09 Novembro 2018
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 12,38-44 que corresponde ao 32° Domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O contraste entre as duas cenas não pode ser mais forte. Na primeira, Jesus coloca as pessoas em guarda frente aos dirigentes religiosos: «Cuidado com os mestres da Lei!», o seu comportamento pode fazer muito mal. Na segunda, chama os Seus discípulos para que tomem nota do gesto de uma viúva pobre: as pessoas simples podem ensinar-lhes a viver o Evangelho.
É surpreendente a linguagem dura e certeira que usa Jesus para desmascarar a falsa religiosidade dos escribas. Não pode suportar a sua vaidade e o seu afã de ostentação. Procuram vestir de modo especial e ser saudados com reverência para sobressair sobre os demais, impor-se e dominar.
A religião serve para alimentar a sua fatuidade. Fazem «longas orações» para impressionar. Não criam comunidade, pois se colocam acima de todos. No fundo só pensam em si mesmos. Vivem aproveitando-se das pessoas débeis, as que deveriam servir.
Marcos não recolhe as palavras de Jesus para condenar os escribas que havia no Templo de Jerusalém antes da sua destruição, mas para colocar em guarda as comunidades cristãs para quem escreve. Os dirigentes religiosos devem ser servidores da comunidade. Nada mais. Se o esquecem, são um perigo para todos. É preciso reagir para que não provoquem estragos.
Na segunda cena, Jesus está sentado frente à arca das oferendas. Muitos ricos vão deitando quantidades importantes: são os que sustentam o Templo. De repente aproxima-se uma mulher. Jesus observa que deita duas pequenas moedas de cobre. É uma viúva pobre, maltratada pela vida, só e sem recursos. Provavelmente vive mendigando junto ao Templo.
Comovido, Jesus chama rapidamente os Seus discípulos. Não devem esquecer o gesto desta mulher, pois, mesmo passando necessidades, «depositou tudo o que tinha para viver». Enquanto os mestres vivem aproveitando-se da religião, esta mulher desprende-se pelos outros, confiando totalmente em Deus.
O seu gesto mostra-nos o coração da verdadeira religião: grande confiança em Deus, gratuidade surpreendente, generosidade e amor solidário, simplicidade e verdade. Não conhecemos o nome desta mulher nem o seu rosto. Só sabemos que Jesus viu nela um modelo para os futuros dirigentes da sua Igreja.
Também hoje tantas mulheres e homens de fé simples e coração generoso são o melhor que temos na Igreja. Não escrevem livros nem pronunciam sermões, mas são os que mantêm vivo entre nós o Evangelho de Jesus. É deles que temos de aprender, os presbíteros e os bispos.
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