12 Junho 2017
Um sacerdote da Índia pediu que as pessoas lancem um "Movimento Católico" para preservar o meio ambiente, unindo-se às ações da sociedade civil e responsabilizando os representantes eleitos pela elaboração e implementação de políticas ecológicas. O padre Frazer Mascarenhas S.J. disse que também é "nosso dever religioso" e que "o Papa Francisco nos chama a fazer isso".
A reportagem é de Nirmala Carvalho, publicada por Crux, 10-06-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A conversão é a chave para preservar o meio ambiente e é preciso analisar os "hábitos do coração" para ver se a lei de Deus está sendo seguida.
O padre Frazer Mascarenhas S.J., sacerdote da Índia e doutor em Antropologia Cultural, argumentou recentemente que a conversão é uma mudança de cultura, uma mudança de estilo de vida, de práticas, hábitos, padrões de comportamento e de atitudes e valores, que são as formas culturais mais profundas.
Ele falou em um evento pelo Dia Mundial do Meio Ambiente na paróquia de St. Andrew, em Banda, na Índia.
Durante a palestra, o sacerdote aplicou os conceitos desenvolvidos no livro Hábitos do Coração (Habits of the Heart, sem edição no Brasil), de 1985, escrito por Robert Bellah e seus colegas, os sociólogos Richard Madsen e Ann Swindler, o filósofo Richard Sullivan e o teólogo Steven Tipton.
Frazer disse que no caso de acontecer uma verdadeira conversão espiritual, precisamos mudar os hábitos do coração com que estamos acostumados, já que são eles que captam a nossa imaginação, desencadeiam emoções fortes e motivam as pessoas - eles estruturam o ser interior e a consciência de cada um.
O padre disse que a encíclica do Papa Francisco, Laudato Si', é um chamado à conversão ecológica e que o Papa considera o cuidado com o meio ambiente uma questão de justiça.
"Hábitos individuais como reutilizar e reciclar papel e outros recursos, economizar água, reduzir a quantidade e recolher o lixo ao nosso redor, evitar o uso de plástico são todos novos hábitos do coração que precisamos incentivar", disse Frazer.
Mas ele acrescentou que as práticas individuais não são suficientes.
"O principal dano ao meio ambiente hoje ocorre pelas políticas públicas que degradam e empobrecem o meio ambiente em nome do 'desenvolvimento' ou, melhor dizendo, das aquisições em excesso", disse Frazer ao Crux.
"Demonstra-se claramente que são os pobres que sofrem as consequências dessa degradação, pois eles não conseguem amortecer seu impacto devido a questões econômicas", acrescentou. "Portanto, em vez de cuidar dos vulneráveis, o estado indiano está se aproveitando de sua condição".
Frazer pediu que as pessoas lancem um "Movimento Católico" para preservar o meio ambiente, unindo-se às ações da sociedade civil e responsabilizando os representantes eleitos pela elaboração e implementação de políticas ecológicas.
O padre disse que também é "nosso dever religioso" e que "o Papa Francisco nos chama a fazer isso".
Frazer apontou exemplos práticos, como a sugestão que a Índia evite a energia nuclear e invista mais na energia solar.
Ele ressaltou que em um país como a Índia a energia solar tem um potencial imenso, é gratuita e ilimitada e não é poluente nem perigosa. Frazer chegou a instalar painéis de energia solar no telhado de sua paróquia, que segundo ele suprem 70% da demanda da igreja e da escola paroquial.
Frazer disse que são necessários novos hábitos do coração mais no que nunca, tanto individual quanto socialmente, agora que o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que está saindo do acordo internacional de Paris sobre o clima.
"Em última análise, é preciso reconhecer a conclusão de Bellah sobre a interconexão entre nós e, no caso da ecologia, com a natureza", disse Frazer ao Crux. "Nossa responsabilidade espiritual é preservar a nossa casa comum dada por Deus".
Ele também disse que o mundo descrito no livro - os Estados Unidos dos anos 80 - ainda tem lições para a Índia de hoje.
"A sociedade estadunidense de Bellah, nos anos 80 e 90, foi dividida por grandes disparidades entre grupos sociais, levando a uma quebra na justiça distributiva buscada pela democracia", explicou Frazer.
"A Índia hoje parece estar em situação ainda pior, com novos hábitos do coração que vão contra o espírito democrático: a justiça pelo linchamento; o abuso de processos judiciais; o abafamento da diferença de opiniões, mesmo em instituições educacionais - onde a diferença de opiniões e o debate devem fluir livremente; a terrível negligência do financiamento à saúde pública e à educação; a destruição das leis trabalhistas que protegem a dignidade dos trabalhadores; e até mesmo a degradação irreversível do meio ambiente para ganhos econômicos pequenos e de curto prazo", disse ele.
"A sociedade plural, mais equitativa e participativa que a Índia estava tentando construir desabou, ao que parece", continuou o padre, apontando que comunidades vulneráveis muitas vezes sofrem exploração e as minorias religiosas sofrem ataques de atores não estatais ligados ao seu poder.
Portanto, segundo Frazer, há uma necessidade de mudar os hábitos do coração em relação à justiça.
Ele questiona: "Estamos oferecendo um salário justo às pessoas que nos servem, estamos tentando defender as leis trabalhistas que salvaguardam a dignidade dos trabalhadores, discriminamos por casta, gênero ou aparência física?"
Ele afirma que os hábitos do coração nesta área devem ser avaliados, para ver se estamos realmente praticando a lei de Deus.
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Jesuíta indiano diz que hábitos do coração devem preservar meio ambiente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU