28 Novembro 2017
“Imigração e criminalidade estão muitas vezes ligadas, na narrativa midiática. Que é um dos principais motores, talvez o principal, do ressentimento social.”
A análise é do sociólogo italiano Ilvo Diamanti, professor da Università degli Studi di Urbino “Carlo Bo”, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 27-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os estrangeiros às portas e dentro de casa. Nostra. Tornaram-se um assunto de polêmica cotidiana. No nível mediático e político. Acompanhamos a sua evolução constante, através das pesquisas do Demos. Há quase 20 anos.
Porque a atenção e a tensão sobre o assunto não acabam nunca. Os imigrantes: levantam inquietação como ameaça à nossa segurança – pessoal e social. Mas também à nossa cultura e à nossa religião. Em medida diferente. Porque segurança e a incolumidade (obviamente) preocupam mais do que a identidade.
No entanto, em algumas fases, esses (res)sentimentos são percebidos com intensidade particular. Observamos isso há algumas semanas, comentando uma pesquisa anterior. Mas hoje essa sensação se destaca de modo igualmente evidente.
Nos últimos meses, o medo dos “outros” cresceu. Os temores pela nossa segurança atingiram o nível mais elevado dos últimos anos: 43% (parcela de pessoas que manifestam grande preocupação a propósito). Aproximando-se da medida observada em 2000 e 2007. Embora os temores despertados pelos imigrantes como ameaça à identidade (cultural e religiosa) hoje tocaram os 38%. Ou seja: o maior grau de intensidade detectado nos últimos 20 anos.
Na percepção social, esses sentimentos geralmente se apresentam associados. Cerca da metade dos italianos não sentem inquietação. Nem sob o perfil da segurança, nem sob o da identidade. Mas um terço mostra orientações opostas. E manifesta preocupação – muitas vezes: medo – em relação aos imigrantes. Sem distinções particulares, entre segurança e identidade. Para essas pessoas, os estrangeiros são os “outros” que nos ameaçam. Irrompem no nosso mundo, na nossa vida. De terras e culturas distantes. Em suma: nos “invadem”. E, seguindo uma opinião generalizada, forçam-nos a reagir.
O grau de inquietação, no entanto, muda ao longo do tempo. E depende de diversas causas. A tendência “real” do fenômeno, com efeito, importa. Mas em medida limitada. Como no caso da criminalidade, que, em períodos específicos, desperta uma preocupação muito mais intensa. Embora, nos últimos 20 anos, o número dos “fatos criminais” não tenha mudado. Porque permanece constante ao longo do tempo.
O mesmo ocorre com os migrantes e as migrações. Que levantam ondas emotivas especialmente em algumas fases. Principalmente, as mesmas que se observam no caso da criminalidade.
Por outro lado, imigração e criminalidade estão muitas vezes ligadas, na narrativa midiática. Que é um dos principais motores, talvez o principal, do ressentimento social. Já observamos isso, comentando as pesquisas do Observatório de Pavia (para a Fundação Unipolis).
Porque o “medo” gera espetáculo. No entanto, os “ciclos do medo” mostram uma coincidência significativa com os ciclos políticos e eleitorais. Observamos – e anotamos – isso nos últimos meses. A partir de 1999, os picos da insegurança, no plano social e da identidade, coincidem com os períodos que precedem as eleições nacionais. E, portanto, com as campanhas eleitorais. Porque o “medo dos outros” atrai ou rejeita os eleitores.
É claro, já vivemos tempos de campanha eleitoral permanente. Mas, em alguns períodos, a mobilização política parece ser mais forte. Mais intensa. Como há alguns meses. Como acontecerá, com mais razão, nos próximos meses. Já que estamos às vésperas de eleições [na Itália] “de virada”. Agora, todas as são. Mas o resultado das próximas eleições parece ser mais “incerto” do que nunca. A única verdadeira certeza é a incerteza. Já que é improvável – impossível? – que uma fileira ou uma coalizão consiga obter uma maioria estável no próximo Parlamento. Assim, a imigração se torna um tema importante. Ou, melhor, o mais importante. Hoje: é o tema. Para interceptar consensos.
De fato, nunca como hoje, nos últimos dez anos, ele foi percebido com uma medida tão intensa. Em particular, como ameaça à nossa cultura e identidade. Mas, acima de tudo, nunca como hoje a imigração se tornou um campo de disputa aberto. E incerto. Porque inquieta e preocupa a todos. De modo transversal. Os eleitores do centro, da direita (os leguistas: mais de 70%). E do Movimento Cinque Stelle. Como sempre aconteceu. Mas, em medida crescente, também os eleitores do Partido Democrático e do Sinistra. Entre os quais a inquietação levantada pelos “outros”, pelos “estrangeiros” aumentou sensivelmente nos últimos anos. Especialmente no último ano (cerca de 10 pontos a mais).
Assim também se explica a crescente popularidade de Marco Minniti. O ministro da Segurança. (A outra face do ministro do Medo, personificado, há anos, de modo magistral, por Antonio Albanese.) Minniti é um homem do Sinistra. E, por isso, parece ser particularmente apto para ocupar esse papel. Hoje.
Porque, hoje, o Medo dos outros não tem mais cor. Política.
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Cultura, identidade, segurança: os estrangeiros dão mais medo. Artigo de Ilvo Diamanti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU