30 Março 2017
Recentemente tive a oportunidade singular de provar algumas das dificuldades amargas suportadas por nossos companheiros humanos que fogem da violência dos cartéis de droga, da pobreza opressiva e da injustiça econômica na fronteira sul dos EUA.
No dia seguinte à palestra que dei na Paróquia St. Frances Cabrini, em Tucson, no Arizona, entrei em uma experiência de imersão começando com a equipe dos “Tucson Samaritans”.
O comentário é de Tony Magliano, jornalista e colunista de temas de justiça social e paz internacionalmente reconhecido, publicado por National Catholic Reporter, 29-03-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Estes “samaritanos” formam um grupo que regularmente faz patrulhas em área remotas do Deserto de Sonora ao sul do Arizona. Eles deixam jarras d’água ao longo do terreno, quente e acidentado, percorrido por crianças, mulheres e homens migrantes extremamente pobres que buscam um lugar seguro, decente para viver nos Estados Unidos.
Por haver relativamente poucos vistos legais emitidos anualmente pelo governo americano a trabalhadores sem grandes qualificações porém bastante necessários ao país, a massa trabalhadora de migrantes sem documentos é forçada a perigosamente atravessar o deserto na esperança de chegar a um local de trabalho neste país.
A minha jornada com os membros do grupo Tucson Samaritans me levou para perto da fronteira México-EUA.
Carregando mochilas cheias com suprimentos de primeiros socorros, água e barras de cereais, andamos quatro horas até as montanhas Las Guijas em busca de trilhas de migrantes inexploradas.
No topo de uma colina com 1.200 metros de altura, paramos para determinar por onde a nossa trilha continuaria.
Ao olhar em todas as direções a partir desse lugar, pude facilmente imaginar muitos dos perigos pelos quais eu passaria caso fosse um migrante: ficar sem água, sofrer de hipotermia, ter um ataque cardíaco, ser mordido por uma cascavel, cair debilitado, sentir-me desorientado e me perder.
No dia seguinte, precisamente no tribunal federal em Tucson, estive numa audiência de imigração com migrantes detidos, processados dentro do programa, também federal, chamado “Operation Streamline”, que processa casos com extrema rapidez, em grandes grupos, com somente um acesso breve à assessoria jurídica.
Nesse dia, 14 migrantes receberam condenações de prisão entre 30 e 180 dias, terminando em deportação.
No terceiro dia, juntamente com alguns voluntários da pastoral do imigrante, cruzei a fronteira até Nogales, no México, onde visitei a Iniciativa Kino Border, obra católica que fornece assistência humanitária essencial a crianças, mulheres e homens deportados.
Antes de sair de Nagoles, toquei “o muro” – barreira de aço com aproximadamente 7 metros de altura que impede a travessia para ambos os lados. Pareceu-me uma construção profana.
Mais de 2.500 migrantes já morreram tentando contornar o muro e atravessar o implacável Deserto de Sonora.
Por fim, participei no plantio de cruzes no deserto.
Cerca de 20 de nós viajaram para Cochise, no Arizona, onde plantamos uma cruz e rezamos por Ramon Contreras Ramos, de 36 anos, que pereceu na região tentando atravessar o deserto. Ramon era um pobre carpinteiro mexicano, tinha esposa e dois filhos pequenos.
Qualquer pessoa ou grupo que queira vivenciar uma experiência de imersão como esta, enriquecedora, conscientizadora, pode entrar em contato com o Pe. Bill Remmel via email: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Informações estão disponíveis para corrigir os inúmeros mitos em torno da questão imigratória nos EUA.
Precisa-se desesperadamente de uma reforma na lei de imigração, uma reforma justa, ampla e compassiva.
Enquanto percorríamos uma trilha pelo deserto feita por migrantes, um dos voluntários do grupo Tucson Samaritans alcançou-me um prendedor de cabeços quebrado, provavelmente de uma menina, objeto encontrado no caminho. Ele agora está disposto sobre a minha mesa. No momento em que escrevo este artigo, por vezes paro, vejo-o e o seguro em minhas mãos.
Desejo que a garota tenha conseguido realizar o seu objetivo.
E espero também que nos comprometamos em tornar-nos uma sociedade profundamente acolhedora a todos os necessitados; de forma que a minha nova amiguinha, e todos os migrantes em necessidade como ela, jamais sejam forçados a percorrer caminhos perigosos, injustos em busca de uma vida melhor.
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Andando nas pegadas dos migrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU