais de saúde enfrentam muitas dificuldades. Faltam ânimo e interesse para trabalhar em um ambiente com alto risco de contaminação, em que as condições de trabalho são insatisfatórias, precarizadas, muitas vezes sem vínculos permanentes, sem garantias e salários decentes”, disse à RBA Maria Helena Machado, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), vinculada à Fiocruz.
Por outro lado, gestores e a grande parte da população foram incapazes de aprender o suficiente com a pandemia que caminha para o descontrole no país, avalia Maria Helena. Ainda faltam empatia, solidariedade e fraternidade em relação aos profissionais de saúde, sejam eles visíveis ou invisíveis.
“A pandemia recrudesceu de maneira perigosa. Cada dia mais contaminação, menos gestão pública e menos trabalhadores. Há um egoísmo. Estamos nos aglomerando e desrespeitando o isolamento. Muitos que têm todas as condições não ficam em casa, não usam máscaras, não fazem higienização das mãos. É um total desrespeito com os profissionais que fazem o melhor, apesar da estafa e da ausência de medidas de proteção”, ponderou.
Para saber o que pensam e sentem esses trabalhadores e como são suas condições de trabalho no âmbito da pandemia, Maria Helena coordena uma pesquisa em andamento desde fevereiro. Com apoio da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS) e do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a pesquisa vai trazer informações para a formulação de propostas de melhorias para o sistema de saúde.
Leia mais
- “Enfrentar o coronavírus significa fortalecer o SUS e o trabalho dos profissionais de saúde”. Entrevista com Victor Grabois
- Por todo o Brasil profissionais da saúde realizam manifestações em defesa do SUS
- Pandemia no Brasil sob o desgoverno Bolsonaro
- 200 mil mortos e contando...
- O importante e urgente é ofertar vacinas o mais rápido possível. Entrevista especial com Júlio Croda
- Jovens relaxam isolamento e são os mais infectados pela covid-19
- Sentimentos do nosso tempo: isolamento
- Vacinas: amplia-se o isolamento de Bolsonaro
- Um ano depois de Covid-19 somos reféns das multinacionais farmacêuticas
- “Covid-19 não é uma pandemia, mas uma sindemia”: o vírus afeta também a psique
- Pandemia e desmonte de políticas de saúde colocam Brasil diante da escolha: devastação ou solidariedade econômica e social. Entrevista especial com Pedro Delgado
- Covid: países mais digitalizados e com melhores sistemas sociais e de saúde resistiram melhor
- Coronavírus: alerta de suicídios no Japão. Mais mortes do que para a Covid-19
- Em meio à pandemia, o ministério da Saúde sumiu
- País tem estrutura para vacinar 80 milhões contra covid-19 antes do inverno. Falta governo
- Vacinas, saúde para todos sob o domínio do mercado
- Casos de covid-19 entre indígenas chegam a 44.680, diz Apib
- Amazonas entra na fase roxa, a mais grave da Covid-19
- Covid-19 evidencia dívida social na saúde
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Brasil tem 1,5 milhão de profissionais ‘invisíveis’ no combate à covid-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU