Por: André | 30 Mai 2016
Enquanto os sete grandes do mundo discutem no Japão, uma vez mais, sobre o que fazer com os migrantes, os pobres e perseguidos continuam chegando à Europa aos milhares. E se eles não conseguem chegar, ao menos acreditam deixar em boas mãos os seus filhos. Inclusive o bebê de nove meses salvo esta semana e levado à ilha de Lampedusa enquanto sua mãe e seu pai morreram na travessia.
A reportagem é de Elena Llorente e publicada por Página/12, 27-05-2016. A tradução é de André Langer.
O bote começou a desinflar e em determinado momento a afundar. Os desesperados foram avistados por um navio de transporte norueguês, o Nord Gardeni, que comunicou a Guarda Costeira italiana. O navio norueguês embarcou muitos dos migrantes, mas alguns não conseguiram.
A pequena Favour (foto), pelo que parece, foi entregue por sua mãe a outra mulher que viajava no barco e que conseguiu se salvar, apesar de ter boa parte do corpo queimado gravemente, pelo sol e talvez porque esteve em contato com o motor do barco. Os passageiros deste barco eram, em sua grande maioria, africanos, principalmente do Mali e da Nigéria, e foram destinados a diferentes centros de recepção em Lampedusa e outras partes da Itália.
A pequena Favour, que agora sorri, mas que estava resfriada e desnutrida quando chegou a Lampedusa, segundo os médicos que a receberam, na última sexta-feira, deveria ter sido transferida para a capital da ilha da Sicília, Palermo, a um centro especial para menores. O Tribunal de Menores deveria encontrar uma família que quisesse adotá-la.
Histórias como estas enternecem o coração de muita gente que assim se interessa pelas notícias dos milhares de migrantes que morrem na travessia do mar e que, lamentavelmente, parte da imprensa europeia publica em quadros cada vez menores. Mas Favour não é o único caso. Outro, mais feliz que ela porque a mãe se salvou, foi o de Alex, um bebê nascido na sexta-feira no navio militar que acabava de resgatar sua mãe grávida. A mãe, originária do Camarões, quis dar ao bebê, como forma de agradecimento, o nome do capitão do navio que os estava levando a um centro de recepção na ilha da Sardenha.
Na quarta-feira passada, 540 pessoas foram resgatadas no Mediterrâneo por navios da Marinha Militar e da Guarda Costeira italianas. As imagens que os navios italianos filmaram são impressionantes porque eles estavam se aproximando quando o barco, desta vez de madeira, virou. As fotos mostraram que apenas alguns poucos migrantes tinham salva-vidas. O barco afundou em frente à costa da Líbia, a partir de onde, agora que a primavera europeia está proporcionando tempo muito bom, recomeçaram a partir embarcações com migrantes, um grande negócio para os traficantes de seres humanos. Foram contados pelo menos cinco mortos neste resgate.
Na quinta-feira, 26, os navios italianos fizeram pelo menos 22 operações de salvamento e foram resgatadas cerca de 4 mil pessoas em diferentes pontos do Mar Mediterrâneo, segundo um comunicado da Guarda Costeira. Em um desses casos, estima-se que cerca de 30 a 50 pessoas poderão ter morrido, um número que, por enquanto, não foi confirmado.
São mais de 40 mil os migrantes que chegaram a terras italianas desde janeiro deste ano, vindos principalmente da Nigéria, Gâmbia, Mali e Somália.
De acordo com dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), até o dia 15 de maio, teriam desembarcado em terras da União Europeia cerca de 190 mil migrantes, quase 32.500 dos quais na Itália e os demais na Grécia. Mas as águas mediterrâneas próximas à Itália têm o recorde de afogamentos neste ano: 976 contra os 376 das águas próximas à Grécia. À Grécia, por uma questão de proximidade e segurança, chegam sobretudo refugiados dos países em guerra do Oriente Médio como a Síria. À Itália chegam, em primeiro lugar, os migrantes vindos da África subsaariana, que embarcam na Líbia.
Em Ise-Shima, Japão, onde o G-7 está reunido para discutir também questões econômicas, o primeiro-ministro Matteo Renzi lembrou que “sem um plano estratégico para ajudar os migrantes em seus lugares de origem, nunca ganharemos o desafio africano. Se forem feitos uma série de investimentos nesses territórios e trabalhos com organizações internacionais nesses países, e se apoiarmos o governo de Fayed Al-Sarraj – governo apoiado pela ONU – na Líbia, o número de migrantes diminuirá”.
Como era de se esperar, a direita italiana não demorou em se manifestar. Matteo Salvini, máximo expoente do partido de extrema direita Liga Norte que luta para impedir a chegada dos imigrantes a toda costa, sobretudo se são negros e pobres, acusa Renzi de ser “cúmplice” das mortes no mar. Segundo Salvini, é preciso impor um bloqueio naval total para que as embarcações com migrantes não possam partir de nenhum porto africano.
Nota da IHU On-Line: A fonte da imagem é www.ilmattino.it
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Migrações. Favour, o milagre da sobrevivência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU