27 Março 2013
O Ressuscitado é primeiro alguém débil, frágil, vulnerável, que não gosta de poder e que se sente desconfortável nos palácios e nas grandes recepções.[...] Esta festa da Páscoa 2013, eu creio sinceramente que se trata de um novo Dia.
A reflexão é de Raymond Gravel (1952-2014), padre da arquidiocese de Quebec, Canadá, publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do Domingo de Páscoa. A tradução é de Susana Rocca.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1a leitura: At 10,34a.37-43
2a leitura: Cl 3,1-4
Evangelho: Jo 20,1-9
Na manhã da Páscoa, são as mulheres que vão para embalsamar o corpo de Jesus. No entanto, o evangelista Lucas nos diz: “Mas ao entrar, não encontraram o corpo do Senhor Jesus” (Lc 24,3). Utilizando a palavra “Senhor”, São Lucas nos leva a um outro nível: o da fé cristã. O cadáver de Jesus não tem mais importância; é o Senhor Ressuscitado que essas mulheres procuram. Isso quer dizer que o que precede a fé é a ausência, o vazio, a falta. É o que vivem essas mulheres que foram no cemitério para enterrar dignamente aquele que elas amaram, a fim de começar o luto. A ideia delas foi completamente mudada.
Em São João, Maria Madalena vai sozinha ao túmulo, de madrugada bem cedo: “bem de madrugada, quando ainda estava escuro” (Jo 20,1). E como ela se dá conta que o túmulo está vazio, porque a pedra foi retirada, ela corre para avisar a Pedro e ao discípulo que Jesus amava: “Tiraram do túmulo o Senhor, e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20,2). Mais uma vez, utilizando a palavra “Senhor”, o evangelista nos conduz ao registro pascal, porque é só após a Páscoa que esse qualificativo foi aplicado a Jesus. Trata-se, então, do Cristo Ressuscitado, não reconhecido ainda por esta mulher que amava tanto a Jesus.
Quando se ama verdadeiramente, a ausência, o vazio, a falta fazem correr. Depois de Maria Madalena, Pedro e o discípulo que Jesus amava correm os dois juntos ao sepulcro; como o amor faz correr mais rapidamente, o discípulo que Jesus amava chega primeiro (Jn 20,4). Por respeito a Pedro, ele não entra (Jo 20,5). Pedro entra e vê o que Maria Madalena tinha constatado, mas ele fica somente surpreso. Quando o outro discípulo entra: “Ele viu e acreditou” (Jo 20,8). O que significa que não é o túmulo vazio o que faz acreditar, mas sim o Amor do discípulo pelo seu Senhor.
Mas o que acontece hoje? Procuramos o Senhor Jesus? Será que já o encontramos? Reconhecemo-lo? Um amigo me fez uma pergunta no Facebook: Que faria Cristo se ele se encarnasse hoje? Eu lhe respondi: Mas Cristo se encarna todos os dias no nosso mundo. Nosso novo Papa Francisco nos lembra disso sempre: ele está nos pobres, nos desprezados, nos explorados. Pessoalmente, eu o vejo na rua, nas pessoas dos dois sexos que se prostituem, nos jovens e nos idosos, nos drogados e nos alcoólatras para devolve-lhes a autoestima que eles perderam. Ele está nos doentes e nos moribundos, nas vítimas de violência de todo tipo e nos homossexuais para restabelecer a sua dignidade que lhes foi usurpada. Ele está também com alguns padres e bispos que seguem seu ensinamento evangélico.
O Ressuscitado é primeiro alguém débil, frágil, vulnerável, que não gosta de poder e que se sente desconfortável nos palácios e nas grandes recepções. Um padre contava esta história: “Jesus caminha na calçada numa noite de Natal bem fria. Ele vê um sem-teto que está completamente gelado diante de uma igreja, onde se escutam cânticos glorificando pelo nascimento do Salvador. Ele se aproxima de sem-teto e lhe diz: Por que não vais te esquentar dentro da igreja? O sem-teto lhe responde: Senhor, eu não posso; eles não querem me deixar entrar. Jesus olha para ele com tristeza e lhe disse: Olha, não te preocupes, a mim também não, eles não querem me deixar entrar”.
Esta festa da Páscoa 2013, eu creio sinceramente que se trata de um novo Dia. Esse jesuíta argentino, que vem de ser eleito Papa e que se chama Francisco, encarna verdadeiramente o Ressuscitado. A sua luta em favor dos pobres e dos desprovidos, seu combate pela justiça atualiza o Cristo do Evangelho e justifica a razão de ser Igreja. Com ele, nós passamos de um discurso de condenação e de exclusão a uma Palavra de compaixão e de misericórdia. Com a humildade e a sinceridade que ele tem, ele nos faz passar da Sexta-Feira Santa ao Domingo de Páscoa. Ele não vai reavivar, talvez, o fervor religioso dos moradores de Quebec, mas ele poderá, sem dúvida, reconciliar a muitos com a Igreja Católica.
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Páscoa: um Dia novo! (Jo 20,1-9) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU