22 Janeiro 2016
A quantidade de lama depositada pela Samarco no reservatório de Fundão, que ruiu em novembro, em Mariana (MG), era maior do que a divulgada pela empresa.
A reportagem é de Estêvão Bertoni, publicada por Folha de S. Paulo, 22-01-2016.
A informação consta do depoimento que o engenheiro Joaquim Pimenta de Ávila, que projetou Fundão, deu à Polícia Federal em dezembro.
Uma quantidade maior de lama, se não prevista, poderia comprometer a estabilidade da barragem, segundo o engenheiro, no depoimento.
"A Samarco informava que a proporção de lama para rejeito arenoso era 30% de lama para 70% de arenoso, mas, na prática, sempre foi 40% de lama para 60% de arenoso", diz trecho do documento obtido pela Folha.
O rejeito é a parte não utilizada após o beneficiamento do minério.
Levantamento da reportagem com base em relatórios da Samarco mostra que, de 2009 a 2013, a mineradora produziu, em média, 15,8 milhões de toneladas de rejeito por ano, em Mariana. Desse total, 26%, em média, eram lama, e 74%, rejeito arenoso.
Barragens como a que se rompeu, construída com o próprio material do rejeito, precisam ter seu nível de água controlado, "pois senão começam a aparecer situações de risco", disse Ávila à PF.
Por isso, a empresa instalava piezômetros, que medem a pressão da água no solo. Em casos preocupantes, a estrutura ganhava reforço.
No sábado (16), a Folha revelou que Ávila disse à PF ter alertado a Samarco em 2014 sobre um princípio de ruptura, após o surgimento de uma trinca em um recuo que não estava em seu projeto.
Ávila foi projetista de Fundão até 2012, quando terminou seu contrato. Em 2014, voltou à Samarco para consultoria. Ao ver a trinca, recomendou a instalação de ao menos nove piezômetros. A empresa afirma ter tomado as providências necessárias.
A PF indiciou a Samarco, a Vale, a VogBR, responsável pelo último laudo de estabilidade, e mais sete pessoas, sob suspeita de crime ambiental.
O presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, e o diretor de operações, Kleber Terra, se afastaram dos cargos.
Outro Lado
A Samarco, que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, diz que podem ter ocorrido variações na proporção entre lama e rejeitos arenosos em Fundão, que se rompeu em novembro.
"Não obstante a proporção de 30% de lama para 70% de arenoso, licenciada para a barragem do Fundão, é possível que, no curso da operação, ocorram variações próximas de 35% de lama para 65% de arenoso." Ela diz que "respeitadas as premissas do manual de operação, a distorção não traz impacto para a segurança da barragem".
Sobre o alerta do engenheiro, diz que foram consideradas suas recomendações e que "os instrumentos de monitoramento da barragem de Fundão indicavam sua estabilidade em todas as seções, inclusive na área do recuo do eixo, até a surpreendente ruptura abrupta no dia da ocorrência dos sismos".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Barragem de MG tinha mais lama que o divulgado por empresa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU