16 Mai 2017
“Pela lei da vida, a grande geração de teólogos, que tornou possível a renovação teológica realizada pelo Concílio Vaticano II, está se extinguindo por completo. E nas décadas seguintes, infelizmente, não surgiu uma geração nova que tenha podido continuar o trabalho que os grandes teólogos do século XX iniciaram”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em artigo publicado por Religión Digital, 15-05-2017. A tradução é de André Langer.
Pela lei da vida, a grande geração de teólogos, que tornou possível a renovação teológica realizada pelo Concílio Vaticano II, está se extinguindo por completo. E nas décadas seguintes, infelizmente, não surgiu uma geração nova que tenha podido continuar o trabalho que os grandes teólogos do século XX iniciaram.
Os estudos bíblicos, alguns trabalhos históricos e alguma coisa também no que se refere à espiritualidade, são âmbitos do fazer teológico que se mantiveram dignamente. Mas mesmo movimentos importantes, como ocorreu com a Teologia da Libertação, dão a impressão de que estão desmoronando. Tomara que eu esteja equivocado.
O que aconteceu na Igreja? O que está acontecendo conosco? A primeira coisa que deveríamos considerar é que é muito grave o que estamos vivendo nesta ordem de coisas. Os outros campos do saber não param de progredir: as ciências, os estudos históricos e sociais, as mais diversas tecnologias sobretudo, nos surpreendem a cada dia com novas descobertas.
Ao passo que a teologia (falo especificamente da católica) segue firme, inacessível ao desânimo, interessando cada dia a menos pessoas, incapaz de dar resposta às perguntas que tantas pessoas se fazem e, sobretudo, empenhada em manter, como intocáveis, supostas “verdades” que eu não sei como podem continuar a defender neste momento da história.
Dou alguns exemplos: como podemos continuar a falar de Deus, com a segurança com que dizemos o que Ele pensa e o que Ele quer, sabendo que Deus é o Transcendente, que – portanto – não está ao nosso alcance? Como é possível falar de Deus sem saber exatamente o que dizemos? Como se pode garantir que “por um só homem o pecado entrou no mundo”? Vamos apresentar como verdades centrais da nossa fé o que na realidade são mitos que têm mais de quatro mil anos? Com que argumentos podemos garantir que o pecado de Adão e a redenção desse pecado são verdades centrais da nossa fé?
Como é possível defender que a morte de Cristo foi um “sacrifício ritual” que Deus necessitou para perdoar as nossas maldades e salvar-nos? Como se pode dizer às pessoas que o sofrimento, a miséria, a dor e a morte são “bênçãos” que Deus nos manda? Por que continuamos a manter rituais litúrgicos que têm mais de 1.500 anos e que já ninguém entende, nem sabe por que continuam a ser impostos às pessoas? Acreditamos realmente naquilo que nos dizem em alguns sermões sobre a morte, o purgatório e o inferno?
Enfim, a lista de perguntas estranhas, incríveis e contraditórias seria interminável. E, enquanto isso, as igrejas estão vazias ou com algumas pessoas idosas, que vão à missa por inércia ou por costume. Simultaneamente, os nossos bispos põem a boca no céu por assuntos relacionados ao sexo, ao passo que se calam (ou fazem afirmações tão genéricas que equivalem a silêncios cúmplices) diante da quantidade de abusos de menores cometidos por clérigos, abusos de poder cometidos por aqueles que administram esse poder para abusar de alguns, roubar a outros e humilhar os que estão ao seu alcance.
Insisto em que, na minha modesta maneira de ver, o problema está na pobre, paupérrima, teologia que temos. Uma teologia que não leva a sério o mais importante da teologia cristã, que é a “encarnação” de Deus em Jesus Cristo. O apelo de Jesus a “segui-Lo”. A exemplaridade da vida e do projeto de vida de Jesus. E a grande pergunta que os crentes teriam que enfrentar: como vamos apresentar o Evangelho de Jesus neste tempo e nesta sociedade em que vivemos?
Termino insistindo em que o controle de Roma sobre a teologia foi muito forte, desde o final do Pontificado de Paulo VI até a renúncia do papado de Bento XVI. O resultado é muito nefasto: na Igreja, nos seminários e nos centros de estudos teológicos há medo, muito medo. E sabemos muito bem que o medo bloqueia o pensamento e paralisa a criatividade.
A organização da Igreja, nestas questões, não pode continuar como esteve tantos anos. O Papa Francisco quer uma “Igreja em saída”, aberta, tolerante, criativa. Mas, vamos continuar com este projeto? Infelizmente, na Igreja há muitos homens, com bastões de comando, que não estão dispostos a largar o poder, assim como eles o exercem. Bom, se é assim, vamos em frente! Logo teremos liquidado o pouco que ainda resta.
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“A grande geração de teólogos do Vaticano II não tem sucessores”, afirma José María Castillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU