15 Mai 2020
Publicamos aqui o comentário de Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste 6º Domingo de Páscoa, 17 de maio de 2020 (João 14,15-21). A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na página do Evangelho deste domingo, escutamos a promessa do Espírito Santo, o Espírito Consolador, feita por Jesus aos discípulos durante os seus “discursos de despedida” (cf. Jo 13,31-16,33).
Depois de confortá-los na iminência do seu desapego deles e exortá-los a rezar ao Pai em seu Nome, Jesus diz aos seus discípulos: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”, explicando claramente: “Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse me ama”.
Jesus está ecoando a concepção bíblica expressada, por exemplo, no Salmo 119, uma longa celebração dos mandamentos de Deus e da alegria que se experimenta ao observá-los: “Com teus mandamentos me deleitarei: eu os amo... Vê como amo teus preceitos, Senhor, conforme tua bondade dá-me vida” (Sl 119,47.159).
Sim, o fiel se alegra em cumprir a vontade de Deus que o ama e a quem ele ama, e não deseja nada mais do que pô-la em prática com todas as suas forças. É nesse sentido que o discípulo amado poderá escrever: “Amar a Deus significa observar os seus mandamentos” (1Jo 5,3). Também Jesus, amando o Pai, observou os seus mandamentos.
Mas aqui há algo mais, há um aprofundamento ulterior e decisivo: Jesus Cristo pediu àqueles que o seguiam não apenas o amor pela vontade de Deus, não apenas o amor pela sua mensagem, mas também o amor por ele, pela sua pessoa!
É ele quem deve ser ouvido, conhecido e amado acima de tudo, é amando-o que podemos amar a Deus “com todo o coração, a mente e as forças” (cf. Dt 6,5)!
Sim, se há essa intensa relação de amor pessoal com ele, então se torna quase natural observar os seus mandamentos, ou seja, viver como cristãos...
Estreitamente ligada à comunhão que nasce desse amor pessoal por Jesus Cristo, está a promessa do Espírito Santo feita por Jesus: “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não o vê nem o conhece”.
Enquanto Jesus estiver sobre a terra, é ele o Consolador, o defensor, o “chamado ao lado” (cf. 1Jo 2,1) do fiel para apoiá-lo e dar-lhe a sua vida.
Mas agora que ele está prestes a completar o seu êxodo pascal, prevendo as dificuldades que os discípulos conhecerão em um mundo hostil, ele intercede junto do Pai para que envie o Espírito, o outro Consolador. O Espírito da verdade terá a tarefa de dar testemunho de Cristo, habilitando o cristão a dar esse mesmo testemunho até a morte (cf. Jo 15,26-27); ele socorrerá o cristão na hora do processo tentando contra ele pela mundanidade (cf. Jo 16,18-11). E tudo isso guiando-o à plena verdade, isto é, lembrando-o de todas as palavras de Jesus e levando-o a assumi-las em profundidade (cf. Jo 14,26; 16,13), ou seja, tornando-se princípio de vida interior: “O Espírito permanece junto de vós e estará dentro de vós”.
Jesus, depois, tranquiliza os seus discípulos, como já havia feito anteriormente (cf. Jo 14,3): “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós”. Então, no dia da sua vinda na glória, será revelado se fomos seus discípulos: “Naquele dia sabereis que eu estou no meu Pai e vós em mim e eu em vós”.
A partir do que saberemos? O próprio Jesus nos diz: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23).
Essa habitação, essa circulação de vida entre o Pai, o Filho e o cristão tornada possível pelo Espírito manifesta-se concretamente hoje através da prática dos mandamentos, “carne” do nosso amor. E, em extrema síntese, é visível a partir da nossa capacidade de viver o mandamento que resume todos os outros, o “mandamento novo” que nos foi deixado por Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34; 15,12)
Deste amor, derramado em nossos corações pelo Espírito (cf. Rm 5, 5), somos e seremos reconhecidos como discípulos de Jesus: "quem me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele", agora no jornal e depois no último dia.
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“Vocês nunca ficarão sós nem órfãos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU