09 Agosto 2018
O aquecimento global ameaça a pesca no Chile, Equador e Peru, aponta um novo informe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A reportagem foi publicada por ONU Brasil, 08-08-2018.
Divulgado nesta semana (5), o relatório mostra que a elevação da temperatura global põe em risco o ecossistema formado pela corrente marítima de Humboldt, responsável em grande medida por sustentar a atividade pesqueira nos três países sul-americanos.
O aquecimento global ameaça a pesca no Chile, Equador e Peru, aponta um novo informe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Divulgado nesta semana (5), o relatório mostra que a elevação da temperatura global põe em risco o ecossistema formado pela corrente marítima de Humboldt, responsável em grande medida por sustentar a atividade pesqueira nos três países sul-americanos.
Segundo a agência da ONU, a disponibilidade de peixes no sistema da corrente de Humboldt é controlada principalmente pelo clima e seus efeitos sobre a produção de fitoplâncton, a base de toda a cadeia alimentar marinha. Durante as últimas décadas, o ecossistema criado por esse fluxo marítimo produziu mais peixes por unidade de área do que qualquer outro sistema no mundo.
Mas com uma clima mais quente, os eventos conhecidos como El Niño e La Ninã poderão ocorrer mais frequentemente, provocando uma diminuição na abundância de plâncton. Os efeitos de ambos os fenômenos são mais notáveis justamente ao longo do sistema da corrente de Humboldt.
De acordo com a FAO, estima-se uma redução geral no volume de fitoplâncton e zooplâncton para o ecossistema, como resultado de um esgotamento em larga escala dos nutrientes em águas subterrâneas. O fenômeno está associado ao aquecimento do planeta. A extensão média da área rica em zooplâncton deverá encolher em 33% nas zonas norte e central do sistema de Humboldt e em 14% na região ao sul da corrente.
Em média, 9,35 milhões de toneladas de peixes marinhos, moluscos e crustáceos foram capturados a cada ano no Chile e no Peru, de 2005 a 2015. Nesses dez anos, a agência da ONU identificou uma notável tendência decrescente do volume de pescado, principalmente devido à aplicação de planos de manejo mais rigorosos, mas também por conta de variações climáticas e, em alguns casos, da superexploração.
A região Norte-Centro do Peru registrou 75% do total de capturas, o sul do Peru e o norte do Chile responderam por quase 20%, e a região central do Chile contribuiu com menos de 5%.
A publicação da FAO mostra que modelos globais preveem, para 2050, uma redução moderada no potencial de captura do Chile e do Peru. Isso porque as mudanças climáticas podem impedir significativamente o sucesso da desova de pequenos peixes pelágicos, visados pelo setor industrial.
Estudos coletados pelo organismo das Nações Unidas antecipam ainda uma maior estratificação — quando massas de água com diferentes propriedades formam camadas que atuam como barreiras para a mistura de nutrientes. Outra consequência das mudanças climáticas incluem um forte aquecimento da superfície das águas peruanas e, em menor grau, das águas chilenas.
O sistema da corrente de Humboldt também é caracterizado pela presença de uma zona estendida de oxigênio mínimo. Trata-se de uma espessa camada de água a algumas dezenas de metros abaixo da superfície, onde a concentração de oxigênio é tão baixa que, com exceção das bactérias, apenas algumas espécies podem sobreviver temporariamente. Essa camada também pode se expandir em um mundo mais quente.
Embora essas projeções tenham um alto nível de incerteza, o informe da FAO elenca diferentes medidas para evitar que o aquecimento global prejudique o ecossistema marinho da corrente de Humboldt. Entre as orientações propostas, estão a institucionalização de modelos de governança participativos, a realização de estudos científicos especializados e melhorias no monitoramento.
A agência da ONU indica também que aumentar o controle da pesca, reduzindo a atividade para níveis sustentáveis, poderia ter um efeito social negativo a curto prazo, mas é uma estratégia indispensável para proteger a sustentabilidade nas próximas décadas.
Outra política sugerida é crescer a proporção de peixes para consumo direto humano, o que promoveria a segurança alimentar e, ao mesmo tempo, a aquicultura sustentável. A FAO ressalta a necessidade de reduzir os descartes e o desperdícios de peixe. O estudo destaca ainda que o uso de gás natural renovável, no lugar de combustíveis pesados, diminuiria a pegada de carbono do setor pesqueiro.
Acesse a publicação Impactos das mudanças climáticas na pesca e na aquicultura: Síntese do conhecimento atual, opções de adaptação e mitigação, clicando aqui (em inglês).
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Mudanças climáticas ameaçam pesca e vida marinha na corrente de Humboldt, afetando Chile, Equador e Peru - Instituto Humanitas Unisinos - IHU