5º domingo da quaresma – Ano C – Subsídio exegético

01 Abril 2022

 

"Neste domingo urge refletir sobre a volta de todos os extraviados e a novidade de Deus, que está pronto para receber os pecadores de braços aberto. Ao mesmo tempo refletir que todos precisam olhar com humildade para dentro da própria vida, sem condenar a ninguém e ser imparcial diante dos fatos evitando o machismo na questão moral. Alegrar-se com a volta de um irmão ou irmã que se aproxima da comunidade em busca do perdão e ser apoio sem jamais atirar pedras. Neste ponto, ainda hoje, há muitas falhas nas comunidades cristãs que muitas vezes estão mais propensas a condenar do que a se alegrar e apoiar quem volta depois do erro."

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:


Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

Leituras do Dia

1ª Leitura - Is 43,16-21
Salmo - Sl 125,1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R. 3)
2ª Leitura - Fl 3,8-14
Evangelho - Jo 8,1-11

 

O Evangelho

 

O tema deste domingo poderia ser chamado de “a volta dos pecadores e a novidade de Deus”.

 

O relato comumente chamado de “a mulher adúltera” (Jo 8,1-11) parece que originalmente não era do evangelho de João, mas foi colocado aqui bem mais tarde. Uma leitura atenta do quarto evangelho notará que se quebrou a lógica da narrativa em relação ao que vem antes e depois do referido texto. Fica evidente que a perícope foi interpolada de forma um tanto artificial. Alguns estudiosos julgam que o texto tem características lucanas e que o mesmo foi intercalado no evangelho de João por volta do século IV, quando a Igreja recebeu muitos adeptos oriundos do paganismo. Gente que, muitas vezes, tinha uma vida moral aberta. Os cristãos mais conservadores ficavam furiosos, pois não queriam conviver na mesma comunidade com adúlteros que aderiam ao evangelho. Já outros, descontentes com este espírito moralista que freava a missão, valeram-se então, de um texto, provavelmente lucano, e o intercalaram no evangelho de João. Assim resolveram problemas concretos de comunidades onde o quarto evangelho era mais conhecido.

 

No AT a lei era rígida e não conhecia misericórdia. O casal adúltero, pego em flagrante, devia ser apedrejado (Lv 20,10; Dt 22,22). Mas no caso da mulher adúltera, os escribas e fariseus deixaram o homem livre. Aplicaram a lei do AT conforme suas conveniências. Aliás, os escribas desenvolviam suas tradições, nas quais eles aplicavam as leis do Pentateuco à realidade cotidiana. Como todos os escribas eram homens, foram brandos com o homem adúltero, que nem sequer é mencionado, mas duros com a mulher.

 

Jesus não entra na lógica dos autointitulados guardiões dos bons costumes. Ele mostra que 1) ninguém tem o direito de julgar os outros e que 2) antes de tudo, é preciso analisar-se a si mesmo, pois ninguém está sem pecados. Talvez o pecado dos doutores e fariseus fosse mais grave do que o pecado da adúltera. Seu pecado era a arrogância de se julgarem perfeitos e condenar os outros. Eles, com suas tradições, proibiam que as mulheres administrassem seus bens, o que obrigava muitas viúvas a se prostituírem para não morrer de fome. Jesus ensina também que devemos alegrar-nos com quem volta, principalmente os que estão mais distantes, como também se lê no relato do filho reencontrado (Lc 15,11ss).

 

Neste domingo urge refletir sobre a volta de todos os extraviados e a novidade de Deus, que está pronto para receber os pecadores de braços aberto. Ao mesmo tempo refletir que todos precisam olhar com humildade para dentro da própria vida, sem condenar a ninguém e ser imparcial diante dos fatos evitando o machismo na questão moral. Alegrar-se com a volta de um irmão ou irmã que se aproxima da comunidade em busca do perdão e ser apoio sem jamais atirar pedras. Neste ponto, ainda hoje, há muitas falhas nas comunidades cristãs que muitas vezes estão mais propensas a condenar do que a se alegrar e apoiar quem volta depois do erro.

 

Relacionando com as outras leituras

 

Is 43,16-21: parte do povo de Jerusalém está no exílio da Babilônia, como fruto de políticas desastradas e da idolatria. Mas agora, Deus, por meio do profeta, por volta de 550 a.C., consola os exilados, lembrando-lhes a libertação de outrora do Egito. Novamente Deus estará com seu povo e, como então conduziu o povo por meio do mar, agora irá conduzi-lo pelo deserto, lugar inóspito. Deus está com seu povo nesta nova libertação. Deus, na alegria acompanha seu povo na volta.

 

Fl 3,8-14: em Filipos, depois de Paulo, passaram missionários judaizantes, induzindo os féis ao rito da circuncisão e observância de Lei. Paulo mostra que tudo isto já não tem mais nenhum valor. Ele foi encontrado por Jesus, por isto, todo o passado da observância da Lei, perdeu seu sentido. Sua justiça já não é a da Lei, mas a da fé em Jesus Cristo. Por isto Paulo corre, pois em Cristo o fiel nunca está pronto. Conversão é um processo que só termina na morte. A conversão, para Paulo é, antes de tudo, mudança de perspectiva. Bem mais do que prática de obras, permitir que a graça de Cristo entre na vida e a transforma.

 

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