12 Mai 2020
Diferentemente da maioria dos países, a Suécia optou por uma abordagem mais branda para evitar a disseminação do coronavírus, o que provocou um debate sobre como os governos deveriam enfrentar a pandemia mortal.
A reportagem é de Junno Arocho Esteves, publicada por Catholic News Service, 11-05-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A alta taxa de mortalidade entre idosos e idosas que vivem em asilos no país levou muitos, inclusive o único cardeal sueco, a questionar se as medidas que buscam proteger os mais vulneráveis estão funcionando.
“Não sou especialista, então é difícil julgar. Mas eu diria que muitos aqui na Suécia estão preocupados e, também, as autoridades reconheceram que não temos conseguido dar aos mais velhos a proteção de que precisam”, disse o cardeal Anders Arborelius, de Estocolmo, ao Catholic News Service em 7 de maio.
Mesmo com as autoridades suecas pedindo que as pessoas trabalhassem remotamente e que restringissem os ajuntamentos de mais de 50 pessoas no início da crise, locais como restaurantes e bares, além das escolas para crianças menores de 16 anos, continuaram abertos.
Anders Tegnell, principal epidemiologista do país, disse ao sítio noticioso CNBC, também em 7 de maio, que os casos em Estocolmo – epicentro do surto – atingiram o pico e que o número de pessoas nos hospitais “está claramente caindo”.
Estima-se que, até o dia 8 de maio, 3.040 pessoas haviam morrido do coronavírus na Suécia. Este número é o mais alto entre os países nórdicos. Nessa data, a Dinamarca contabilizou 514 mortes, enquanto 255 pessoas morreram na Finlândia e 217 na Noruega.
De acordo com um estudo publicado em 6 de maio pela Universidade John Hopkins, a taxa de mortalidade na Suécia atualmente é de 28,88 para cada 100 mil pessoas. Nos Estados Unidos, que tem o maior número de casos no mundo, a taxa de mortalidade é de 22,44.
Além disso, as estatísticas divulgadas em 6 de maio pelo Departamento Nacional de Saúde e Assuntos Sociais sueco mostraram não apenas que 90% das vítimas da Covid-19 tinham 70 anos ou mais, mas que metade dessas vítimas morava em asilos administrados pelo governo.
“Se caminharmos pelas ruas de Estocolmo, veremos mais pessoas do que em outras partes da Europa”, diz Arborelius. Mas, devido à alta taxa de mortalidade, “há uma discussão em andamento aqui na Suécia: estamos fazendo a coisa certa?”
O cardeal sueco contou ao Catholic News Service que a abordagem adotada pela Diocese de Estocolmo é “um pouco mais rigorosa” e, ao contrário do governo, a Igreja Católica escolheu encerrar as aulas de catecismo para as crianças e jovens.
Algumas igrejas começaram a abrir aos poucos depois da Páscoa, ao mesmo tempo observando as regras do governo que limitam as reuniões de mais de 50 pessoas, mas outras continuam transmitindo missas para idosos e doentes, disse ele.
“Podemos dizer que tentamos fazer o que podemos, mas também vemos que existem algumas necessidades. Muitos dos imigrantes indocumentados também são católicos e perderam o seu trabalho, perderam suas moradias”, disse Arborelius.
Em uma carta aberta ao primeiro-ministro sueco, Stefan Lofven, Arborelius e outras lideranças cristãs solicitaram ao governo que proteja os migrantes e os desabrigados, população que corre o maior risco de infeção e que mais sofre com as consequências econômicas.
“Os direitos humanos devem se valer a todos os que vivem em nosso país, sem distinção. As igrejas e a maioria da sociedade civil fazem o que podem. Igrejas, como o vírus, não fazem distinção entre cidadãos e não cidadãos. Tampouco o Estado pode fazer distinção. É por isso que exigimos ação, já!”, lê-se na carta.
Arborelius contou ao Catholic News Service que espera que a carta “abra os olhos do governo”.
A Suécia é “um país muito burocrático e, se não temos todos os documentos, não existimos”, afirmou. “Essa era a nossa preocupação e agora esperamos que o governo reaja e tente fazer alguma coisa por esse grupo vulnerável de pessoas”.
O religioso católico informou o seu desejo de que a pandemia provoque “um despertar espiritual” na Suécia.
Segundo ele, “temos visto alguns sinais disso também. Pessoas que nunca se interessaram pela Igreja antes, hoje procuram por missas ou celebrações religiosas na internet”. Ele observou que, pela primeira vez, a rede nacional de televisão sueca transmitiu a Vigília Pascal.
As palavras e ações do papa Francisco nesta crise, acrescentou Arborelius, também tocou as pessoas na Suécia, especialmente a sua bênção extraordinária “urbi et orbi” (à cidade de Roma e ao mundo) no final de março.
“Realmente, foi uma imagem de sua importância na fraqueza, na pobreza. Acho que muitos aqui têm a imagem de que a Igreja Católica é poderosíssima, muito rica. E, então, elas veem este homem solitário de pé, em nome de toda a humanidade, a pedir a ajuda de Deus”, comentou Arborelius.
“Portanto, eu acho que, para muitos outros cristãos, bem como para muitos não crentes, a presença do Santo Padre se tornou mais evidente”, disse.
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Abordagem sueca à pandemia: um risco a idosos e minorias, diz cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU