08 Julho 2020
Doenças infecciosas zoonóticas estão se intensificando como consequência do apetite humano por proteínas de origem animal.
A reportagem é publicada por Vegazeta, 07-07-2020.
A Organização das Nações Unidas (ONU) publicou nessa segunda-feira, dia 6, um relatório afirmando que entre as tendências que favorecem pandemias a partir de doenças zoonóticas, ou seja, entre animais e humanos, estão a crescente demanda por proteína animal, a expansão da agropecuária, o aumento da exploração da vida silvestre e a crise climática.
Segundo a publicação, a crescente demanda por alimentos de origem animal estimula a intensificação e industrialização da produção animal. Com isso, quanto mais a agropecuária cria e confina animais com o mesmo perfil genético, e próximos uns dos outros, mais se tornam suscetíveis a contrair e disseminar novas doenças.
“Animais domésticos estão sendo mantidos em estreita proximidade e, muitas vezes, abaixo da condição ideal. Essas populações hospedeiras geneticamente homogêneas são mais vulneráveis às infecções do que aquelas geneticamente diversas”, informa o relatório “Prevenir a Próxima Pandemia: Doenças Zoonóticas e Como Quebrar a Cadeia de Transmissão”.
A publicação, que sugere medidas para reduzir a proliferação de doenças zoonóticas como a covid-19, cita que a gripe suína surgiu como consequência da criação de porcos em confinamento.
O relatório de 82 páginas afirma que com a expansão da agropecuária a partir da década de 1940, fortalecendo os sistemas de criação intensiva, houve ampliação do número de doenças infecciosas zoonóticas em mais de 50%.
“Além disso, cerca de um terço das terras cultivadas está sendo usado para alimentação animal. Em alguns países [incluindo o Brasil], isso impulsiona o desmatamento.”
Em maio, a ONU disponibilizou em seu canal no YouTube um vídeo que aponta que as monoculturas de animais nos aproximam de pandemias.
O vídeo cita como exemplo o desmatamento e o impacto causado na vida de animais silvestres que, em decorrência da intervenção humana, acabam tendo uma maior relação de proximidade. Isso pode facilitar a transmissão de doenças para espécies domésticas, como é o caso do gado criado em grande escala.
“Se você remover alguns desses [animais que atuam como] hospedeiros e criar uma monocultura de animais, eles provavelmente serão transmissores de doenças”, diz Bernard Bett, especialista em doenças infecciosas negligenciadas e emergentes do Instituto Internacional de Pesquisa Pecuária.
Isso explica porque é importante proteger a natureza, já que a alta diversidade de espécies hospedeiras pode reduzir o risco de doenças – o que é chamado de efeito de diluição.
Embora as doenças zoonóticas sejam compartilhadas entre animais e pessoas, manter a natureza e a diversidade de espécies intactas nos protege de pandemias, segundo a ONU.
“Precisamos investir em conhecimentos científicos sobre como a atividade humana pode afetar potenciais zoonoses no futuro. Agora é hora de apreciar o papel da saúde do nosso planeta e tomar atitudes urgentes para conservar a natureza.”
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Crescente demanda por carne impulsiona pandemias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU