02 Fevereiro 2018
Publicamos aqui o comentário do monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, sobre o Evangelho deste 5º Domingo do Tempo Comum, 4 de fevereiro (Mc 1, 29-39). A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No domingo passado, começamos a ler o relato da “jornada de Cafarnaum” (cf. Mc 1, 21-34), exemplo concreto de como Jesus vivia, falando do reino de Deus e fazendo sinais que o anunciavam. E hoje o relato continua...
Jesus e os quatro primeiros discípulos, tendo saído da sinagoga, vão para a casa de dois deles, Pedro e André. Assim como havia uma dimensão pública da vida de Jesus, assim também havia uma dimensão privada: a vida vivida com seus discípulos, ou com seus amigos, a vida em casa, onde falavam, ouviam, comiam juntos e descansavam. Estas também são dimensões humanas da vida de Jesus, às quais, infelizmente de modo muito fácil, não prestamos atenção, mas fazem parte da realidade, do ofício do viver cotidiano...
Assim como esquecemos que Pedro, tendo uma sogra, não era célibe, mas casado, mesmo que não tenhamos notícias mais precisas: tinha filhos? Era viúvo? Certamente, o encontro com Jesus mudou a vida do pescador Simão, que significativamente dirá mais tarde a Jesus: “Nós deixamos tudo e te seguimos” (Mc 10, 28).
Agora, tendo entrado na casa de Pedro e André, percebem que ninguém os acolhe: deveria ser a tarefa da sogra de Pedro, mas uma febre a mantém na cama. A febre é uma indisposição que acontece muitas vezes e certamente não é grave ou preocupante. Jesus, informado sobre o assunto, aproxima-se dessa mulher acamada, toma-a pela mão e faz com que se levante. Ele quer encontrá-la e, assim que está perto dela, sem dizer uma palavra, faz gestos simples, muito humanos, afetuosos: toma na sua mão aquela mão febril, estabelece uma relação cheia de afeto e, em seguida, com força, ajuda-a a se levantar.
Esses são os gestos de Jesus que curam: não gestos de um curandeiro profissional, não gestos médicos, muito menos gestos mágicos. Se estivermos atentos, compreendemos que, a exemplo de Jesus, a um doente, devemos sobretudo nos aproximar, fazer-nos próximos, tirá-lo do seu isolamento, pegando a sua mão na nossa, em um contato físico que lhe diga a nossa presença real e, por fim, fazer algo para que o outro se levante do seu estado de prostração.
Essa ação com que Jesus liberta a mulher da febre pode parecer pouca coisa (“um milagre desperdiçado”, escreveu um exegeta!), mas a febre é o sinal mais comum que nos mostra a nossa fragilidade e nos preanuncia a morte, da qual toda doença é indício.
Sim, Jesus está sempre agindo em relação aos nossos corpos e às nossas vidas, e sempre discerne, mesmo quando há apenas febre, que o ser humano adoece para morrer, que qualquer doença é uma contradição à vida plena desejada pela Senhor para cada um de nós. Portanto, não nos detenhamos na crônica da ação de Jesus, mas compreendemos como ele, Aquele que vem com seu Reino, está em luta contra o mal, fá-lo recuar, até vencer a morte, cujo rei é o demônio, aquele que dá a morte e não a vida.
Jesus aparece, assim, como aquele que faz levantar, ressuscita – verbo egheíro, usado para a ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 5, 41) e para a própria ressurreição de Jesus (cf. Mc 14, 28; 16, 6) – cada homem, cada mulher da situação de mal em que jaz. Ele dá “os sinais” do reino de Deus que vem, onde “não haverá mais morte, nem luto, nem lamentação, nem dor, quando Deus enxugará as lágrimas dos nossos olhos” (cf. Ap 21, 4; Is 25, 8). Quando Jesus cura concretamente, ele narra Deus como Rapha’el, “aquele que cura” (cf. Ex 15, 26) e aparece como o médico dos corpos e das almas (cf. Mc 2, 17).
O que é destacada como fruto desse “fazer levantar” por parte de Jesus é o serviço imediato, a pronta diakonía por parte da sogra de Pedro. Levantada do mal, cabe a nós o serviço aos outros, porque servir o outro, cuidar do outro é viver o amor para com ele: o amor ao outro é querer e realizar o seu bem. No caso presente, essa mulher, já de pé, oferece comida a Jesus e aos seus discípulos, servindo aqueles que a serviram até libertá-la da sua doença.
Chega a noite, o dia descrito por Marcos como o primeiro em que Jesus atua está quase acabado, mas eis que, de toda a cidade, são trazidos doentes e endemoninhados para a frente da porta da casa onde ele está. Enfaticamente, o evangelista escreve “todos os doentes... a cidade inteira”, porque o fluxo era considerável.
O que toda essa gente buscava? Em primeiro lugar, cura, mas certamente também desejava ver milagres: a medicina era cara demais, muitas vezes sem eficácia, e, além disso, naquele tempo, havia muitos exorcistas, curandeiros, magos, aos quais as pessoas se dirigiam. Os que vão ao encontro de Jesus, porém, não encontram nem um mago nem um operador de milagres. Encontram alguém que cura aqueles que encontra, falando, entrando em relação, mas sobretudo suscitando nos doentes fé-confiança: e, quando Jesus encontra essa confiança, então pode se manifestar a vida mais forte do que a morte.
Jesus não curava a todos, mas – dizem-nos os Evangelhos – curava todos aqueles com quem se encontrava, e as suas libertações da doença, do pecado ou do demônio queriam ser sinais, indicações a respeito do reino de Deus que ele anunciava e pedia para acolher. Como Mateus interpreta às margens desse trecho, ele se manifesta como Servo do Senhor que “tomou as nossas fraquezas e carregou as nossas doenças” (Mt 8, 17; Is 53, 4).
Jesus combate as doenças para fazer recuar o poder do mal e do demônio, mas isso ocorre ao preço de carregar, ele mesmo, os sofrimentos que tenta derrotar! Pedro sintetizará em uma pregação relatada pelos Atos dos Apóstolos: “Jesus de Nazaré passou fazendo o bem e curando todos os que estavam sob o poder do diabo” (At 10, 38), porque toda situação de afastamento de Deus e de domínio da morte se deve à ação do demônio.
Chega a noite, mas esta também é feita para agir: antes do amanhecer, Jesus sai da casa, vai para um lugar solitário e lá reza. É sua oração da manhã, oração que espera o surgir do sol invocando o Senhor e louvando-o pela luz que vence a noite. Essa ação noturna de Jesus não é secundária, não é um simples apêndice ao dia. É a fonte do seu falar e do seu agir, é o início do seu “ritmo” diário, é o que lhe dá a postura para viver toda a jornada na companhia das pessoas: porque ele é sempre o enviado de Deus, aquele que sempre deve “contá-lo” (cf. Jo 1, 18) às pessoas, e, por isso, está sempre em comunhão com ele.
A oração de Jesus na noite, em lugares desertos, na solidão, é testemunhada várias vezes pelos Evangelhos, até aquela oração com a qual ele prepara espiritualmente sua paixão e morte. Oração cheia de confiança, em que Deus sempre é invocado como “Abba, Papai querido e amado”; oração em que Jesus discerne a vontade desse Pai que é amor e encontra maneiras de realizá-la; oração em que o Espírito Santo, companheiro inseparável de Jesus, é para ele força e consolação.
A vigília, a oração noturna que é operação de todo o corpo e não só das faculdades mentais, é decisiva na vida do cristão, que nunca deve se esquecer dessa “atividade”, verdadeira ação de Jesus.
Mas os primeiros discípulos, a pequena comunidade recém-formada, por iniciativa de Simão, busca Jesus e, nesse “buscar Jesus”, há muito mais do que uma busca para saber onde ele está. Na realidade, o quaerere Deum no Evangelho segundo Marcos torna-se quaerere Jesus, buscar Jesus. E, quando o encontram, significativamente voltado a rezar, dizem-lhe: “Todos estão te procurando!”. Quase o perseguem, mas para quê? Aqui está testemunhado o desejo de ver, escutar, encontrar, pedir curas, invocar a libertação do demônio. “Todos te buscam!”, dizem os discípulos; segundo o quarto Evangelho, até os pagãos dirão: “Queremos ver Jesus!” (Jo 12, 21) ...
Mas Jesus responde: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim”. É hora de ir, de continuar a missão juntos em outros vilarejos ainda não alcançados pela boa notícia, pelo Evangelho do Reino. Mas o fundamento de toda essa missão – “para isso que eu vim”, “para isso que eu saí” – continua sendo uma expressão ambígua: saiu da cidade na noite, ou saiu de Deus, do Pai, como entenderíamos se essa expressão fosse atestada pelo quarto Evangelho?
Eis a missão de Jesus: ele é enviado pelo Pai e saiu ao mundo para fazer o bem e dar a salvação. E, assim, de vilarejo em vilarejo, no sábado de sinagoga em sinagoga, Jesus pregava e tirava espaço dos demônios. De Cafarnaum a toda a Galileia...
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Como Jesus cuida e cura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU