28 Março 2019
“A relação entre o combate ecológico e a questão do feminismo parece-me ainda mais óbvia, uma vez que o machismo e o patriarcado, em vigor nos últimos 5.000 anos, levaram à destruição da Terra”. A reflexão é de Gaël Giraud, economista e jesuíta francês, em artigo publicado por La Vie, 20-03-2019. A tradução é de André Langer.
A relação entre o combate ecológico e a questão do feminismo parece-me ainda mais óbvia, uma vez que o machismo e o patriarcado, em vigor nos últimos 5.000 anos, levaram à destruição da Terra. O patriarcado mediterrâneo surgiu na Mesopotâmia entre o terceiro e o segundo milênio a.C., em famílias de nômades pobres, onde os pais endividados são forçados a vender suas filhas ou a esposa para pagar suas dívidas.
A virgindade de uma mulher torna-se então uma “prova” de que seu pai pagou suas dívidas. O uso do véu (que não tem nada a ver com o Islã) é uma manifestação pública disso: as prostitutas, por sua vez, têm a cabeça descoberta. Mas a violência dos credores urbanos da Suméria, Assíria ou Babilônia (a “prostituta”), que escravizam as filhas de seus devedores, mantém uma relação subterrânea, secreta, com o gozo dos seres humanos que, ao comerem carne, manifestam que estão no topo da hierarquia dos predadores do planeta. E também com o desprezo pelo planeta dissimulado pelo produtivismo contemporâneo e do qual procedem os desastres ecológicos em curso. É o que Jacques Derrida tentou designar com o conceito de “carnofalogocentrismo”, com o qual associa o caçador carnívoro e falocêntrico ao “logocentrismo” ocidental, isto é, a uma certa metafísica enraizada em Parmênides, e que confunde o ser ou Deus com a violência.
Isso também é denunciado pela encíclica Laudato Si’ (n. 123), quando o Papa Francisco escreve que a mesma lógica está em ação entre aqueles que violentam crianças, aqueles que abandonam os idosos e aqueles que afirmam que a onipotência dos mercados (especialmente os financeiros) possibilitará o enfrentamento dos desafios ecológicos. Os cristãos refletiram sobre isso? O produtivismo financeirizado de hoje é tão criminoso quanto a violência infantil.
Ora, nós estamos às vésperas de uma transformação social telúrica, onde o poder será, provavelmente, conquistado pelas mulheres no Ocidente. Pela primeira vez na história, as mulheres são em média mais educadas que os homens. Esta é uma boa notícia para as mulheres, as crianças e o planeta! Desde que as mulheres no poder não se sintam obrigadas a imitar os homens. O corpo social masculino, pouco a pouco, começa a tomar consciência disso, creio eu: as reações populistas de extrema-direita também são uma maneira de reafirmar uma autoridade masculina violenta e patriarcal.
A própria Igreja Católica enfrenta esse desafio colossal. Na segunda metade do século XX, ela perdeu, no Ocidente, boa parte das classes populares. No início do século XXI, seu desafio consiste em não perder as mulheres. A socióloga Danielle Hervieu-Léger – que dificilmente pode ser suspeita de má vontade em relação ao catolicismo – soa o alarme. “Prestem atenção – nos diz em essência –, são as mulheres que levam a Igreja. Se vocês continuarem a mantê-las em um estatuto de menoridade, também elas acabarão deixando as sacristias”.
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Para uma transição ecológica... e feminista. Artigo de Gaël Giraud - Instituto Humanitas Unisinos - IHU