Por: Rafael Francisco Hiller | 24 Mai 2018
É comum no âmbito da filosofia realizarmos a diferença entre os conceitos de ética e de moral. Tal distinção ocorre desde a publicação dos escritos de Bernard Williams. Ele classifica os autores que se dedicam à moralidade como autores que buscam elencar quais as condições que uma determinada ação deveria satisfazer para que possa ser considerada moral, isto é, uma ação boa. O autor criticou essa visão estreita de moralidade e a classificou como uma abordagem muito “deficitária”, considerando as profundas e amplas discussões realizadas ao longo da história da filosofia em torno das questões referentes a uma boa vida, amizade, amor, identidade prática. Esse segundo panorama de estudos ele classificou de ética, estudo esse altamente associado com a filosofia desenvolvida na Grécia antiga.
Para Williams a filosofia havia deixado de lado as questões realmente importantes para o bem-viver e havia se perdido em reflexões em torno de princípios abstratos. Temas concretos vinculados a uma boa vida, bem como à felicidade, eram deixados de lado. A filosofia deveria ofertar respostas de cunho concreto, isto é, respostas que ajudariam a pensar no que é bom ser. A filosofia moral deveria novamente direcionar-se sobre as coisas referentes ao bem-viver, “o sentido e o valor que damos e podemos dar às nossas vidas”.
Nos inúmeros escritos de Thoreau pode-se notar uma intensa e incansável busca pela verdade, que, tal busca quando ingressa nos nossos corações, nos impõe a tarefa de repensar as questões mais íntimas da nossa existência. Essa especulação, de forma resumida, pode ser abreviada a partir de uma pergunta central: “como devemos viver?”. A partir disso podemos nos perguntar: Thoreau foi também um desobediente e revolucionário por ter defendido que “as caminhadas pelas florestas são uma fonte de cognição moral”? Eis a pergunta que carece de ser respondida.
Flavio Williges, no Cadernos IHU Ideias número 271, “mostra que as caminhadas nas florestas são, para Thoreau, uma fonte fundamental de conhecimento do bem-viver, da vida boa ou sábia”.
Williges aborda “duas dimensões do bem-viver discutidas em conexão com o caminhar em meio à natureza selvagem: a ideia de viver no presente e a ideia de manter o espírito sempre jovem, disposto para a vida”.
1. Introdução
2. O corpo e a natureza como fonte de iluminação moral
3. Instante de vida pura: cognição moral e absorção no presente
4. Walden e a jovialidade da vida e da natureza
5. Um epílogo: Rowlands e seu lobo
Flavio Williges é licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (1995), mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria em convênio com a USP (1998) e doutor em Filosofia pela UFRGS (2009). É Professor Adjunto IV, do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria.
Tem interesse nas seguintes áreas da filosofia: Epistemologia, com ênfase no ceticismo de Descartes e Hume e nos argumentos céticos contemporâneos e suas objeções, principalmente as diferentes formulações da teoria das alternativas relevantes (Austin, Wittgenstein, Dretske, Stroud, Michael Williams), ética das virtudes (Iris Murdoch, Hursthouse, Foot, Annas), ética do cuidado (Gilligan, Little, Held, Slote.Annette Baier), psicologia moral (caráter, eu moral, identidade prática), críticas emotivistas às abordagens kantiana e utilitarista da ética, ontologia e epistemologia das emoções (Nussbaum, Sherman, Goldie, De Sousa), emoções morais, teorias da felicidade, sabedoria e bem-viver.
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O que caminhar ensina sobre o bem-viver? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU