07 Dezembro 2017
Com o dogma da Imaculada Conceição, a Igreja Católica afirma que Maria, por singular privilégio de Deus e em vista dos méritos da morte de Cristo, foi preservada de contrair a mancha do pecado original e já veio à existência totalmente santa. Quatro anos depois da definição do dogma pelo Papa Pio IX, esta verdade foi confirmada pela própria Virgem em Lourdes, em uma das aparições a Bernadete, com as palavras: "Eu sou a Imaculada Conceição".
A reflexão é de Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Papal pelos últimos 34 anos, comentando a Festa da Imaculada Conceição (08 de dezembro)
A festa da Imaculada recorda à humanidade que uma só coisa contamina verdadeiramente o homem: o pecado. Uma mensagem urgente a ser proposta, pois, o mundo perdeu o sentido do pecado. Brinca-se com ele, como se fosse a coisa mais inocente do mundo. Alinham com a ideia de pecado seus produtos e seus espetáculos, para torná-los mais atrativos.
Refere-se ao pecado, inclusive aos mais graves, com diminutivos: pecadinho, viciozinho. Na linguagem publicitária, usa-se a expressão "pecado original" para indicar algo bem diferente da Bíblia: um pecado que dá um toque de originalidade a quem o comete.
O mundo tem medo de tudo, menos do pecado. Teme a contaminação atmosférica, as penosas doenças do corpo, a guerra atômica, atualmente o terrorismo... Mas não lhe dá medo a guerra a Deus, que é o Eterno, o Onipotente, o Amor. Jesus diz que não se tema aos que matam o corpo, mas só a quem, depois de ter matado, tem o poder de lançar na Geena (cf Lc 12 4-5).
Esta situação "ambiental" exerce uma tremenda influência até mesmo nos crentes que, malgrado tudo, querem viver segundo o Evangelho. Produz neles um adormecimento da consciência, uma espécie de anestesia espiritual. Existe uma ‘narcose por pecado’. O povo cristão, só por se tratar de uma escravidão dourada já não reconhece seu verdadeiro inimigo, o senhor que o mantém escravizado. Muitos que falam de pecado têm dele uma ideia completamente inadequada. O pecado se despersonaliza e se projeta unicamente sobre as estruturas. Acaba-se por identificar o pecado com a postura dos próprios adversários políticos ou ideológicos.
Uma pesquisa sobre o que as pessoas pensam o que é o pecado daria resultados que provavelmente nos aterrorizariam.
Ao invés de livrar-se do pecado, todo o empenho se concentra hoje em livrar-se do peso de consciência com relação ao pecado. Em vez de lutar contra o pecado, luta-se contra a ideia do pecado, substituindo-a por aquela - bastante diferente - do "sentimento de culpa”. Faz-se o que, em qualquer outro campo, considera-se o pior de tudo, ou seja, negar o problema ao invés de resolvê-lo, voltar a jogar e sepultar o mal no inconsciente em vez de extraí-lo. Como quem crê que elimina a morte, suprimindo o pensamento sobre a morte ou como quem se preocupa por baixar a febre, sem curar a doença da qual ela é somente um providencial sintoma. São João dizia que, se afirmamos estar sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos e fazemos de Deus um mentiroso (cf. 1Jo 1,8-10); Deus, de fato, diz o contrário. Diz que pecamos. A Escritura diz que Cristo "morreu por nossos pecados" (1Cor 15,3). Suprimamos o pecado e tornaremos vã a própria redenção de Cristo, destruiremos o significado de sua morte. Cristo teria lutado contra simples moinhos de ventos, teria derramado seu sangue por nada.
Mas o dogma da Imaculada nos diz também algo sumamente positivo: que Deus é mais forte que o pecado e que ‘onde abunda o pecado superabunda a graça’ (cf. Rm 5,20). Maria é o sinal e a garantia disso. A Igreja inteira, após Ela, está chamada a ser "resplandecente, sem mancha nem rugas nem coisa parecida, seja santa e imaculada” (Ef 5,27). Enquanto na Santíssima Virgem a Igreja chegou já à perfeição pela qual se apresenta sem mancha nem ruga, os fiéis, contudo, esforçam-se ainda por crescer na santidade, vencendo o pecado. Dirigem, por isso, seu olhar a Maria, que brilha ante toda a comunidade dos eleitos, como modelo de virtude (LG n. 65).
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Maria, sem pecado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU