10 Mai 2017
Baixe aqui o áudio do culto. Envie o nome de alguém pedindo uma oração. Veja ao vivo a programação religiosa do nosso canal. Jogue. Visite um templo em 3D. Faça uma doação pelo cartão de crédito. Acesse o hinário para acompanhar durante o culto. Google Play e App Store têm prateleiras virtuais recheadas de conteúdo interativo, de entretenimento e de serviço para fiéis. E boa parte é produzido pelas próprias igrejas.
A reportagem é de Paula Minozzo, publicada por Zero Hora, 10-05-2017.
Os valores religiosos podem permanecer intactos por séculos, já os meios de comunicação, esses, sim, sempre refletem os sinais dos tempos.
– Uma das missões é compartilhar o evangelho. A maioria dos apps que a gente desenvolve é para ajudar as pessoas no exercício da fé, e tem uma outra linha, da Novo Tempo, para quem não é adventista, mas são cristãos e pensam em talvez tornarem-se adventistas – diz Carlos Magalhães, diretor de marketing digital da Igreja Adventista.
Magalhães está a frente da estratégia de inserir a igreja nos ambientes digitais. Ele conta que a Adventista começou a recrutar desenvolvedores de software em 2010 e, hoje, já pensa em realidade virtual. Duas equipes são responsáveis em fazer aplicativos e produtos digitais com públicos- alvo diferentes. Sob o nome da Igreja Adventista, há 17 apps disponíveis na loja do Android; sob a Rede Novo Tempo, empresa de comunicação da igreja, são 23. Entre eles, há jogos para crianças com temática cristã, transmissão de TV e rádio e cursos bíblicos. Há um aplicativo para usar com óculos de realidade virtual para navegar por um templo 3D.
Segundo a igreja adventista, os apps foram baixados mais de 2,4 milhões de vezes – os da Novo Tempo representam 1,9 milhões desse total. A plataforma Android é a mais popular, mas há versões para iOS de todos os programas também.
Magalhães defende que o principal item para medir o sucesso de um aplicativo é o número de downloads. Dos apps direcionados aos fiéis, um dos mais populares é o do Desbravadores (com mais de 178 mil instalações), para membros do clube de jovens, entre 11 e 15 anos, terem acesso a conteúdos e estudos bíblicos. O segundo é o aplicativo Pôr do Sol (103 mil), que, segundo a descrição, “traz uma meditação a cada sexta-feira, são histórias de pessoas que tiveram suas vidas transformadas pelo poder e amor de Deus”.
O nome do app não é por acaso. Os adventistas guardam o dia para ficar com a família a partir do pôr do sol de sexta-feira até o entardecer de sábado. Com o app, Bianca Lorini, 29 anos, consegue saber quando o sol se põe em qualquer lugar.
– Eu só uso aplicativos, lá tem tudo. Vejo o horário do pôr do sol nele e leio um texto para fazer a meditação. É bom para quando estou em viagem e não levei a Bíblia, assim posso receber o sábado com oração – diz.
Luis Mauro Sá Martino, professor da Faculdade Cásper Libero, em São Paulo, e pesquisador de religião e mídia, observa que as iniciativas das igrejas sempre têm boa aceitação dos fiéis.
– A estratégias midiáticas das igrejas têm sido bem-sucedidas, nunca vi uma dar errado. Todas as vezes que as igrejas entram nesses ambientes, têm um resultado bom. O aplicativo é uma nova roupagem – afirma.
No aplicativo da Igreja Metodista, por exemplo, fiéis podem participar de bate- papos e ganhar pontos ao participar das atividades da instituição. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem na App Store um catálogo da liturgia.
A Universal, que não quis ceder informações sobre o desenvolvimento dos seus aplicativos, também investe no registro de apps. A igreja tem dois programas cadastrados sob o seu nome na Google Play – um é chamado de Godlywood, de desafios para mulheres que incluem ler a bíblia todos os dias ou “investir no seu lado feminino”. Sob registro da Unipro, a editora da Igreja Universal, há um aplicativo de streaming, à la Netflix, de filmes e músicas cristãos: o Univer Vídeo, que custa R$ 14 por mês.
– A mensagem da igreja vai concorrer com outras que não são religiosas. O público também joga Angry Birds, também assiste TV, então esses aplicativos têm de ser tão bem feitos e atraentes quanto – ressalta Martino.
A qualidade dos aplicativos assinados por essas instituições religiosas nem sempre é inquestionável. Muitos usuários, nas próprias lojas dos apps, reclamam que recursos básicos não funcionam ou trancam. Em uma dessas plataformas, com 2 mil avaliações, em que a função básica de horário deveria funcionar para cumprir sua missão, quem baixou não conseguiu utilizar. Mesmo assim, o aplicativo tinha nota 4,5 (a máxima é 5).
Analisando 451 apps religiosos, pesquisadores da Universidade Texas A&M (dos EUA) encontraram 11 tipos.
-Oração – Aplicativos que facilitam a prática
-Texto sagrado – Facilitam ou fornecem textos sagrados, como a Bíblia
-Devoção – Disponibilizam imagens e textos motivacionais ou inspiracionais
-Meditação – Fornecem imagens, hinos ou sons para práticas religiosas
-Ritual – Organizam e ajudam a fazer os rituais religiosos com instruções ou ferramentas
-Utilidades – Ajudam a encontrar o templo mais próximo, lembram o horário para certas práticas etc.
-Líderes e sabedoria – Dedicam-se a disseminar mensagens de líderes religiosos
-Mídia – Dão acesso aos canais de notícias, como rádio ou TV
-Jogos – Educam e ensinam por meio de games
-Crianças – Apresentam animações, histórias e mensagens religiosas
-Mídia social – Conectam fiéis da mesma crença
Localizada em Curitiba (PR), a empresa YourKingdomCo.me (cujo nome faz referência a uma frase da oração Pai Nosso, em inglês), de Rafael Ramos, 34 anos, é especializada em desenvolver produtos digitais para igrejas – principalmente aplicativos. Com a ajuda de uma equipe de quatro freelancers, ele atende a igrejas como a Bola de Neve de Curitiba, a Batista da Lagoinha, na capital mineira, e a Presbiteriana Viva, de Volta Redonda, no Rio de Janeiro.
“Somos uma empresa cristã”, anunciam no site. Com planos, nas opções premium e básico, as igrejas podem escolher um menu de opções para colocar no aplicativo que eles desenvolvem: streaming de vídeo, rádio, redes sociais e loja de produtos. Ele não cita valores sobre investimento.
Os conteúdos mais acessados, segundo Ramos, são os de áudio e vídeo. As igrejas, geralmente, querem disponibilizar informações e serviços. É possível mandar pelo aplicativo pedidos de rezas e orações. A igreja os acessa por e-mail e depois pode fazer na missa.
– Eu vejo que as igrejas não querem investir um valor alto para os seus aplicativos, por isso, esse método por planos funcionou – explica.
O tamanho e a variedade de aplicativos religiosos podem ser precisados por um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Texas A&M. Ao analisar 451 apps religiosos, eles encontraram 11 categorias diferentes que incluem aplicativos apenas para rituais, para devoção de textos sagrados, de jogos e mídias sociais.
Pelos aplicativos oficiais, os fiéis da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias têm à disposição um leque de ferramentas. O gerenciamento de assuntos administrativos – há um aplicativo para as lideranças enviarem os problemas e pedidos de melhoria nas igrejas –, a listagem de membros, com nome e telefone e endereço, o calendário de eventos, as lições bíblicas: tudo é acessível por diferentes apps criados pela igreja. Também dá para acessar por GPS os templos mais próximos.
– Não tem desculpa para dizer que viajou e faltou – brinca o publicitário Adriano Vedovi, 45 anos.
A digitalização e o acesso fácil para todos os fiéis torna também mais eficiente documentar a história recente.
– Tem um aplicativo de recordações em que eu posso adicionar fotos, documentos, posso fazer áudios. A minha mãe estava visitando a família e deixou um depoimento de como conheceu a igreja. Esse conteúdo fica na nuvem da igreja, atrelado a nossa família. Daqui a pouco uma outra pessoa percebe que é membro da família. Ela pode ter acesso a isso pelo celular – exemplifica o empresário Marcus Damasceno, 39 anos.
Esses registros são uma parte importante da doutrina e da crença mórmon, assim como o conhecimento da história familiar. Hoje, a organização da árvore genealógica de cada um pode ser feita pelo aplicativo Family Search.
– Sabia que talvez sejamos parentes? – questiona Vedovi, mostrando a tela do celular com as fotos de seus antepassados, para Cristiane Grahl Baptista, 43 anos, durante uma conversa dentro da capela mórmon localizada na Vila Ipiranga, em Porto Alegre.
A dona de casa aproveita para exibir uma pasta no iPhone com uma gama de apps. Atualmente, deixa a bolsa cheia de papéis e livros para as atividades de domingo em casa. No celular, acessa o hinário e as escrituras dentro da capela. Fora, aproveita as transmissões ao vivo e os conteúdos em vídeo.
– Esses dias estava esperando a minha filha no colégio, então, como já estava começando a conferência, comecei a olhar pelo celular mesmo, cheguei em casa e assisti ao resto – conta Cristiane.
Além das praticidades, os aplicativos oficiais da igreja dão a segurança para os mórmons de que o conteúdo que eles estão acessando é condizente com suas crenças. Para Adriano, esses apps também tornam as doutrinas públicas, o que ajudaria a desmistificar boatos ou inverdades sobre as crenças mórmons.
– Qualquer religião sofre ataques. Dificilmente alguém fora da igreja vai falar bem (na internet). Por isso, quem quiser, pode baixar o material mesmo, da própria igreja e ler tudo – explica.
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Os apps da fé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU