12 Outubro 2018
Mesmo alguém como o biblista e historiador das ideias Romano Penna, autor de vários estudos sobre a escatologia, sentia uma certa perplexidade ao retomá-la de modo mais amplo e orgânico, mas depois cedeu aos pedidos da editora San Paolo e teve sucesso nessa intenção com este livro intitulado Quale immortalità? Tipologie di sopravvivenza e origini cristiane [Qual imortalidade? Tipologias de sobrevivência e origens cristãs].
A análise é do biblista e monsenhor italiano Giovanni Giavini, ex-capelão de Sua Santidade durante o pontificado de João Paulo II. O artigo é publicado por Settimana News, 02-10-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não espere o clássico tratado sobre os Novíssimos, mas apenas e acima de tudo uma abundante e interessantíssima panorâmica sobre as escatologias antigas e modernas, desde as mais conhecidas e alimentadas àquelas menos ricas, mas, talvez, mais difundidas no grande público contemporâneo. Ela segue uma síntese bem documentada, ampla e fundamentada do dado bíblico sobre a vida imortal e os seus vários aspectos e problemas.
O esforço de Romano Penna servirá, creio eu, para muitos, mesmo não esgotando todas as questões e as perguntas que todos nós temos, mais ou menos.
Por exemplo: eu esperava uma forte referência ao fato de que a escatologia cristã nasce, sim, de um Ressuscitado, mas também de um Crucificado ressuscitado, escândalo e loucura para as empresas do século I d.C., e, portanto, também uma notável ruptura, para além de uma continuidade com pelo menos várias linhas da escatologia judaica e da sua Torá (que considerava “maldito” alguém pendurado no madeiro).
Nesse contexto, preferiria uma maior atenção ao IV Canto do Servo de YHWH, ao qual, em vez disso, Penna dedica apenas rápidas referências (p. 91; recordo que, em um encontro com rabinos, incluindo Levinas, tive a consolação de vê-los aceitar a ideia de que Isaías 53 falava de uma figura mais única do que rara, embora com algumas semelhanças com o seu povo).
Ao contrário, o autor faz bem ao valorizar os textos paulinos como o hino cristológico de Filipenses 2, em que se fala de Jesus “tapeinòs”, motivo de esperança para o nosso corpo também “tapino” [miserável] e que ele transformará.
É ótima a ênfase no valor que a palavra bíblica de Deus afirma também para o nosso corpo e não só para a alma, contra o exagerado platonismo bastante disseminado nas velhas teologias e espiritualidades (apesar do tradicional Credo das Igrejas e a definição paulina da Igreja como corpo de Cristo!).
A valorização do corpo, certamente clara no Novo Testamento, embora não exclusiva, nem sempre coerente com o conjunto dos textos sagrados – como Penna também anota –, provoca, porém, alguns problemas difíceis, já sentidos pelos cristãos de 1Coríntios 15: como será o corpo transformado após a morte? E, em particular, como será o daqueles que perderam completamente o seu corpo de antes ou o cremaram? Em que sentido também estes serão “homens embora pneumatizados” e não só almas imortalizadas? Haverá uma espécie de criação de um novo corpo para a alma de antes?
Penna inicia respostas especialmente nas páginas 96-100. Eu esperava alguma luz a mais (exceto pela minha distração ou pelo recurso a outras obras dele).
Outro problema que permanece em aberto é o do juízo após a morte: em que sentido e em que tempos, se assim se pode dizer?
Parece-me ainda descoberto o discurso tanto sobre o fim de Jerusalém, quanto sobre o futuro advento de Cristo como Senhor definitivo também da morte.
São todos problemas secundários em relação à importância do “estar já agora em Cristo”, como também reafirma justamente o amigo Penna, que, mesmo assim, intrigam especialmente a pastoral e a catequese.
A escatologia continua sendo um belo problema, com as suas luzes e as suas sombras; mas o teólogo Pe. Giovanni Moioli, que também o aprofundou, dizia especialmente nos momentos difíceis da vida: “Menos mal que resta a reserva escatológica!”.
O Pe. Romano Penna, cuja abundante bibliografia colocada no final deste livro confirma a sua competência e capacidade, pode ajudar a todos pelo menos a se orientarem na floresta de “qual imortalidade” nos espera à luz da Páscoa do Senhor.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Imortalidade sim, mas de que tipo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU