25 Setembro 2019
Martin Wolf, o mais influente comentarista econômico liberal, colunista do Financial Times de Londres, expressa uma conclusão premente: “É necessário mudar o capitalismo”. Está escrevendo um livro, mas um artigo seu tem causado alvoroço nos ambientes mais importantes dos líderes do capitalismo global, desorientados pela novidade dos problemas que se agravam e que os faz buscar instintivamente um modelo que traga as chaves para seguir em frente. Esse mundo trouxe um amplo apoio às conclusões de Wolf escritas no FT, surpreendendo o próprio autor, que fez essa confissão ao jornal La Repubblica de Roma, em uma entrevista na qual o título diz tudo: “Muita disparidade, as pessoas não confiam mais no sistema".
A reportagem é de Júlio Algañaraz, publicada por Clarín, 23-09-2019. A tradução é do Cepat.
Segundo Wolf, muitos dos grandes problemas do mundo de hoje estão entrelaçados e reconhecem uma mesma causa: “O capitalismo não funciona mais”. “Há muita desigualdade, empresas que ignoram legalmente o fisco, monopólios digitais que dominam o mundo e estão fazendo as pessoas perderem a confiança no capitalismo democrático. Se continuarmos assim, o sistema corre o risco de não sobreviver”.
Um diagnóstico avassalador. “É óbvio que a economia nos países ocidentais não está funcionando bem por causa dos problemas que se acumularam nos últimos quarenta anos, especialmente na última década. Podem ser resumidos em três pontos: queda de produtividade, aumento da desigualdade, poder extra financeiro”.
O contragolpe sobre as pessoas é “uma profunda desilusão, a impressão de que o sistema capitalista não distribui mais um bem-estar difuso: recompensa alguns poucos em prejuízo de muitos".
A visível consequência política é a onda de populismo que está chocando o mundo. Martin Wolf argumenta que duas bandeiras do nacionalismo em expansão, culpar a globalização e o fenômeno das renovadas ondas imigratórias, são uma fraude. “A culpa é do capitalismo que não funciona mais”, insiste.
Wolf acredita que “o setor financeiro não oferece benefícios suficientes para a economia real. A concorrência diminui, especialmente no campo digital, com gigantescos monopólios e uma mentalidade de ganhador que se agarra a tudo. Os gerentes das empresas obtêm receitas muito altas em relação aos trabalhadores médios. As grandes corporações não pagam impostos, não precisam sonegar, basta a evasão fiscal se tornou uma grande indústria capaz de esconder legalmente imensos capitais em paraísos fiscais”.
Por este caminho, é inevitável que a falta de confiança das pessoas faça com que o sistema perca sua legitimidade. “Se as coisas não melhorarem, não podemos ter certeza que o sistema sobreviverá”.
No Financial Times, Wolf havia escrito outro diagnóstico quase letal para os tempos que correm. “Necessitamos de uma economia capitalista dinâmica que dê a todos uma crença justificada de que podem compartilhar os lucros. Em vez disso, temos cada vez mais capitalismo rentista instável, uma concorrência debilitada, um fraco crescimento da produtividade, uma alta desigualdade e, não por acaso, uma democracia mais degradada. A maneira como nossos sistemas econômicos e políticos funcionam deve mudar ou perecerão”.
Uma novidade histórica é a consciência que se espalha rapidamente entre os jovens de que o planeta é patrimônio de todos e são eles que o habitarão e administrarão nas próximas décadas. As mobilizações juvenis atraem a atenção das altas esferas do capitalismo global. Muitos grandes responsáveis já aceitam que as mudanças climáticas e a luta contra a desigualdade afetam os negócios e é necessário encontrar novas soluções. Por conveniência, não por bondade, existem boas razões para mudar.
Trezentos jovens líderes que no futuro serão empreendedores, executivos de fundos e intelectuais do mundo econômico foram reunidos pela Universidade de Harvard para examinar essa nova realidade que caminha para estar no centro do palco.
Objetivo: como é necessário reinventar o capitalismo [?]. Agora que acabou o principal motor do capitalismo, que era a energia de baixo custo, é preciso procurar novos valores, opções de consumo. As mudanças climáticas já ocupam um lugar preponderante em qualquer análise e nas experiências que as empresas realizam. Também a convicção de que não se pode continuar com enormes e crescentes desigualdades entre países e setores sociais. Não fazem bem aos negócios. É inevitável a transição para economias renováveis. Um comentarista elogiou o tema musical que um grupo de jovens líderes cantou em Harvard como símbolo deste momento. “Cambia, todo cambia”, cantaram, inspirados no gênio de Mercedes Sosa.
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“O capitalismo não funciona e deve ser mudado urgentemente”, avalia Martin Wolf, o mais influente comentarista econômico liberal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU