Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF.
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Primeira Leitura: Ex 32,7-11.13-14
Segunda Leitura: 1Tm 1,12-17
Salmo: 50,3-4.12-13.17.19
Evangelho: Lc 15,1-32
Este Evangelho está situado no chamado de “Caminho de Jerusalém”. É o caminho final de Jesus, portanto, carregado de grande dramaticidade. Neste capítulo 15 o ponto de partida é a parábola que aparece também em Mt 18,12-14. Depois há um material próprio que ilustra e aprofunda a parábola original (a mulher e a moeda perdida, v.8-10, e a parábola do filho perdido e seu irmão, v. 11-32).
A mulher está no centro, o que levanta a questão das fontes femininas neste Evangelho (as mulheres que apoiavam financeiramente a missão de Jesus e outras discípulas em Lc 8,1-3; Marta e Maria em Lc 10.38-42).
A releitura da fonte de Mateus e suas ênfases (15,1-7)
v. 1-3 - De um lado “publicanos e pecadores” que se aproximam sendo acolhidos na mesa da refeição; do outro fariseus e escribas “resmungavam” ou “murmuravam entrementes, ou entre si” (diagogguxo), por causa de que Jesus “acolhe os pecadores” (os recebe pessoalmente – prodexomai) e ainda “come com eles” (comungava com esta gente). A parábola da “ovelha perdida” se coloca entre a atitude acolhedora de Jesus e a reação de “fariseus e escribas”.
v. 4 – 7 – No lugar da imagem genérica do “homem” usada em Mateus, Lucas vai se dirigir diretamente aos seus contendores: “Quem de vocês...”. A ovelha perdida justifica que outras noventa e nove sejam deixadas no campo (“deixadas para trás” – kataleipó). O que é “deixado para trás”? Seria a teologia da exclusão que impedia comungar com pecadores e publicanos? Finaliza com a alegria de que estas pessoas sejam reintegradas ou reincorporadas, mais do que as outras noventa e nove que “justas”. Seria que a atitude acolhedora sempre trará mais alegria no céu (isto é, para Deus)?
v. 8 – 10 – A pequena parábola da mulher e sua moeda perdida, parece estar ofuscada pela dramaticidade da ovelha perdida e a longa narrativa do filho perdido. Mas sua importância é estar no centro. O público e a polêmica permanecem iguais. Como reagiriam os fariseus e escribas ao exemplo de uma mulher? No tratado Menachot 43b, que faz parte do Talmud da Babilônia, está escrito: “O homem deve recitar três bênçãos cada dia, e elas são: Que me fizeste (do povo de) Israel; que não me fizeste mulher; que não me fizeste ignorante.” Jesus afronta a teologia excludente dos murmuradores ao colocar o exemplo da mulher e suas companheiras. As mulheres também teriam lugar na mesa de Jesus? Agora a alegria é “entre os anjos” - que defendem as mulheres! (v.10a) - quando um pecador se converte (algo que era impossibilitado pela exclusão a priori da comunhão).
v. 11–30 – Esta grande parábola também tem de um lado publicanos e pecadores sentados à mesa com Jesus, e do outro fariseus e escribas manifestando seu descontentamento. O filho perdido peca em todas as formas imagináveis: primeiro porque pede a herança fora de tempo, prejudicando a família; segundo porque a gasta numa vida dissoluta, desregrada, irresponsável e, terceiro, no por ter querido comer a comida dos porcos (uma imagem que pode se aproximar do que estes fariseus e escribas pensavam de Jesus comer com publicanos e pecadores).O pai acolhe e marca uma festiva refeição, assim como Jesus com os pecadores, usando o argumento de que o filho “estava morto e voltou a vida, perdido e foi encontrado” (v. 24). Uma alusão ao sentido da morte e ressurreição de Cristo, acolhendo todas as pessoas pecadoras. O irmão mais velho, que não aceita este acolhimento, argumenta nunca ter desobedecido uma ordem (v.29a). Isto é, quem exclui segue a “lei”, mas não entende a festa acolhedora que encontra o que se perdeu e traz para a vida o que morreu (v.31).
Na leitura do livro de Êxodo, a traição do povo faz com que Deus proponha eliminar todos e começar de novo apenas com Moisés. Mas ele mesmo intercede em favor da misericórdia e “Javé desistiu do mal”.
Também o apóstolo Paulo sabia quanto Cristo tinha lhe perdoado por ser “blasfemo, perseguidor e violento”, por isso, superando a ignorância e incredulidade, proclamava a misericórdia divina (1 Tm 1,13-14).