25 Agosto 2016
O jesuíta colombiano Francisco de Roux, há um longo tempo envolvido nas negociações com as guerrilhas, apresentou-se como refém em troca da libertação de um parlamentar feito refém há meses.
Este gesto mostra até que ponto a Igreja da Colômbia está há décadas comprometida com o processo de paz nesse país devastado por uma guerra que já dura mais de meio século e que já provocou 260 mil mortos e milhões de deslocados.
A reportagem é de Samuel Lieven e publicada por La Croix, 22-08-2016. A tradução é de André Langer.
“Eu me ofereço em troca da libertação de Odin. Digam onde devo ir, tomem minha liberdade e soltem-no”. É sob a forma de uma mensagem curta lançada na rede social Twitter que o jesuíta colombiano Francisco de Roux se ofereceu, no dia 19 de agosto, em troca da libertação de um ex-senador feito refém há vários meses pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), a maior guerrilha depois das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Até o momento sem resposta, este audacioso gesto diz muito sobre o grau de envolvimento da Igreja colombiana na resolução do conflito armado que mina a Colômbia há mais de meio século (260 mil mortos, 7 milhões de deslocados).
Um cessar-fogo histórico foi assinado no último dia 23 de junho entre o presidente colombiano Juan Manuel Santos e a guerrilha das FARC, após uma maratona de cinco anos de negociações em Havana (Cuba).
Três quartos dos colombianos confiam em sua Igreja
O Pe. Francisco de Roux, mais conhecido como Pacho de Roux (seu pai era originário de Montpellier), é conhecido de longa data por seu compromisso em favor da paz. Este especialista em economia do desenvolvimento, formado entre Paris e Londres, desempenhou um papel de vanguarda nas negociações de Havana (Cuba).
Desde o começo do conflito, em 1964, a Igreja sempre esteve na linha de frente como mediadora ou para estar do lado das populações mais duramente atingidas. Enquanto quase três quartos dos colombianos têm uma imagem positiva da Igreja católica, segundo uma recente pesquisa encomendada pelos principais meios de comunicação nacionais (1), o Papa Francisco acompanhou muito de perto as negociações em Havana desde o início do seu Pontificado.
Quando um acordo de cessar-fogo começou a ser delineado em abril, os líderes das FARC pediram ao papa argentino seu apoio na reta final para ajudar a colocar um fim ao mais antigo conflito latino-americano.
Os principais elementos do acordo de paz concluído entre as FARC e o Governo dizem respeito à reforma agrária, ao tráfico de drogas (de orientação marxista, as FARC são financiadas pelo narcotráfico e por sequestros), à reintegração das FARC na vida política, na justiça e no acompanhamento das vítimas.
É sobre este último ponto que a Conferência Episcopal da Colômbia (presidida por dom Luis Augusto Castro Quiroga, arcebispo de Tunja) é oficialmente convidada a se dedicar. Ela participa desde o começo da comissão encarregada de ouvir as vítimas antes e depois das negociações. Sobre esse tema já aconteceram 10 audiências.
“A Igreja está amplamente engajada no processo de reconciliação nacional que passa pela consideração do sofrimento das vítimas e pelo respeito ao seu direito à verdade”, declarou dom Hector Fabio Henao Gaviria, diretor da Cáritas Colômbia e que participa das negociações, em sua passagem por Paris em março passado.
O ex-presidente decidiu fazer o processo fracassar
No entanto, a paz ainda não é uma conquista dada na Colômbia, apesar do cessar-fogo histórico de 23 de junho. É em relação à anistia dos ex-combatentes que o processo ainda pode naufragar. Enquanto isso, a campanha para conquistar o voto popular, sobre o acordo previsto pela Constituição e cuja data ainda não foi fixada, está em pleno andamento.
O ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) – cujo pai foi morto pelas FARC – faz campanha para que os colombianos não aceitem esse texto que ele considera muito condescendente com os guerrilheiros marxistas.
A Conferência Episcopal, por sua vez, publicou no dia 17 de agosto um comunicado (2) no qual diz que não faz campanha a favor do “sim” no referendo, como muitos meios de comunicação insinuaram, mas convida a população a participar de “maneira responsável” com um “voto informado”.
Para ser válido, o “sim” deve obter 4,4 milhões de votos, ou seja, 13% dos eleitores.
Notas:
(1) www.elespectador.com/noticias/politica/el-731-de-colombianos-tiene-una-imagen-favorable-de-igl-articulo-649675
(2) www.cec.org.co/sistema-informativo/destacados/episcopado-no-hace-campa%C3%B1a-por-el-s%C3%AD-e-invita-un-voto-consciente
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A Igreja colombiana na linha de frente no processo de paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU