04 Março 2020
Renovando seu “chamado urgente a responder à crise ecológica”, o Papa Francisco convidou 1,3 bilhão de católicos do mundo inteiro para participarem de uma semana de celebração e ação em maio, comemorando o quinto aniversário da sua marcante encíclica Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada em National Catholic Reporter, 03-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em uma mensagem de vídeo publicada no dia 3 de março, Francisco anunciou oficialmente a Semana Laudato si’, que ocorrerá de 16 a 24 de maio. Durante os nove dias, o papa pede à comunidade católica global que empreenda ações ambiciosas para enfrentar os crescentes perigos ambientais que o planeta e as pessoas enfrentam – as mudanças climáticas; os ecossistemas da Amazônia, da Austrália e do Ártico que se aproximam de pontos críticos; e a ameaça sem precedentes da perda de biodiversidade enfrentada por um milhão de espécies vegetais e animais.
A iniciativa é a mais recente liderada pelo Vaticano sob Francisco, que, durante seus sete anos de papado, tem chamado persistentemente os católicos e não católicos a uma conversão ecológica para salvaguardar o ambiente e preservar seus recursos naturais para as gerações presentes e futuras.
O vídeo de um minuto começa com imagens de montanhas encobertas por nuvens, enquanto Francisco repete uma pergunta que ele fez pela primeira vez na Laudato si’ : “Que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que nos sucedem, às crianças que estão crescendo?”.
Em seguida, o vídeo mostra filmagens de jovens participando de uma manifestação pelo clima, gritando: “O que queremos? Justiça climática. Quando a queremos? Agora”.
“Renovo meu chamado urgente a responder à crise ecológica”, continua o papa. “O grito da Terra e o grito dos pobres não aguentam mais. Cuidemos da criação, dom de nosso bom Deus Criador. Celebremos juntos a Semana Laudato si’.”
O planejamento está em andamento há meses no Vaticano e em várias organizações católicas em todo o mundo, para encontrar formar de marcar o aniversário da Laudato si’ . Essas discussões buscaram maneiras de catalisar a Igreja coletiva a viver o ensino católico sobre o cuidado da criação, reduzindo o impacto ambiental e pressionando por medidas substanciais dos líderes mundiais para reduzir o rápido aquecimento climático.
A Semana Laudato si’ é promovida pelo Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, liderado pelo cardeal Peter Turkson. Mais de quatro dezenas de organizações católicas internacionais e nacionais já se associaram ao evento, incluindo o Movimento Católico Global pelo Clima, Renova+, Caritas Internationalis e a União Internacional de Superiores Gerais.
A encíclica, uma carta papal de autoridade, foi assinada por Francisco no dia 24 de maio de 2015 e foi lançada um mês depois, em 18 de junho. Foi a primeira encíclica papal inteiramente dedicada ao ensino da Igreja sobre o ambiente e a ecologia humana.
Desde a sua publicação, a Laudato si’ tem animado milhares de congressos, manifestações e ações ficadas no clima em todo o mundo católico. Paróquias e dioceses deram origem a equipes de cuidado da criação e instalaram painéis solares em seus terrenos e, em alguns casos, ajudaram a reassentar suas comunidades, pois suas casas estão ameaçadas pelo aumento do nível do mar.
Centenas de organizações católicas desinvestiram suas finanças de empresas de combustíveis fósseis e defenderam fortes políticas climáticas. As organizações de ajuda e socorro responderam às regiões atingidas por devastadores desastres relacionados ao clima e, com isso, trabalharam com comunidades pobres e marginalizadas, que frequentemente sofrem mais com tempestades, secas e incêndios florestais exacerbados pelas mudanças climáticas, para estabelecer planos de mitigação e adaptação.
Apesar desses passos, o sentimento dentro dos grupos católicos em sintonia com as questões ambientais é que as atuais ameaças da atividade humana aos ecossistemas exigem mais da Igreja – tanto como uma liderança no cenário mundial, quanto na conscientização de seus membros da responsabilidade cristã com o cuidado da criação de Deus.
Em novembro, o presidente cessante da Conferência dos Bispos dos EUA [cardeal Daniel DiNardo, de Galveston-Houston] disse que as mudanças climáticas são “importantes”, mas não “urgentes”.
O Movimento Católico Global pelo Clima disse em um comunicado à imprensa: “Com cerca de um sexto da população mundial organizada em mais de 220 mil paróquias ao redor do globo, a Igreja Católica desempenha um papel único e vital no combate da crise ambiental”.
Seu diretor executivo, Tomás Insua, acrescentou: “O Papa Francisco está nos chamando a voltar para o núcleo de quem somos como cristãos: pessoas que amam os nossos próximos como a nós mesmos. A catástrofe climática está aumentando o risco de fome, doenças e conflitos para os nossos próximos mais vulneráveis. Cada minuto que gastamos aquecendo o planeta é uma tragédia para os mais vulneráveis. O Papa Francisco está nos chamando com urgência para agir com base nos valores da nossa fé, aqui e agora”.
Os cientistas climáticos concluíram que, para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, é necessário limitar o aumento médio da temperatura a 1,5ºC até o fim do século. Para colocar o planeta nesse caminho, as emissões globais de gases do efeito estufa devem ser reduzidas pela metade na próxima década antes de zerar as emissões até 2050.
Desde o fim do século XIX, o planeta aqueceu 1ºC e atualmente está no ritmo de aquecimento de 3-4ºC até 2100.
O quinto aniversário da encíclica ocorre em meio a vários marcos importantes para a comunidade ambiental em geral. O dia 22 de abril marcará a 50ª celebração do Dia da Terra. Os organizadores do evento esperam incentivar um bilhão de pessoas a aumentar a pressão sobre os líderes mundiais por ações contra as mudanças climáticas antes da COP-26, a cúpula climática das Nações Unidas a ser realizada em Glasgow, na Escócia, e liderada pelo Reino Unido.
Naquele encontro, que marcará o quinto aniversário da adoção do Acordo de Paris, espera-se que as nações apresentem planos mais ambiciosos para reduzir suas emissões.
O aumento do foco vaticano no ambiente em 2020 vem depois de a Santa Sé sediar um Sínodo Especial sobre a Amazônia em outubro de 2019. Nesse encontro, bispos, líderes indígenas e organizações católicas da floresta amazônica pediram um maior compromisso da Igreja universal para enfrentar a destruição ecológica.
Em sua própria resposta ao Sínodo Amazônico, a exortação “Querida Amazônia”, Francisco escreveu: “Não haverá uma ecologia sã e sustentável, capaz de transformar seja o que for, se não mudarem as pessoas, se não forem incentivadas a adotar outro estilo de vida, menos voraz, mais sereno, mais respeitador, menos ansioso, mais fraterno”.
Um site para a Semana Laudato si’ (laudatosiweek.org) servirá como um centro de informações para as várias ações e eventos planejados pelos católicos. Ele também inclui subsídios para ajudar as paróquias e outros grupos a darem passos para marcar os cinco anos da encíclica.
Alguns grupos já deram passos desenvolvendo planos específicos. Em janeiro, o Catholic Climate Povenant, com sede nos EUA, lançou o seu Catholic Climate Project, uma iniciativa intergeracional para incentivar os católicos estadunidenses a se comprometerem e defenderem soluções climáticas ambiciosas. O projeto planeja coordenar ações como ritos de oração, liturgias e projetos de serviço, manifestações públicas, formações em sala de aula e negociações com líderes políticos e eclesiais.
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Semana Laudato si’: Francisco faz “chamado urgente” para o quinto aniversário da encíclica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU