04 Outubro 2018
Pelo terceiro ano consecutivo, aumenta a fome. São 821 milhões de pessoas, a maioria mulheres e crianças, em risco de insegurança alimentar. Um aumento de seis milhões de famintos em comparação com dados anteriores, de acordo com os dados da ONU presentes em seu último relatório. Uma emergência dramática e esquecida - agravada não só por conflitos sangrentos, mas também por fenômenos climáticos cada vez mais intensos e complexos - que está afetando especialmente a África subsaariana, onde se encontram nesta difícil condição mais de 236 milhões pessoas (uma em cada quatro). A situação mais grave é na África Oriental, onde a população é afetada pelo impacto das alterações climáticas, especialmente devido às graves secas dos últimos dois anos que têm literalmente queimado pastagens e terras, causando perda de milhões de cabeças de gado, das quais depende a subsistência diária de milhões de pessoas. Soma-se a isso o efeito das chuvas sazonais dos últimos meses e das inundações, que só na Etiópia atingiram e podem afetar mais de dois milhões e meio de pessoas, obrigando-as a fugir de suas casas.
A reportagem é publicada por L'Osservatore Romano, 03 a 04-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na Etiópia, um terço da população (que normalmente vive de agricultura e criação de subsistência) passa fome. No momento existem 7,9 milhões de pessoas em risco. Os primeiros a serem afetados são crianças e mulheres: dois milhões de crianças não têm comida suficiente, e mais de 350.000 estão desnutridas, e muitas mulheres sofrem com a falta de nutrientes básicos. Apesar de constituir mais de 43% da força de trabalho na agricultura a nível global, e mais da metade em uma região como a África Oriental, as mulheres têm menor acesso à terra, às sementes, aos insumos, à tecnologia, ao crédito e à formação técnica. São discriminadas no acesso ao mercado de trabalho agrícola e muitas vezes relegadas a desempenhar trabalho não remunerado nos campos.
Uma situação igualmente grave é encontrada no Sudão, onde, principalmente por causa da seca, cerca de 4,8 milhões de pessoas, metade das quais são crianças, são seriamente afetadas pela escassez de alimentos. Tudo isso num contexto em que o preço dos cereais básicos como o sorgo, painço e trigo subiu rapidamente, com a consequência que o preço do pão, por exemplo, em um ano aumentou 300 por cento.
Enquanto fortes chuvas e inundações nos últimos meses atingiram mais de 142.000 pessoas em 14 dos 18 estados sudaneses, colocando ainda mais em perigo a capacidade de subsistência das comunidades mais vulneráveis.
A FAO também, em um relatório recente, destacou a urgência de soluções concretas para pôr fim ao problema.
"O número de pessoas subnutridas aumentou", disse em um recente discurso Bukar Tijani, diretor-geral adjunto da FAO e Representante Regional para a África. "Muitos fatores levaram a esta situação, incluindo o aumento da percentagem daqueles que sofreram grave insegurança alimentar, devido à impossibilidade de ter acesso aos alimentos. Além disso, condições meteorológicas adversas e conflitos, que muitas vezes ocorrem simultaneamente, são fatores-chave que determinam esse aumento da insegurança alimentar na região", esclareceu Tijani. A prevalência de desnutrição crônica - explicou a FAO – aumentou, passando de 20,8 para 22,7% entre 2015 e 2016.
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Milhões de pessoas estão passando fome. Emergência na África sub saariana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU