25 Janeiro 2016
É mãe solteira e nunca havia falado em público para proteger sua pequena filha das chacotas de outras crianças; no entanto, quando disseram a Évila Quintana Molina que daria seu testemunho ao Papa Francisco na prisão da Cidade Juárez, foi sua filha de 8 anos quem a encorajou a seguir em frente e assegurando-lhe que “além disso, eu quero estar contigo”.
A reportagem foi publicada por ACI Prensa, 21-01-2016. A tradução é de Evlyn Louise Zilch.
Évila Quintana era estudante universitária, trabalhava em um banco e se dedicava à sua filha Camilla, quando em 2010 foi presa, acusada do crime de "operação com recursos de procedência ilícita".
Em declarações ao meio de comunicação mexicano Presencia Digital, a mulher de 34 anos preservou os detalhes de seu caso, pois ainda encontra-se em processo legal, contudo disse que hoje crê que há um Deus de justiça, que irá determinar o seu tempo na prisão.
Sua eleição
Sobre a forma como foi escolhida para falar na frente de Francisco em 17 de fevereiro, Évila recordou que estava trabalhando na loja da penitenciária feminina quando lhe chamaram para que fizesse uma audição. “Pensei: ‘Agora o que aconteceu?’”, recordou, porque naquele momento não sabia do que se tratava.
Leu o parágrafo que lhe deram e depois de algumas horas, lhe avisaram que era a eleita. Ela achava que só seria a leitora de um discurso oficial, mas informaram-na que tinha que dar um testemunho.
"Quando me disseram que ‘tem que contar como foi tua entrada, permanência, teu sentir como mãe, como tu vives, como te sente, o que é uma visita para ti’; deram-me três temas para abordar e eu tinha que desenvolvê-los, e eu disse: como encontro uma afinidade em alguém que vive em santidade?", disse ao jornal mexicano.
A jovem mãe não encontrava um ponto sobre o que escrever. Então ela se lembrou de que quando foi detida na Cidade do México, leu um versículo da Bíblia “que dizia que você tem que falar com os presos, como se estivesse com eles na prisão. Eu creio que nisso baseou-se o discurso”, porque "em sua viagem de missionário da misericórdia" o Papa "está imitando os passos de Cristo, ele tenta estar com todas as pessoas que têm uma necessidade espiritual".
Mais do que coisas materiais, os presos necessitam de “uma chamada telefônica ou que ocasionalmente te perguntem como está, essas coisas são importantes”, destacou.
A ajuda de Camila
Porém, Évila buscava um ponto em comum com o Santo Padre. Então por telefone chegou a ajuda de Camila. “Minha filha me disse: tu e o Papa nasceram no mesmo dia (17 de dezembro) e buscava pontos em que poderíamos coincidir”.
"O que protejo é a minha filha, porque as crianças são muito cruéis e não quero que digam a ela que sua mãe está na prisão, que venham a prejudicar a sua infância", disse ela. Évila tentou esconder o máximo que pôde a notícia que falaria frente ao Papa, embora tenha comentado o fato com a menina e pedido sua opinião.
“Claro, mãe, não vai me causar vergonha, e mais ainda, eu quero estar com você”, foram as palavras de Camila, que estará com sua mãe em 17 de fevereiro, quando ela falar com o Papa.
Disse que a entrada na prisão foi como pisar em um terreno muito hostil. Ela nunca tinha estado na prisão, nem sequer para uma visita. Foi uma etapa muito difícil que conseguiu superar, sobretudo por sua filha.
“Minha filhinha vê isto como (pausa)... perguntei-lhe se de fato envergonha-se de mim e ela me disse que não, que jamais o faria, que ao contrário eu sou uma mulher muito valente", disse ela.
Durante a entrevista, Évila também recordou que quando lhe avisaram que foi eleita, ela perguntou à pessoa que lhe notificou: "Você crê realmente que eu mereço isto?, porque eu realmente sou uma pecadora e ficar em um lugar público e oferecer-lhe algumas palavras, eu acho que é uma responsabilidade muito forte e sou pecadora de verdade”. “E ele me respondeu, é que não fui eu que te escolhi, Deus te escolheu”.
A mulher reconheceu que não é uma católica praticante que vai à missa a cada domingo, mas sabe que "Deus está sempre comigo, isto é parte do reaproximar-me da sua igreja, de voltar".
“Eu sou parte do seu povo, então ele (Francisco) serve como um pastor que começa a recolher as suas ovelhas para devolvê-las ao caminhar... somos parte do povo de Deus, somos parte da sociedade, falta-nos um momento para nos reincorporarmos à sociedade, mas não estamos fora do povo de Deus”, refletiu.
Finalmente, a mãe de Camila afirmou que a visita do Papa Francisco ajudará a todo o México. "Para o México, para Juárez como fronteira, que tem sido um território muito danificado pela violência, por isso que há tantas coisas que têm afetado nossa cidade e eu acho que ele vem para trazer uma mensagem de paz", disse ela.
Francisco visita em 17 de fevereiro o Centro de Reabilitação Social No. 3 (CERESO 3) da Cidade de Juárez, durante seu último dia no México. Assim se encontrará com uns 800 presos dos quais cerca de cem são mulheres. Além do mais estarão presentes cerca de 200 familiares dos internos.
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Évila Quintana, a mãe solteira que falará com o Papa Francisco na prisão do México - Instituto Humanitas Unisinos - IHU