13 Junho 2019
Consumo frequente de alimentos ultraprocessados pode causar doenças cardiovasculares e crônicas
A reportagem é de Laura Alegre, publicada por Jornal da USP, 12-06-2019.
Alimentos ultraprocessados são pobres nutricionalmente, ricos em açúcares e gorduras e têm sabor realçado por meio de aditivos químicos. O Ministério da Saúde aconselha evitar esse tipo de comida, e pesquisas divulgadas recentemente corroboram com essa ideia. Teses indicam a relação entre consumo de ultraprocessados e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e crônicas. Para saber mais sobre esse assunto, o Jornal da USP no Ar conversou com a pesquisadora Eurídice Martínez Steele, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
Eurídice conta que a Universidade de Paris foi a primeira a fazer uma pesquisa mais aprofundada nessa área. O estudo francês foi baseado em aproximadamente 105 mil adultos, com média de idade de 43 anos, que responderam questionários dietéticos de 24h para mensurar tudo que eles ingeriram nesse período. Os resultados foram interessantes: “A pesquisa mostrou que aqueles que consumiram mais alimentos ultraprocessados tiveram mais problemas cardíacos. Isso é, o acréscimo de 10% de alimentos ultraprocessados na dieta aumentava em 12% o risco relativo de doenças cardiovasculares, coronárias e cerebrovasculares”, conta.
Mais tarde, a Universidade de Navarra, na Espanha, complementou essa descoberta numa pesquisa menos restrita. Foram avaliadas as possíveis associações entre a ingestão de alimentos ultraprocessados e o risco de morte, por qualquer causa. Nesse estudo, cerca de 20 mil pessoas, com média de 38 anos, foram analisadas durante uma década. Os participantes nesse caso responderam a questionários, assim como na metodologia francesa, e os resultados mostraram que o consumo desse tipo de alimento estava associado ao aumento de 62% no risco de mortalidade, chegando à conclusão de que “consumir mais de quatro porções de ultraprocessados ao dia aumenta em 62% o risco de morrer por qualquer motivo, em comparação à ingestão de porções diárias pouco processadas. Para cada porção extra, o risco de morte sobe em 18%”, revela a especialista.
O Nupens seguirá um método similar aos internacionais no desenvolvimento de seu próprio estudo. Serão acompanhados mais de 200 mil brasileiros voluntários, com mais de 18 anos, por aplicativos instalados em celulares. O objetivo é avaliar a associação entre qualidade da dieta e desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, diabete, hipertensão e até mesmo o câncer. O período de análise é de dez anos. Para saber mais sobre como se voluntariar e acompanhar as etapas da pesquisa, basta acessar o site do núcleo.
Eurídice também ressalta que diversos outros fatores podem levar às doenças mencionadas, não somente a ingestão frequente de produtos dessa categoria. Ela conta que “os comportamentos humanos tendem a estar relacionados aos riscos de desenvolver doenças. Por exemplo, aqueles que ingerem mais alimentos ultraprocessados podem ter maior tendência a fumar e menor tendência a praticar atividade física, o que não faz bem à saúde”.
Medidas de conscientização são essenciais para que a população seja alertada e busque revisar seus hábitos alimentares. De acordo com a pesquisadora, a diminuição do consumo de ultraprocessados é uma medida ideal, porém muito complexa, pois “precisamos pensar em macro, ou seja, pensar sobre toda a sociedade ao invés de somente pensar no indivíduo, já que a responsabilidade por nossa alimentação é compartilhada com o Estado, que tem seu papel na promoção de uma alimentação saudável”.
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Má alimentação potencializa desenvolvimento de doenças crônicas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU