24 Abril 2019
Nunca é fácil admitir que você errou e decidir que deseja reparar o dano que seu erro causou. Menos ainda se você é um bispo e seu erro se trata de uma questão de doutrina, e menos ainda se você tem 69 anos de idade. Mas, isso é exatamente o que fez Thomas Gumbleton, bispo auxiliar já aposentado de Detroit, que reconheceu que por sua doutrina tão rigorosa sobre a homossexualidade, a Igreja “tem certa responsabilidade” pela ainda existente homofobia na sociedade.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 16-04-2019. A tradução é do Cepat.
“Minhas aulas de teologia moral foram muito inadequadas no que se refere à doutrina da homossexualidade. Nunca houve distinção entre a homossexualidade como escolha ou como parte da identidade de uma pessoa”, reconheceu Gumbleton em uma entrevista ao jornal italiano Quotidiano Nazionale. “Saí do seminário com a convicção de que [a homossexualidade] era uma escolha e, portanto, um pecado. Não fui preparado para acompanhar os gays e lésbicas em suas lutas”, reconheceu aquele que foi bispo auxiliar de Detroit, entre 1968 e 2006, acrescentando que, “sim, cometeu erros em seu ministério com este coletivo.
Uma saída do armário inesperada
Pedir aos fiéis gays e lésbicas para que renunciassem suas relações com pessoas do mesmo sexo – assim como fez durante grande parte de seu ministério –, “obviamente, não foi o conselho correto”, reconheceu Gumbleton, recordando que o ponto de inflexão para ele veio quando seu próprio irmão, casado e com quatro filhos, saiu do armário. É uma das razões pelas quais Gumbleton sente tão profundamente o dano que a linguagem doutrinal de que a pessoa homossexual é “intrinsecamente desordenada” provoca.
Gumbleton acredita que esta linguagem de “desordem” “cria medo, ira e leva as pessoas a fazer falsos juízos sobre as pessoas LGBT”. “Nenhum pai jamais deve dizer a um filho que ele ou ela é intrinsecamente desordenado”, alertou o prelado. “Que a Igreja ensine isso é um insulto ao pai e o filho”, criticou, recordando que “eu tive pais que se aborrecem muito, se isto ao menos é mencionado, e eu não lhes culpo”.
“A doutrina da Igreja ainda está em desenvolvimento”
Contudo, ainda há motivos de esperança para os fiéis LGBT. “A doutrina da Igreja ainda está em desenvolvimento” no que se refere à homossexualidade, opinou Gumbleton, explicando que em sua avaliação a respeito da experiência dos LGBT que já nascem com esta identidade afetiva, “a Igreja deve continuar explorando a questão mais a fundo, a partir de um ponto de vista científico”.
A inspiração para esta reconsideração, prosseguiu Gumbleton, é o próprio Papa Francisco, “que acolheu pessoas gays em seu círculo de amigos”. “Ao fazer isso [o Papa], pergunta: ‘Quem sou eu para julgar?’”. “Se duas pessoas seguem a sua consciência, eu não tenho o direito de interferir”, concluiu o bispo.
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Estados Unidos. Bispo considera um “insulto” a doutrina de que os gays são ‘intrinsecamente desordenados’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU