20 Agosto 2020
É um pensamento que visa acolher o outro, o diferente, o estrangeiro aquele de Armido Rizzi, teólogo, filósofo e biblicista falecido na última segunda-feira em Mântua aos 87 anos. Um pensamento atual para a Europa de hoje (A Europa e o outro. Esboço de uma teologia europeia da libertação é um de seus inúmeros ensaios). Em sua trajetória intelectual, foram fortes as consonâncias com um filósofo como Emmanuel Levinas.
A reportagem é de Gianni Santamaria, publicada por Avvenire, 19-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mas a tríade que forjou o vasto arco de temas de interesse de Rizzi é composta por Rudolf Bultmann e dois nomes menos conhecidos: o etnólogo jesuíta Joseph Goetz e o teólogo luterano sueco Anders Nygren. Rizzi foi o tradutor italiano de Bultmann, e defensor contra seus detratores no plano metodológico-hermenêutico, distanciando-se dele, porém, naquele da cristologia (famoso seu ensaio sobre cristologia fenomenológica republicado pela Cittadella em 2010, 40 anos após a primeira edição e prefaciado pelo cardeal Carlo Maria Martini).
De Goetz, acompanhado na faculdade gregoriana, Rizzi tirou seu interesse pelo fenômeno religioso nos povos ditos "primitivos". De Nygren a distinção entre ágape e eros, que ele usou para uma inversão da perspectiva da teologia: do desejo que o homem tem por Deus (eros) à oferta de amor do Deus bíblico, que pede ao homem que ame seu irmão. Essa mudança levou àquela que o próprio Rizzi chamou de "teologia alternativa". Ou seja, que passa do eu da modernidade para o outro e tenta deselenizar a teologia, superando o arranjo tomista e platônico-aristotélico.
Nascido em Belgioioso (Pavia) em 1933, Rizzi fez parte da Companhia de Jesus até meados da década de 1970, quando pediu a dispensa do estado clerical e se casou. Por vinte anos, até 2005, ele animou o Centro Sant'Apollinare em Fiesole. Na estrutura, recebida dos Servos de Maria David Maria Turoldo e Giovanni Vannucci, realizava fins de semana e semanas de teologia de alto perfil. Gustavo Gutierrez, seu amigo, estava entre os convidados. Tanto que Rizzi pode ser colocado entre os teólogos da libertação, apesar de ter criticado algumas de suas posições filosóficas.
A convergência era, porém, forte na interpretação da história da libertação da escravidão contida no Êxodo. E é justamente nessa narrativa que reside a chave do pensamento de Rizzi, segundo o biblista Carmine Di Sante, que editou recentemente o volume Dentro la Bíbbia. La teologia alternativa di Armido Rizzi (Gabrielli editori). “Toda a teologia de Rizzi – ressalta – é teologia bíblica que desenvolve os quatro grandes temas da liberdade divina, da gratuidade, da justiça e da fraternidade. Ele se baseia no relato fundador da Bíblia, o Êxodo, em seu movimento quádruplo de sair do Egito, peregrinar pelo deserto, estipular a aliança e ingressar na terra prometida. Disso decorrem as grandes constantes da sua teologia: a libertação, a gratuidade ou graça, o pacto entre Deus e o homem e a terra prometida, símbolo, para a Bíblia, da divina utopia-realidade”.
Tristeza e orações, em memória de Armido Rizzi, são expressas pela Associação Teológica Italiana.
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Armido Rizzi, teólogo do ágape e da liberdade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU