27 Abril 2018
Às vésperas do encontro que o Papa Francisco terá com representantes da Conferência dos Bispos da Alemanha para “esclarecer e aprofundar” a proposta de intercomunhão com os protestantes, Bento XVI poderia ter se aliado às teses dos sete bispos alemães contrários à ideia. Pelo menos é o que acredita o vaticanista Edward Pentin, que afirma ter recorrido a “fontes confiáveis e autorizadas” para explicar a oposição de Ratzinger à proposta.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 26-04-2018. A tradução é de André Langer.
Em um artigo no National Catholic Register, Pentin publicou o texto em inglês da carta que mandaram a Roma os bispos que se opõem à proposta de que cônjuges protestantes de fiéis católicos recebam a comunhão, após examinados certos requisitos como um “exame sério” de consciência ou um “acurado discernimento espiritual”.
Da mesma forma, o vaticanista também revelou a suposta oposição de Bento XVI ao plano, e uma advertência de uma “fonte informada da Igreja alemã” ao efeito de que, mesmo com as resistências do Papa Emérito, a comunhão para protestantes possa em breve ser introduzida na Igreja universal, “pela porta dos fundos da Conferência Episcopal Alemã”.
Qual é a razão pela qual a intercomunicação poderia em breve ser colocada em prática? Dos seis prelados que foram convidados para discutir o tema com o Papa em Roma – os cardeais Reinhard Marx e Rainer Woelki, os bispos Felix Genn, Gerhard Feige e Karl-Heinz Wiesemann e o padre Hans Langendörfer (secretário dos bispos alemães) –, apenas Woelki se opõe à proposta.
Este fato – junto com a conhecida simpatia do Papa Francisco à ideia de que o discernimento pessoal tem um papel a desempenhar na hora de decidir comungar ou não – significa que o cardeal de Colônia terá muitas dificuldades para defender o seu ponto de vista. O bispo Feige de Magdeburg, de fato, chegou a dizer em um artigo publicado na quarta-feira no portal de notícias da Igreja alemã katholisch.de que os adversários da proposta de intercomunhão com os protestantes “ainda parecem manter uma imagem pré-conciliar da Igreja e mal internalizaram os princípios católicos do ecumenismo”.
Entretanto, após a publicação da carta dos sete bispos dissidentes, a palavra oficial da Conferência Episcopal Alemã segue sendo a que pronunciou nesta segunda-feira, quando afirmou, após concluir os trabalhos de seu Conselho Permanente, que o texto final do plano de intercomunhão já está elaborado e que os bispos alemães “acolhem a oportunidade de um diálogo em Roma para esclarecer e aprofundar” as questões propostas pelo texto.
“O objetivo do encontro, do ponto de vista do Conselho Permanente, será discutir e avaliar os aspectos pastorais e o contexto jurídico também do ponto de vista da Igreja universal”, reza a declaração, que também precisa que os trabalhos desta reunião do Conselho Permanente giraram em torno do debate que surgiu sobre as indicações pastorais sobre os matrimônios interconfessionais e a participação dos não católicos na Eucaristia.
A Conferência Episcopal Alemã também recorda que um rascunho destas indicações pastorais foi aprovado em sua recente assembleia da primavera e “como de costume, os membros da Conferência Episcopal Alemã puderam apresentar emendas ('Modi')”, que “foram incorporadas ao documento”.
Conforme foi decidido pelo plenário, a versão final foi aceita pelos presidentes da Comissão Doutrinal, da Comissão para o Ecumenismo e da Conferência Episcopal Alemã. Agora, “o cardeal Reinhard Marx informará os membros da Conferência Episcopal Alemã e as instituições competentes da cúria romana”.
Eminência, queridos irmãos:
No período de 19 a 22 de fevereiro de 2018, os bispos alemães reuniram-se para a Assembleia Plenária de Primavera em Ingolstadt.
De acordo com o item IL.1 da pauta, os bispos receberam da Comissão Ecumênica um subsídio pastoral intitulado “No caminho da unidade com Cristo: os matrimônios [inter]confessionais e a participação na Eucaristia” para consulta e discussão. De acordo com o texto, os cônjuges de denominações mistas, como um “laboratório prático de unidade”, vivem em um contexto em que as Igrejas separadas caminham juntas ao encontro da mesma meta. Devido à importância dos casamentos entre cristãos católicos e protestantes na Alemanha, o texto respeita “a dor [... daqueles] que compartilham toda a sua vida, mas não podem compartilhar a presença salvadora de Deus no banquete eucarístico”. De acordo com a comemoração conjunta da Reforma em 2017, o subsídio está pensando em um compromisso voluntário “para oferecer toda a ajuda aos matrimônios interdenominacionais, para reforçar a fé comum e promover a educação religiosa de seus filhos”, oferecendo ajuda e legislação concretas – como foi declarado junto com a Igreja Protestante na Alemanha em uma celebração ecumênica de penitência e reconciliação em 11 de março de 2017 na Michaeliskirche.
De acordo com isso, uma abertura para os cristãos protestantes em casamentos [inter] denominacionais para que possam receber a comunhão através do cânon 844 (4) CIC 1983 deve tornar-se possível, uma vez que uma “gravis spiritualis necessitas” [necessidade espiritual grave] é adotada de acordo com o documento apresentado sobre as diferenças denominacionais do matrimônio.
Em 20 de fevereiro de 2018, o texto acima apresentado sobre os matrimônios não-confessionais e a participação na Eucaristia foi votado na Assembleia. O documento foi aprovado por uma maioria de dois terços dos bispos alemães. Dos 60 bispos presentes, 13 votaram contra, incluindo pelo menos sete bispos diocesanos. Modi (emendas) podem ser apresentadas até 16 de março, mas não podem mais reverter a aprovação fundamental do documento.
Pessoalmente, não consideramos que a votação que ocorreu em 20 de fevereiro estava correta, porque não acreditamos que a questão em debate seja pastoral, mas uma questão relativa à fé e à unidade da Igreja, que não estão sujeitas a nenhum voto. Portanto, pedimos, Eminência, que esclareça este assunto.
1. O documento aqui apresentado é um “subsídio pastoral” – como alguns bispos alemães afirmam – e, portanto, uma questão meramente pastoral, de acordo com as determinações que já foram feitas, ou é uma questão de fé e unidade da Igreja?
2. O artigo 58 do documento relativiza a fé da Igreja, segundo a qual a Igreja de Jesus Cristo realiza-se [subsiste] na Igreja Católica e torna necessário que um cristão evangélico que compartilha a fé católica em relação à Eucaristia deve nesse caso, tornar-se católico?
3. De acordo com os números 283-293, não é primordialmente o desejo da graça eucarística que se transforma no critério da angústia [séria e espiritual], mas a recepção comum da comunhão por parte dos cônjuges que pertencem a diferentes confissões. Na nossa opinião, essa angústia não é outra senão a do ecumenismo em sua totalidade, isto é, de todo cristão que se esforça seriamente pela unidade. Do nosso ponto de vista, portanto, não é um critério extraordinário.
4. É possível que uma conferência episcopal nacional, numa determinada região linguística, tome uma decisão relativa a semelhante questão sobre a fé e a prática de toda a Igreja, sem referência e integração na Igreja universal?
Eminência, temos muitas outras questões e reservas fundamentais sobre a solução proposta contida neste documento. É por isso que votamos a favor de renunciar à sua derrogação e, por sua vez, de encontrar uma solução clara no diálogo ecumênico para o problema global da “comunhão eucarística e eclesial” que seja viável para a Igreja universal.
Pedimos sua ajuda, à luz de nossas dúvidas, sobre se o rascunho apresentado neste documento é compatível com a fé e a unidade da Igreja.
Pedimos a bênção de Deus para vocês e suas responsabilidades em Roma e os saudamos cordialmente!
- Cardeal Rainer Woelki (Colônia)
- Dom Ludwig Schick (Bamberg)
- Dom Gregor Hanke (Eichstätt)
- Dom Konrad Zdarsa (Augsburg)
- Dom Wolfgang Ipolt (Görlitz)
- Dom Rudolf Voderholzer (Regensburg)
- Dom Stefan Oster (Passau)
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Seria Ratzinger contrário à proposta de intercomunhão dos bispos alemães? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU