17 Março 2018
Os conservadores e fundamentalistas, não contentes com a execução de Marielle Franco, querem matá-la pela segunda vez, condenando-a por ser mulher, negra, pobre, de esquerda, feminista e homoafetiva.
O comentário é de César Kuzma, teólogo leigo, doutor em Teologia pela PUC-Rio, onde atua como professor-pesquisador do Departamento de Teologia, atual presidente da SOTER (2016-2019) e autor, entre outros, de Leigos e Leigas (Ed. Paulus; 2009), em artigo publicado no blog Caminho pra Casa, 16-03-2018.
Há um sistema que mata! Mas há um fundamentalismo e conservadorismo (político e religioso) que insistem em matar ainda mais, mesmo depois, tem que sangrar. Incrível!
Há limite para o ódio? Chega a ser assustador.
Interessante como alguns rótulos colocados tentam definir e marcar as pessoas. Não se vê mais nada além, são respostas impostas de fora, taxativas e preconceituosas. Triste! Absurdo!
Enquanto alguns choram a morte de Marielle, sendo ela simbólica pela forma como aconteceu e por ser ela a pessoa que era (pela história, vida e opções que a precederam), outros, sem compaixão, ou com um pseudo-autoritarismo, até cristão, dizem: mulher, negra, pobre, de esquerda, feminista, defensora dos DH, lésbica…. Ofensas que matam! De novo! E outra vez!
Estes jargões atirados são na verdade causas de luta e protesto contra uma sociedade que “mata” mulheres, negando e abusando de seus direitos, ainda mais se forem negras e pobres, quanto mais vindas de comunidades carentes que denunciam qualquer “bom costume” perante a violência e injustiça que são submetidas diariamente. Para ter e ser voz tem que lutar, tem que sair sem abandonar a casa e a causa, sem negar a si mesma, na sua condição de mulher. Negra mulher, preta na cor.
Triste pecado de ser mulher, negra, pobre, de esquerda, feminista e homoafetiva! “Pecado” que gera indignação em alguns, escândalo em outros, silêncio de instituições, mas força em todos aqueles e aquelas que acreditam, que vivem e tem esperança. Sim, pode ser diferente!
É, nossas opções custam caro, paga-se com a vida! Esta atitude deveria pautar o sentimento cristão, e não jargões pré-concebidos, retirados de uma guerra fria requentada. Obriga-se a um olhar mais atento e um calçar os sapatos do outro, da outra, para seguir o caminho trilhado e entender, mesmo que de longe, as opções tomadas e a luta buscada.
Diante da morte temos duas atitudes: reverência e clamor. Reverência pelo mistério, e justiça pelo sangue das vítimas que pulsa em nós e que espera a ressurreição.
Esta deveria ser a mensagem cristã para a Páscoa, frente aos novos crucificados e crucificadas de hoje, mortos pelos tiranos da história, na esperança de um novo dia, onde reine a justiça, o amor e a paz, para todos, e todas!
Leia mais
- 'Caso simbólico, Marielle pode servir de inspiração', diz especialista
- Marielle Franco, vereadora do PSOL, é assassinada no centro do Rio na saída de evento que reunia ativistas negras
- 'É chocante', diz diretor da ONU sobre morte de vereadora no Rio
- Vereadora do PSOL-RJ é assassinada após denunciar policiais
- “Democracia está ameaçada”, disse Marielle Franco em entrevista inédita
- 'Ela incomodava pequenas e grandes máfias', diz colega de partido de Marielle Franco, vereadora morta no Rio
- Marielle presente!
- O tempo das execuções
- Assassinato de Marielle Franco põe Planalto contra a parede
- Direção dos tiros contra Marielle reforça hipótese de ataque premeditado
- Batalhão alvo de denúncias de Marielle Franco é o que mais mata
- 'Tudo aponta para possível envolvimento de policiais', afirma coordenador criminal do MPF no Rio sobre Marielle
- Assassinato político de Marielle Franco reativa as ruas e desafia intervenção no Rio
- Tuitadas
- A primavera feminista chega às Câmaras
- Morte de mulheres negras avança 54% em 10 anos
- Feminicídio. Um crime diferente que demanda respostas diferentes. Entrevista especial com Débora Prado
- "Retaliar o feminismo é vital para quem ocupa hoje o poder"
- A intervenção militar no Rio. O desafio é construir um Estado que destine os recursos públicos para a maioria da população. Entrevista especial com Jailson de Souza e Silva
- Intervenção no Rio de Janeiro é mais uma encenação político-midiática. Entrevista especial com José Cláudio Alves
- Militares 'ficham' trabalhadores que moram em favelas no Rio de Janeiro
- As misérias da intervenção
- Para Sérgio Adorno, intervenção no Rio mostra 'falência da política'
- "Ministério da Segurança Pública e intervenção são medidas populistas"
- 'Oportunidade' ou 'ação indefensável'? Intervenção federal divide ex-secretários de segurança do Rio
- Intervenção no Rio: as regras do jogo democrático não são um “luxo para tempos de paz”
- Às armas, cidadãos! Qualquer que seja o resultado da ação militar no Rio de Janeiro, sai perdendo a sociedade civil, sai perdendo a democracia
- Brasil: Vinte e cinco anos de impunidade alimentam as mortes cometidas pela polícia no Rio de Janeiro
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A segunda morte de Marielle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU