11 Mai 2016
Os 500 anos da Reforma de Lutero mudaram a história para sempre. Nesta entrevista, a bispa luterana Margot Kässmann, embaixadora do Ano Luterano da Igreja Evangélica da Alemanha, afirma: "A Igreja e a sociedade continuamente precisam ser reformadas. Se olharmos para o Papa Francisco, ele está reformando hoje a Igreja Católica". E "o que ele faz, os gestos que realiza em um mundo secularizado que excluiu Deus de si mesmo são o testemunho do que significa ser cristão hoje".
A reportagem é de Maria Chiara Biagioni, publicada no sítio da agência Servizio Informazione Religiosa (SIR), 10-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Reforma de Lutero? A 500 anos de distância, católicos e luteranos são novamente chamados pela história a pôr em discussão, de novo, estilos de vida e práticas consolidadas para se perguntarem se a Igreja hoje manteve-se fiel às suas raízes evangélicas e é capaz de repropor a questão de Deus nas sociedades secularizadas do Ocidente.
A bispa luterana Margot Kässmann, embaixadora do Ano Luterano da Igreja Evangélica da Alemanha, lança a provocação indicando no Papa Francisco um modelo de "reformador" do terceiro milênio.
Kässmann está em Roma para participar de um congresso internacional católico-luterano promovido pelo Pontifício Ateneu S. Anselmo, em vista da comemoração dos 500 anos da Reforma de Lutero (1517-2017).
"Martinho Lutero – diz a bispa – queria reformar a sua Igreja, e não dividi-la. Por isso, não faria sentido um jubileu da Reforma que marcasse demarcações."
Depois, pergunta: "Somos capazes de ousar, em 2017, uma revisão crítica e considerar a Reforma como fato abrangentes no horizonte internacional ecumênico?".
Eis a entrevista.
O que os luteranos esperam dos católicos neste ano de comemoração de Reforma de Lutero?
Seria muito importante que a Igreja Católica fizesse parte dessa comemoração, porque a Reforma faz parte de uma história comum nossa. Não faz parte apenas do mundo protestante, mas é uma história que interpela a todos nós. Na Alemanha, muitos católicos vão participar do programa.
Que significado tem, hoje, fazer memória de Lutero?
Ele queria reformar a sua Igreja, a Igreja Católica Romana. Todos nós sabemos que a Igreja, mas também a sociedade, precisam continuamente ser reformadas. E, se olharmos para o Papa Francisco, ele, hoje, está reformando a Igreja Católica. Lutero começou a sua Reforma a partir da Bíblia. Eu acho que ainda hoje é importante que toda reforma parta da Bíblia.
O que isso significa? Em que direção deveria ir, hoje, uma reforma da Igreja?
Eu acho que todo processo de reforma coloca uma interrogação: pede-nos para verificar se a Igreja hoje manteve-se fiel às suas raízes evangélicas. E foi justamente o que Lutero quis fazer. A raiz da sua crítica à Igreja do século XVI nascia dessa perspectiva. Na época, Lutero criticava o modo pelo qual a Igreja coletava dinheiro para dar o perdão aos pecados, mas essa prática não estava escrita na Bíblia. Lutero, portanto, queria começar a partir de uma Igreja que se colocasse de acordo com a Bíblia. A Igreja havia se afastado da Bíblia. É a pergunta que os luteranos se fazem ainda hoje: o que a Bíblia está nos dizendo hoje?
E o que ela está nos dizendo?
Ela pede que as Igrejas sejam sinal de perdão. Ela está nos pedindo para testemunhar que cada um de nós pode perdoar o outro pela sua culpa, porque todos nós temos uma culpa para pedir perdão. Especialmente a Europa ocidental hoje é culpada pela forma como se comporta com os refugiados. Somos culpados em relação às pessoas que morrem no Mar Mediterrâneo, simplesmente porque fogem de uma situação sem esperança, em busca de um futuro possível. Somos culpados porque contradissemos as palavras de Jesus que, no Evangelho de Mateus, diz: "Quem acolhe vocês acolhe a mim". Não é o que a Europa está fazendo hoje.
Você é mulher, é bispa e, hoje, foi escolhida para ser embaixadora para o Ano Luterano da Igreja Evangélica da Alemanha. Qual é o papel da mulher na Igreja?
Na Igreja Luterana, nós dizemos que, hoje, toda pessoa que é batizada pode ser padre, bispo e papa. E nós, como luteranos, temos uma grande experiência. Sinal disso é o fato de que a Igreja Luterana no mundo tem mulheres bispas.
Quem é o Papa Francisco?
Aquilo que ele faz, os gestos que realiza em um mundo secularizado que excluiu Deus de si são o testemunho do que significa ser cristão hoje. Lavar os pés dos detidos em uma prisão; trazer consigo famílias muçulmanas; ir para Lampedusa, para Lesbos e para todas as partes para encontrar e visitar as pessoas que estão mais necessitadas: esses são sinais de um autêntico cristianismo ecumênico.
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"O Papa Francisco está dizendo ao mundo quem são os cristãos." Entrevista com Margot Kässmann - Instituto Humanitas Unisinos - IHU