Estudante gay rejeitado pela família recebe bolsa integral na Georgetown University

A Georgetown University ofereceu uma bolsa de estudos integral para um estudante que foi expulso de sua casa porque era gay.

A reportagem é de Lindsay Hueston, publicada por New Ways Ministry, 08-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

Seth Owen, recém-formado pela First Coast High School, em Jacksonville, na Flórida, tinha planos de ir para a Georgetown [1], em Washington, DC, desde o início de 2018 - pouco antes de deixar a casa dos pais por causa de seus desentendimentos em torno de sua sexualidade.

No segundo ano do ensino médio, os pais profundamente religiosos de Owen descobriram que ele era gay e o enviaram para uma terapia de conversão, de acordo com o NBCnews.com. Nos anos seguintes, Owen expressou suas discordâncias com a Igreja Batista do Sul dos pais, chegando a cogitar participar de uma outra igreja. Seus pais, no entanto, não se comoveram.

“Comecei a demonstrar minhas discordâncias com a igreja que eles frequentam. Quero dizer, era só incidente atrás de incidente”, disse Owen ao Washington Post. “Eles falaram muito negativamente sobre a comunidade LGBTQ+. Disseram que os gays não serviriam na igreja. Então eles estavam falando sobre pessoas transgênero como se não fossem humanos, e isso me incomodou muito mesmo.”

Em fevereiro do seu último ano no ensino médio, os pais de Owen deram a ele uma escolha: continuar frequentando a igreja com eles, ou sair de casa. Para sua própria segurança e sanidade, Owen decidiu sair de casa, mas logo depois foi abalado por sua nova realidade financeira: ele não podia pagar Georgetown por conta própria. O pacote de ajuda financeira que a universidade ofereceu ainda incluía a expectativa de uma contribuição familiar, agora inexistente já que Owen deixou sua casa. Com seus pais não servindo mais como fonte de apoio financeiro, ele não podia mais pagar a Georgetown.

“Comecei a chorar, porque percebi que não havia como ir para a faculdade. Georgetown era minha única opção, porque já me havia sido negado outras admissões”, disse Owen à NBC News.

Sua comunidade escolar entrou em cena, organizada por sua ex-professora de biologia, Jane Martin. Martin, que também é gay, reuniu outros professores para descobrir como enviar Owen para a faculdade. Eles criaram uma página de captação de recursos no GoFundMe para apoiar Owen:

“Seth era simplesmente uma criança que se destacou muito para mim. Ele era ambicioso e estava sempre tentando fazer mais do que lhe era exigido para garantir que pudesse ser o mais bem-sucedido possível”, disse Martin.

O levantamento de fundos começou com alguns milhares de dólares, mas, até 3 de agosto, os membros da comunidade levantaram quase US$ 130.000 para custear os custos da educação universitária de Owen.

Ele entrou em contato com o Escritório de Serviços Financeiros Estudantis da Georgetown para tentar reparar a situação que havia se alterado. Depois de conversar com eles, logo depois de notícias de sua história terem viralizado, ele recebeu uma bolsa de estudos integral para cursar a universidade - mudando sua expectativa de contribuição de US$ 20.000 para US$ 0 por ano.

Owen disse à NBC News: “Enquanto a campanha está em andamento, os profissionais do Escritório de Serviços Financeiros Estudantis continuaram a trabalhar comigo para tornar o meu sonho uma realidade... Devido a seus esforços e atenção, eles conseguiram ajustar ainda mais meu pacote de ajuda, minha expectativa de contribuição é agora US$ 0. Com esses novos ajustes, poderei frequentar a Georgetown University neste outono.”

Owen, que tinha um GPA de 4,61 (índice médio de notas, cujo máximo é 5) e era membro da equipe de natação, espera levar suas ambições para Georgetown e devolver a ajuda que recebeu criando uma bolsa de estudos e outros recursos para outros estudantes LGBT em necessidade.

"No momento, estou no processo de avaliar a criação de uma bolsa de estudos para ajudar os estudiosos LGBTQ+ que se encontram na situação em que eu estava no início deste ano", explicou Owen ao The Hill. "Estou ansioso para utilizar os recursos da Georgetown para ajudar com esta iniciativa."

Um gesto dessa magnitude por parte da Georgetown mostra que a convicção religiosa e a inclusão LGBT não são mutuamente exclusivas. Georgetown é, afinal, uma universidade católica. Embora os pais de Owen fossem de fato devotados às suas crenças religiosas, a iniciativa da Georgetown de dar assistência financeira mostra um tipo diferente de devoção religiosa: uma que dá as boas-vindas a todos em sua casa. Apoiar os estudantes LGBT nos campi católicos não é contraditório com os ensinamentos da Igreja; pelo contrário, é exatamente o que os campi católicos deveriam estar fazendo.

Em um campus jesuíta como Georgetown, é claro que a administração está exercendo o valor jesuítico de “cura personalis”, ou “cuidado da pessoa por inteiro” - o que inclui gênero e sexualidade. Se outras escolas e universidades pudessem seguir o mesmo caminho, os estudantes LGBTQ seriam mais apoiados como deveriam ser.

Nota:

[1] Nota de IHU On-Line: universidade confiada à Companhia de Jesus. 

Leia mais

• EUA. Universidade jesuíta debate sobre coalizão de homossexuais
• EUA. Universidade de Georgetown promove debate visando a cura da polarização
• Após rejeição inicial, Universidade de Georgetown abre Comunidade Residencial LGBT
• Estudante de Georgetown, em conferência, diz: 'sou ilegal e não estou com medo'
• Especialistas se reúnem para falar sobre o ''fator Francisco'' na Georgetown University
• Construir uma ponte entre a Igreja e as pessoas LGBT. Entrevista com James Martin
• A Igreja e a Sigla LGBT
• Será a doutrina da Igreja uma arma usada contra a comunidade LGBT?