14 Dezembro 2020
Não será num presépio em Belém. Neste Natal Jesus nascerá no Brasil, em meio à Amazônia arrasada pelas chamas. E será um bebê negro, filho de uma virgem negra, rodeado de querubins indígenas.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 13-12-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Este presépio natalino carregado de simbolismo atrai os olhares na zona sul do Rio de Janeiro, onde a Paróquia do Sagrado Coração de Jesus tem uma tradição de expor assuntos contemporâneos em sua representação anual do nascimento que para os cristãos dividiu a história em um antes e um depois.
Houve muitos temas para escolher em 2020, mas a paróquia optou por dois assuntos de maior pertinência, principalmente depois que Jair Bolsonaro assumiu o poder no ano passado: o racismo e o aumento do desmatamento da Amazônia.
“O presépio mostra que as pessoas que queimam a natureza, que atacam seus irmãos por diferenças de cor, não tem Deus no coração”, afirma Mauricío Rodrigues dos Santos, porta-voz desse templo católico.
Este santuário realiza há uma década presépios com mensagens, aproveitando sua localização privilegiada, próxima à praça da Glória, uma estação de metrô muito utilizada frente à sede da arquidiocese do Rio de Janeiro.
Há dois anos, exibiu uma Maria de seio desnudo, amamentado seu bebê, depois de vários incidentes nos quais autoridades impediram as mães de dar o peito a seus filhos em público. No ano anterior, o presépio centrou-se na luta contra a corrupção e foi vandalizado.
O padre Wanderson Guedes, artista que dá a vida a estas exibições, descartou abordar o desmatamento da Amazônia em 2019 depois que recebeu ameaças. Mas neste ano a Igreja, que monta os presépios graças aos trabalhos voluntários e doações de seus fiéis, decidiu abraçar a temática e incluir uma mensagem antirracista.
São temos que voltam a primeiro plano sem cessar no Brasil de Bolsonaro.
O mandatário defende a exploração agropecuária e mineral da maior floresta tropical do mundo. Durante seus dois anos de mandato, o desmatamento da Amazônia alcançou níveis recordes em uma década e se multiplicaram os incêndios.
Bolsonaro foi acusado ao longo de sua carreira de fazer comentários pejorativos contra os negros e indígenas.
Apesar das tensões políticas, Dos Santos assegura que a paróquia não tem medo de represálias por seu novo presépio. “Se o destruírem, que assim seja. Temos um ano inteiro para reconstruí-lo”, disse à AFP.
“As ideias não se quebram. A motivação não se quebra. O espírito não se quebra. Tudo isso permanece. A ideia fica. Esta criança [Jesus], inteiro ou quebrado, traz mensagens diferentes. E suas duas mensagens são muito importantes”, ressalta.
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Um presépio brasileiro apresenta um Jesus negro em uma Amazônia devastada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU