21 Mai 2019
Uma brusca troca de farpas entre o ministro Salvini e seus críticos pelo rosário que o vice premiê voltou a agitar no comício de Milão, no sábado: Avvenire, Famiglia Cristiana e o jesuíta Spadaro, diretor da Civiltà Cattolica, acusaram-no de explorar a religião e ele respondeu que está "orgulhoso" de carregar sempre o rosário no bolso.
A reportagem é de Luigi Accattoli, publicada por Corriere della Sera, 20-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nota de IHU On-Line: Veja o vídeo do ministro Salvini, com o rosário na mão, no comício de Milão, clicando aqui (em italiano).
Ele quis rebater que com aquele gesto não está manipulando, mas fazendo referência a um símbolo que lhe pertence. "O mandamento de não falar o nome de Deus em vão - escreveu o padre Antonio Spadaro em seus perfis no Facebook e Instagram - pede para não usá-lo para os próprios propósitos: a consciência crítica e discernimento deveriam ajudar a entender que não é um comício político o lugar para fazer litanias em nome de valores que nada têm a ver com o Evangelho de Jesus”.
E ainda: "A consciência cristã deveria se sobressaltar com desdém e humilhação vendo-se manipulada e usada assim como mercadoria. A reação de Cristo ao uso instrumental de Deus é a expulsão dos mercadores do Templo. Que sejam feitos discursos, que se vençam ou percam as eleições, mas diante de Deus é preciso tirar as sandálias".
Ainda mais ressentida foi a reação da Famiglia Cristiana, que já em outra oportunidade havia usado a expressão evangélica contra o ministro do Interior "Vade retro": "O rosário agitado por Salvini e os apupos da multidão ao Papa Francisco, eis o soberanismo fetichista". "Ontem - continua o semanário - foi encenado em Milão o enésimo exemplo de exploração religiosa para justificar a violação sistemática por nosso país dos direitos humanos. Enquanto o líder da Lega Nord exibia o Evangelho, outro navio carregado de vidas humanas era mandado de volta e a ONU nos condenava pelo decreto da segurança”.
Um convite educado para não misturar fé com política também veio do secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Parolin, perguntado por jornalistas nos bastidores da Festa dos Povos, que ele celebrou na Praça San Giovanni, em Roma: "Eu acredito que a política partidária divida; mas, Deus pertence a todos. Invocar Deus para si mesmos é sempre muito perigoso”.
No mesmo tom veemente de Spadaro e da Famiglia Cristiana, também foi o comentário sobre o gesto de Salvini que veio de Avvenire, o cotidiano dos bispos: "Com o rosário rezamos, não realizamos comícios". "Eu sou o último dos bons cristãos - respondeu Salvini à margem de um encontro em Sassuolo - mas estou orgulhoso de circular com o rosário sempre no meu bolso."
Por fim, deve ser sinalizado um protesto da presidente da Comunidade Judaica Romana, Ruth Dureghello, que não é tanto contra Salvini, mas contra seus aliados suprematistas nostálgicos do fascismo: "Acreditávamos que havíamos derrotado aquele mal, mas depois de 70 anos o mal reapareceu com faixas e manifestações que exaltam símbolos que realmente pensávamos que nunca veríamos novamente".
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“Não ao rosário para fins políticos” Desavenças entre os católicos e chefe da Lega - Instituto Humanitas Unisinos - IHU